Nem o Chile nem o Uruguai têm interesse que seus moradores vão gastar dinheiro com turismo na Argentina.
Na Argentina, não se fala em outra coisa: a paralisação do jogo entre a seleção do país e a do Brasil, feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.
Só pra lembrar, fiscais da Anvisa entraram em campo, já durante a partida, porque quatro jogadores argentinos vindos de Londres mentiram em sua declaração juramentada, afirmando que tinham cumprido a quarentena contra o coronavírus.
Polêmica futebolística com incursão em política interna e externa à parte, outro assunto que bomba são as eleições legislativas, marcadas para o próximo domingo,14. Governo e oposição jogam todas as fichas para garantir maioria no Congresso.
Mas sabe o que a imprensa nacional argentina publica nesta segunda sobre a reabertura de fronteiras com o Chile e o Uruguai, que seria hoje? Nada.
PUERTO IGUAZÚ
Em Puerto Iguazú, a mídia também está mais preocupada com eleições e outros temas do que com a volta do tráfego na Ponte Tancredo Neves.
Mas o portal El Indeendiente Iguazú reproduz notícia do site Economi que traz entrevista com o governador de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, que na sexta-feira esteve na cidade justamente para falar das eleições legislativas e pedir apoio aos candidatos da Frente Renovador.
Ele disse que, depois de envio do protocolo sanitário preparado pela província ao governo nacional, agora será encaminhadaoutra documentação, que é sobre o nível de cobertura de imunização de Puerto Iguazú, tanto de primeira como de segunda doses contra covid-19.
Mas não há sequer uma promessa ou previsão de quando a ponte poderá reabrir.
NO EXTERIOR
Mas, se pouco se fala na imprensa argentina, aqui e ali a gente toma conhecimento do que acontece.
O portal MercoPress, que cobre assuntos internacionais, mas com destaque as sócios do Mercosul, noticia: “Argentina se retrai e não abrirá travessia de fronteira com o Uruguai por questões sanitárias”.
O H2Foz informou isto no domingo, com base no jornal uruguaio El País.
Há outras razões, estas econômicas, como destaca o MercoPressm, O peso argentino desvalorizado poderia provocar uma “avalanche” de uruguaios no mercado argentino, principalmente daqueles que vivem nas áreas de fronteira.
Por isso mesmo – caso a abertura se concretizasse -, as autoridades uruguaias já tinham idealizado uma série de medidas para desestimular os tours de compras.
Entre as medidas estava incluída uma redução de 24% no preço do combustível nos postos uruguaios da fronteira. Mesmo assim, a gasolina argentina continuaria mais barato.
Em Rivera, separada do município argentino de Artigas apenas por uma rua, a diferença de preços seria neutralizada com a instalação de lojas livres de impostos em território uruguaio, exatamente como fez o governo brasileiro em Quaraí, na fronteira com a uruguaia Santa Ana.
NO CHILE
A situação é muito parecida no Chile, que reluta em abrir a fronteira com a Argentina por temer que a debandada de chilenos ao comércio argentino agrave ainda mais as sequelas deixadas pela pandemia.
Como se vê, há bem mais que questões sanitárias a impedir a liberação de fronteiras. A questão econômica tem peso no mínimo igual.
O motivo é que todos os países, sem exceção, sofreram com a pandemia, e agora não querem que o dinheiro saia e movimento o comércio dos vizinhos, pondo em risco até os empregos.
ARGENTINA ABUSOU
A Argentina tem muito interesse que os vizinhos movimentem seu turismo. Em especial o Brasil, que é o maior emissor.
Mas já gerou um problema: para diminuir o turismo de argentinos rumo à vizinhança, o governo argentino criou uma taxa de 30% sobre a compra de divisas, que também se aplica sobre os gastos com cartão de crédito no exterior e ainda sobre a compra de passagens e pacotes turísticos.
Ao mesmo tempo, a Argentina estuda subsidiar a passagem de brasileiros e outros vizinhos que pretendem passar pelo menos quatro dias em seus atrativos turísticos, depois que forem eliminadas as restrições de ingresso de turistas no país.
Óbvio que o Brasil não gostou. Em represália, o Ministério de Turismo do Brasil está estudando também a criação de um imposto de 30% sobre os gastos dos brasileiros que queiram viajar à Argentina.
O embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, já havia publicado em sua conta no Twitter que o turismo com o Brasil “será a retomada das viagens internacionais, com um potencial de 11 milhões de turistas brasileiros prontos para viajar”.
Mas, mesmo depois de se encontrar com o ministro de Turismo do Brasil, Gilson Machado, Scioli não fez qualquer menção à reclamação apresentada a ele pelo Ministério, em relação ao imposto que a Argentina quer cobrar dos compatriotas que viajam.
VAI SER DIFÍCIL
O Uruguai só pretende reabrir as fronteiras em novembro, embora tenha permitido acesso dos argentinos que tenham propriedades no país; o Chile não tem, por enquanto, plano de receber turistas.
A Argentina e o Brasil têm. Mas a Argentina quer apenas movimentar seus destinos turísticos, receber brasileiros e outros estrangeiros, e evitar que um mínimo de argentinos viaje.
Com essa mentalidade, o retorno do turismo à normalidade vai demorar muito pra virar realidade.
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