Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Os graves problemas ocorridos nos munícipios brasileiros, decorrentes das mudanças climáticas, foi tema de debate, por parte da Confederação Nacional de Municípios (CNM), no último dia 22, durante a Marcha dos Prefeitos à Brasília, um evento que ocorre anualmente. A ideia, é criar um consórcio para auxiliar os municípios em relação ao enfrentamento destes problemas. De acordo com a entidade, dos 3,5 mil municípios pesquisados, somente dois a cada dez se dizem aptos a enfrentar eventos climáticos extremos.
Mas enquanto isso não acontece, o que é que os prefeitos estão aprendendo com o que está havendo no Rio Grande do Sul? O que é que as Câmaras dos Vereadores estão discutindo, diante de tudo o que estamos presenciando? Na sua cidade, houve alguma medida efetiva? Algum trabalho para ações de curto, médio e longo prazo? Eu não tenho visto nada!
A impressão que tenho é que os gestores estão achando que isso que a mídia e as redes sociais estão mostrando, é coisa que não vai chegar até suas cidades. Como se não lhes afetassem. Como se fosse apenas responsabilidade do governo federal ou estadual. E claro que também é, mas não só deles. É de todos. E cada um tem que cuidar do seu próprio quintal. E não é isso que tem ocorrido.
O que temos vistos são as nossas cidades leiloadas, fatiadas. Nossas legislações que regulamentam a ocupação do solo, indo para os ares.
Não precisa ir muito longe para notar a quantidade de irregularidades que as cidades apresentam, sob o nariz de prefeitos, vereadores e secretários e eles nada fazem!
O inverno está se aproximando. Qual é o plano para atender as famílias, os animais, diante de uma queda brusca de temperatura? E se de uma hora para a outra houver a necessidade de deslocar bairros, cidades inteiras? Precisa morrer alguém nas ruas para oferecer abrigo improvisado do dia para a noite?
Os prefeitos, os secretários, eles, normalmente, não escutam as necessidades da população. Primeiro que secretário só faz o que prefeito manda, porque é cargo de confiança. Ele não vai tomar nenhuma medida para arriscar seu cargo. Prefeito normalmente é cercado por bajuladores, entre eles os próprios secretários e assessores, que omitem as críticas e reais necessidades da população. Assim, os gestores vivem em bolhas, distantes da realidade cotidiana do cidadão comum.
Era momento de as câmeras de vereadores discutirem o reforço e fiscalização da legislação ambiental, mas na prática, estão mais preocupados em afrouxar as regras e buscar votos para a reeleição. Os prefeitos, estão na mesma onda, querem mostrar que as cidades são canteiro de obras, mesmo ao custo da impermeabilização dos espaços que servem para drenar a água.
Todos os dias, nas mídias, nas rede sociais, vimos o aumento dos números dos refugiados climáticos. E é como este cenário fosse algo distante de nossa realidade, tão longe que não merecesse uma ação efetiva.
Na base de tudo está o Plano Diretor das cidades, que na maior parte dos casos, vereadores, prefeitos e comunidade desconhecem. É muito comum que quando há um rio que passe por uma área que virou residencial, o anúncio de que o mesmo será canalizado seja muito comemorado. Mas o correto é algo que soa impensável: retirar a população do entorno para dar lugar à mata ciliar.
Para os gestores, para a comunidade em geral e loteadores, isso é um desperdício. Quanto mais área livre, maior o convite à exploração. E assim a cidade cresce para onde não devia ser. As cidades expandem sem limites, e os problemas chegam na mesma proporção.
O problema do aumento dos veículos nas cidades, algo que não é contido com a melhoria do transporte público de qualidade, é enfrentado com a abertura de vias e estacionamentos. Praticamente não se fala em rodízio, carona solidária, meio de transporte alternativo. De outro modo, aumentam também os índices de acidentes e a solução é encontrada na tal ‘indústria’ da multa. Radares espalhados pelas cidades, na expectativa de educar um público que acelera enquanto joga o lixo pela janela.
Os gestores, os eleitores, precisam acordar. Não há mais o que esperar. Agora é mitigar os danos. E escutar o que a Ciência alerta.
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