Stock Car atropela o meio ambiente

As leis ambientais são só mais um estorvo no meio do caminho, desta vez, de carros da Stock Car.

Aida Franco de Lima – ARTIGO

A disparidade dos problemas que assolam os mais variados cantos do Planeta, é gigante. De um lado guerras, com povos famintos e sem medicamentos. De outro, pessoas morrendo por conta de enchentes ou pela seca. Uns lutando por vidas humanas, outros, sofrendo de mãos atadas, sem poder fazer aquilo que desejariam pelos animais. Mosquitos tocando terror, em virtude do lixo e desmatamento. E no meio disso, o BH Stock Festival. 

Ocorre que a prefeitura de Belo Horizonte, de olho no dinheiro que um evento de corridas de Stock Car possa gerar, fez um convênio com a empresa que organiza as competições. Assim, por cinco anos consecutivos, o entorno do Mineirão vai ser transformado em pista de corrida.

Para tanto, algumas adaptações foram necessárias, como por exemplo cortar dezenas de árvores adultas. Cujo replantio, ao final do contrato, não terá de forma alguma alcançado o estágio daquelas que foram devastadas. Porque a natureza, não costuma ser tão veloz quanto um carro ou os danos cometidos em nome do dinheiro.

Como se fosse uma terra de ninguém, aquela prefeitura não trouxe um bom horizonte para os habitante da região. Sejam eles racionais ou não.

Para montar a estrutura do evento, que ocorrerá entre os dias 15 a 18 de agosto, além do corte de árvores, vias importantes do entorno precisarão de interdição por quinze dias, para montar e desmontar o ‘palco’. E o ruído irá impactar toda a sociedade do entorno e os animais atendidos pelo hospital veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais, que fica nas proximidades. Como saldo, teremos mais ilhas de calor, com a ausência do verde.

Os ingressos começaram a ser vendidos, nos valores de R$30,00 a R$1.500,00. Mas crianças, até 12 anos poderão entrar através da doação de um kg de alimento não-perecível, entre os dias 15 e 16. Assim sendo, é como se tudo estivesse dentro dos conformes, tem até gesto do solidariedade.

Esse tipo de atitude, em que a devastação, o impacto ambiental é justificado por uma espécie de medida compensatória é uma prática muito comum das prefeituras de todo o Brasil. De olho em lucro fácil, em fazer média com parte do eleitorado, um lado da sociedade arca com as consequências.

Em 1969, no Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa – PR, inventaram de construir uma pista de kart. Com a maior parte das pistas planas, em Vila Velha o diferencial era o ondulado do terreno. Corredores do Brasil todo iam ao local, cujo atrativo era a pista e não a taça. Em1990, em respeito às leis de uma Unidade de Conservação, a pista foi fechada. O barulho infernal dos motores, ecoavam por todo o local e afugentava a fauna nativa.

Observe como as áreas verdes são destruídas para dar lugar a vias ou prédios. Raramente presenciamos o contrário, quando o poder publico compra imóveis para plantar florestas. Não estamos mais em 1969, estamos em pleno ano de 2024. Por mais que todo mundo saiba da necessidade de preservar o meio ambiente, a prática de fato está longe de acontecer.

A força do dinheiro, a pressão e lobby político são intensamente maiores que os grupos que tentam defender o que resta de áreas verdes pelas cidades. Essa corrida em Belo Horizonte é uma prova de que o meio empresarial, com raras exceções, não vestiu a camisa do marketing verde, apenas usa para passar pano no chão!

Quem participa desta modalidade não é o cidadão ‘pé rapado’. Aquele que andava descalço pela lama da zona rural e precisava raspar os pés para limpá-los antes de adentrar a determinados ambientes. Os integrantes da Stock Car são empresários endinheirados, alguns famosos que, espera-se, tenham uma cultura que não se restringe somente ao universo das quatro rodas. Mas pelo visto não importa que o palco seja montado em área imprópria. O que manda é que a pista seja veloz. O espetáculo não pode parar!

Na verdade se trata sim de um grande teatro, em que quem assiste fica feliz, assim como os competidores, e a prefeitura se sente satisfeita pelo faturamento. E o restante da população usa nariz de palhaço.

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