Veganismo e vegetarianismo: ainda há chão pela frente

É muito comum as pessoas, adeptas à carne, ficarem surpresas com o sabor dos pratos veganos ou vegetarianos.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Li aqui neste H2FOZ sobre o Arraiá Veg, que será realizado pela Sociedade Vegetariana Brasileira, no dia 20 de julho, na sede da AABB. Esse tipo de ação é essencial, inclusive, para lembrar à comunidade a importância da diversidade alimentar. A situação mais comum para uma pessoa vegetariana ou, principalmente, vegana, que está iniciando o processo, é sair para comer fora e ficar com fome. É muito difícil encontrar comida que não tenha produto animal. O evento promete mesa farta!


Há exceções, claro, e ainda bem. Mas é muito comum durante a ida a estabelecimentos de alimentação, no momento de fazer o prato, iniciar um trabalho de investigação para saber se há ou não produto de origem animal na comida. E sempre alguém diz: “É só separar, deixar de ladinho.”


Sou vegetariana desde criança, e isso tem boas décadas. E eu simplesmente não conhecia ninguém que tivesse esse tipo de dieta. Quando dizia que não comia carne, as pessoas se colocavam em dois grupos: as que queriam saber o motivo, e respeitavam minha decisão, e as que, sabendo o motivo, tentavam convencer-me do contrário. Havia, e há ainda, aquelas que diziam e dizem amar os animais, mas não conseguir viver sem a carne.

No começo, achava até interessante ser o centro das atenções, quando ia aos lugares e as pessoas ficavam sabendo que eu não comia carne e queriam saber o motivo. Com o tempo, fui cansando de dar explicações. Criei uma tática: quando percebia que me perguntavam apenas para tentar convencer-me do contrário, eu dizia que não comia porque tinha alergia. E a conversa encerrava por aí.


Era muito comum médicos darem verdadeiros sermões, porque minha mãe me levava ao médico com a preocupação de que eu era magra, questionando como uma criança que tinha condições de comer carne recusava o alimento. Sendo que havia tantas outras que não comiam porque não tinham acesso. Eles não eram capazes de entender que eu não tinha mais coragem de comer, e ponto final. Eu comia normalmente até os 9 anos. Mas minha família começou a criar frangos de granja, e demos nomes a eles, e tratávamos como animais de estimação. E quando chegou a hora de abater, aos domingos, era um berreiro, uma tristeza sem fim.

Na verdade, as pessoas que dizem ser reféns da carne não vivem sem a carne preparada. Comem a carne porque ela está pronta para o consumo, bastando temperar e ir para o fogo. Somente em situações muito rudimentares e em culturas típicas o animal é consumido em seu estado natural. Ou em casos extremos, em que a luta pela sobrevivência exige. Como no caso dos sobreviventes do acidente aéreo nos Andes, em 1972, que virou até filme, quando praticaram canibalismo. Porque se fosse para matar o animal, uma boa parcela da população desistiria. Como disse Paul McCartney: se os matadouros tivessem paredes de vidro, as pessoas seriam vegetarianas.


Há uma explicação sobre o modo como nos alimentamos de certos animais, repelimos alguns e protegemos outros. É o nível de distância que nos diz qual deles será nosso alimento, pois não pode ser algo que nos cause repulsa, como na nossa cultura em que soa estranho comer minhoca; e também não pode haver uma distância muito curta, com a qual estabeleçamos um vínculo afetivo, no caso de um gato ou cachorro. Assim, uma vaca, um boi, um porco… ficam nessa ‘distância ótima’. Apesar de muitos desses animais serem adotados também como bichos de estimação. Gandhi dizia que bastava olharmos para os olhos de uma vaca para não termos coragem de matá-la. Não sei. Gandhi botou muita fé na alma humana, pois nos deparamos com tantas atrocidades…

Atualmente, o modismo abriu portas para o vegetarianismo e veganismo. Muitos artistas adotaram as dietas, seja por sentimento de dó aos animais, questões de saúde ou estética mesmo. E isso é bom, afinal muita gente entra na onda e acaba adotando o estilo de vida, aprofundando-se nos conceitos e realmente praticando uma nova filosofia de vida.


A indústria alimentícia está atentando-se a esse filão de mercado, e há produtos excelentes feitos totalmente à base de plantas. E mais uma vez, assim como na carne natural, o que muda é o fato de o alimento estar pronto para ir ao fogo e já estar até temperado! Há marcas com temperos excelentes, como os da linha Incrível! Não, isso não é um publieditorial. É que, das diversas marcas que conheci recentemente, essa eu considero a melhor.

Mas há um detalhe: os produtos ainda são caros. Ainda é caro ser vegetariano, ser vegano. Caro no sentido da dificuldade de encontrar alimentos que não estejam misturados. E caro no sentido financeiro também. E a lei do mercado explica muito bem isso: os produtos veganos ficam em um cantinho, em talvez 0,000000001% dos centros atacadistas ou dos freezers. A indústria ainda está engatinhando, começando a lançar suas fichas rumo a um público que vem crescendo nas estatísticas. Os animais agradecem.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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