Na profissão desde os 14 anos, Jorge Dorneles relata histórias com leveza e humor, e compartilha as cobranças de turistas.
Receber bem o visitante é da profissão; passar o “turismo a limpo” é seu papel de cidadão. Guia de turismo em Foz do Iguaçu há quase cinco décadas, quando começou aos 14 anos de idade, Jorge Dorneles ouve, analisa e compartilha as queixas e observações de quem passa pela cidade, usando para isso as redes sociais.
Faz mais: recolhe as vivências com gente de todo o mundo que vem à cidade e as conta com leveza e bom humor. Para ajudar em suas narrativas, criou a Beleléu do Iguaçu, um território mítico em que camufla ficção e realidade. No programa Marco Zero, Jorge Dorneles lembra as histórias – e estórias? – destes quase 50 anos de atividade.
Assista à entrevista:
“Trazemos a visão do turista sobre a nossa cidade. Passo dias com eles, conversamos por horas e horas, então tenho a visão do visitante”, diz. “E nenhuma autoridade está comigo. Quem ouve sou eu. Então, eu divido essas informações com meus amigos nas redes sociais, tento expor os problemas”, prossegue.
Buracos, problemas de sinalização, infraestrutura e questões sociais, como pessoas nos semáforos pedindo ajuda, são situações relatadas e questionadas por turistas, segundo Jorge. Já convidei prefeito e secretário de Turismo de outras épocas para viajar juntos pela cidade, para verem o que nós sentimos. Não obtive respostas”, frisa.
Gaúcho de São Luiz Gonzaga, gremista “doente”, Jorge Dorneles veio para Foz do Iguaçu com a família na década de 1970. Começou a trabalhar no Hotel das Cataratas em 1974 e desde então segue no ramo. “Terminei de crescer dentro do hotel. Mas obtive muitas coisas, meu inglês me deu chance de dar faculdade para meus familiares”, exemplifica.
A profissão exige dedicação praticamente integral. “Não tem domingo, não tem Natal. Já trabalhei doente ou após morte de um parente próximo. Não abandonamos o turista, e esse é um dos princípios. Recebemos o turista, fazemos o passeio e seguimos com ele até o retorno”, narra.
Perspectivas do turismo
O guia de turismo avalia que o poder público não acompanha o desenvolvimento do setor. Aponta que a questão da segurança pública é um dos principais fatores que desestimulam o visitante a interagir mais com a cidade, diferentemente do que ocorre do outro lado do rio, em Puerto Iguazú, na Argentina.
“Da parte privada, há progresso no turismo. Mas o poder público estagnou total”, avalia. “A estrada é a mesma de quando chegamos a Foz nos anos de 1970. Imagina se der uma enchente e estragar a ponte do Rio Tamanduá? Há mais de 30 anos se fala na duplicação da Rodovia das Cataratas”, elenca.
Imagem fora do país
Questões ambientais prejudicam a imagem do Brasil em nível internacional, reflete Jorge Dorneles. Queimadas no Pantanal, desmatamento da floresta na Amazônia, poluição de rios e violência contra a população indígena têm “um impacto tremendo no turista estrangeiro”, sublinha.
“Nós não vamos ser perdoados pelo que está acontecendo”, completa o guia de turismo. “Tento mostrar que aqui tentamos cuidar bem do Parque Nacional do Iguaçu, que as Cataratas não são apenas água que cai, pois tudo o que está no entorno é importante. Porque nesse momento nossa imagem lá fora não é ruim, é péssima. Tento trazer o turista para o nosso lado”, conclui Jorge Dorneles.
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