Programados para o descarte

A ausência de peças para reposição ou alto custo do conserto, incentiva o descarte rápido.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Você se lembra de quando os nossos pais ou avós compravam objetos para casa e estes duravam décadas e mais décadas? Um sofá era adquirido para que as pessoas se sentassem e assistissem televisão, recebessem as visitas, dormissem. E ele ficaria por anos lá na sala. Só era trocado quando realmente havia necessidade. E o mesmo acontecia com outros objetos, maiores ou menores, como os eletrodomésticos. Os produtos realmente eram feitos para durar.

Muito diferente de agora, em que os objetos saem de fábrica já com data para o descarte. Isso tem nome, obsolescência. E sobrenomes, pois pode ser programada ou percebida.

Você conhece a obsolescência programada quando um eletrônico, por exemplo, com ótimo aspecto, ‘do nada’, deixa de funcionar. Uma máquina fotográfica, pode estar em perfeitas condições, mas dependendo da quantidade de ‘cliques’, seus dias estão contados.

Com a obsolescência percebida, o objeto ainda poderia ser usado, mas diante do que há em seu redor, ele parece fora da moda. Como quando nos sentimos condicionados a trocar de celular, eletrodoméstico ou o que for, mesmo que estes itens funcionem. Mas por conta de sua aparência, que diante dos novos lançamentos, os deixam antiquados.

E isso atinge de modo direto os jovens, que influenciados pela vida em tribo, não querem ficar diferentes de seus pares. Se não houver uma diálogo em família, é um ciclo contínuo de compra e descarte. Que se não faz diferença para quem tem muito dinheiro, faz sim para nossa única moradia, a Terra. Mas não só os jovens, a nós todos. Afinal, uma boa parcela da sociedade quer estar na moda.

Isso tudo, esse consumismo desenfreado é um caos para nossa existência. Porque além da necessidade contínua de buscar matéria-prima, todo esse material transformado em lixo, muitas vezes é descartado inadequadamente.

Até há algumas décadas, mais precisamente antes da Revolução Industrial, os produtos eram adquiridos por conta de sua funcionalidade, para resolverem um problema. Não porque apareceram na mídia ou porque viraram símbolo de ostentação. Quer um exemplo? Carros utilitários, com carrocerias, que sempre foram destinados ao meio meio rural ou para quem trabalha com transportes. De uns anos para cá, migraram para o cenário urbano. Nem sempre a carroceria carrega algo além do status de ter um carro caro.

Uma boa parcela dos objetos não compensa ir para o conserto, porque muitas vezes o orçamento aponta que é mais em conta comprar um produto novo! Essa experiência é cada vez mais corriqueira. O aparelho de televisão é um desses, que quando aparece uma manchinha na tela, é sinal de que o seu destino será o lixo, eletrônico com muita sorte.

E até onde vai isso tudo? Até quando a natureza vai dar conta de ser sugada e explorada? Não parece haver uma preocupação verdadeira, além do marketing verde, de parte das indústrias em buscar outros mecanismos de lucro, que não seja na substituição, o mais breve possível, daquilo que ela oferece ao consumidor.

Na letra da música Chopis Centis, dos Mamonas Assassinas, em um trecho eles dizem que ‘a minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia.’ E isso resume bem o que é essa dinâmica social em que o consumo é promessa de alegria.

Não bastasse esse descarte precoce, outro problema não assumido pela indústria é a logística reversa, que é justamente dar um destino correto ao resto daquilo que ela gerou. Um exemplo está nas ruas de Foz do Iguaçu, como já foi noticiado inúmeras vezes. Se houvesse incentivo fiscal, financeiro e fiscalização, não teríamos essa quantidade de resíduos disputando espaço com a população.

Nas ruas é possível encontrar de tudo e seria bom se encontrássemos também, gestores que passassem a pensar neste grande problema que não diz respeito somente às futuras gerações, mas às atuais também. Afinal, como bem sabemos, o lixo ou resíduos em locais inadequados acaba se transformando em estopim para inúmeros problemas sanitários.

Uma boa prova de que ainda não aprendemos nada ou quase nada a respeito, são os números em relação aos casos de dengue. Basta chegar o inverno que parece que há uma acomodação, porque os índices de contaminação caem. Por conta da temperatura, pois o lixo, ele continua presente onde não deveria estar e cada vez aumentando em volume e áreas onde jamais deveria estar.

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