Praça das Aroeiras e a escola muito ‘engraçada’

Administração que apaga a luz, conseguiu deixar a comunidade sem escola e sem praça.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Há uma frase que todo filho já deve ter escutado alguma vez, principalmente das mães: “Eu avisei!” E sim. Nós avisamos! O dano ambiental provocado na Praça das Aroeiras foi desnecessário e inconsequente! Na ânsia de querer mostrar serviço para uma ala da comunidade de Foz do Iguaçu que tem familiares matriculados na Escola Municipal Lúcia Marlene Pena Nieradka, na Vila Yolanda, e lá estudam há mais de 20 anos sob a arquibancada do estádio pertencente ao Flamengo Esporte Clube, o Flamenguinho, a atual gestão resolveu devastar uma área verde para dar lugar a uma suposta escola.

Resultado, nem escola, nem praça, só a falta de compromisso com a educação e o meio ambiente. A construtora que ganhou a licitação abandonou a obra! E agora, além de a Praça das Aroeiras existir somente na memória de quem a valorizava, a comunidade está sob risco iminente de ficar também sem a escola improvisada. Mas de nada adiantou todos os argumentos levantados. Agora, com o apagar das luzes de uma gestão que conseguiu perder o pódio mesmo estando com toda a força da máquina administrativa, está aí a consequência.

Essa é a saga ou, quem sabe, a série de capítulos ilimitados que tem como personagem principal a escola Flamengo Esporte Clube, o Flamenguinho. Para funcionar sob a arquibancada do estádio particular, a prefeitura de Foz deveria ter dado uma contrapartida, que seria construir cinco metros de arquibancadas no estádio. O compromisso foi firmado em 11 de maio de 1999, e o prazo encerrou em 11 de maio de 2004.

Se a gestão atual, nem as anteriores, não construiu a arquibancada e muito menos a sede própria em duas décadas, vai fazer em dois meses? Papai Noel vai trazer um desses presentes pela chaminé? Vale lembrar que o atual prefeito não cumpriu sua promessa que era honrar o compromisso de fazer a escola para atender à demanda da comunidade, escolhida como prioridade via orçamento participativo.

A palavra provisória significa algo temporário, em virtude de pouco tempo, só o suficiente para rearranjar determinada situação e as coisas voltarem aos eixos. Mas em Foz do Iguaçu ela ganhou outra conotação. Afinal, como uma escola pode funcionar provisoriamente embaixo de uma arquibancada de estádio de futebol por duas décadas? Quanto dinheiro público foi pelo ralo, em investimentos voláteis, e essa escola foi esquecida?

Já escrevi inúmeras vezes a respeito, deixando clara a importância de ambos, tanto a escola como a praça. Ocorre que cada uma delas deveria estar no seu quadrado. Só mesmo mentes pequenas são capazes de não compreender o quão valiosa é uma área arborizada para a qualidade de vida dos moradores e opção de lazer para as crianças quando essas não estão entre muros fechados e pisos impermeabilizados de uma escola.

A sede da escola poderia ter sido construída em qualquer outro lugar. Diferentemente das árvores da praça, que não brotam de uma hora para outra, na mesma velocidade como a qual foram destruídas. Se realmente houvesse respeito pela causa ambiental e educacional, este texto não teria razão para existir. Se o interesse em construir uma sede própria para a escola fosse uma prioridade e existisse respeito ao patrimônio natural, teríamos uma escola construída a toque de caixa, assim como foi para derrubar a praça.

Não há o que argumentar. As fotos comprovam o estrago realizado. E mesmo que no futuro no local haja de fato uma escola, as crianças e a comunidade como um todo já perderam aquilo que poderia ser a extensão de seus quintais. Talvez a gestão atual tenha apostado muitas fichas nas obras da escola em busca de votos. Mas talvez tenha se esquecido de dimensionar o peso dos votos dos eleitores que discordam do trato dispensado à temática ambiental.

A área que antes era toda tomada de verde, foi transformada em um grande clarão de terra batida. Sem vida. Foto: Marcos Labanca

A próxima gestão deveria considerar comprar terrenos no entorno, derrubar obras de alvenaria se for o caso e construir a sede da escola. E paralelamente convidar a comunidade a rearborizar a área verde que hoje virou chão de terra batida. Seria uma ação visionária. Porém confesso que não acredito que isso aconteça. É um pensamento muito avançado para a cultura local.

  • Se uma escola funciona tanto tempo assim embaixo de uma arquibancada, não haveria um profissional capacitado para elaborar um projeto que pudesse ser desenvolvido verticalmente, em um prédio, que prezasse pela segurança e acessibilidade? 

A impressão é a de que o intuito era derrubar as árvores para mostrar serviço com os olhos compridos em torno das urnas. Então veio a contratação que colocou os tapumes e ficou tudo por isso mesmo. Gostaria de ver os mesmos pais que ocuparam a praça toda verde e cheia de vida para defender sua derrubada, acatando que esse era o único local para sediar a escola, agora no meio do barro colhendo o que semearam: uma terra arrasada. Isso me lembrou de uma paródia de Vinicius de Moraes: “Era uma escola muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…”

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