Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Abri o Instagram e lá estava o “iniciativacamposgerais”, de Ponta Grossa, em uma ação de combate ao pinus, uma espécie exótica invasora que é mais uma das fortes ameaças à biodiversidade dos Campos Gerais. A imagem me remeteu ao início do ano 2000, quando escutei o termo pela primeira vez, através da pesquisadora Silvia Renate Ziller, do Instituto Hórus, referência na área. Ela havia me procurado para que junto com o Grupo Ecológico dos Campos Gerais, da cidade de Ponta Grossa, Paraná, iniciássemos o combate à espécie invasora.
Naquela época, assim como hoje, muita gente não compreendia como é que defensores do meio ambiente saiam anelando e cortando árvores. Anelar, é a técnica de cortar a casca da árvore, formando um anel no entorno do tronco, impedindo que a seiva circule e alimente a planta, provocando sua morte. Parece cruel e é. Mas mais cruel ainda é quando estas tomam contam das áreas que antes eram de nativas.
Claro que o pinus tem papel essencial na indústria da celulose, entre outras, até porque se não fosse o monocultivo em escala, de onde iriam brotar espécies para abastecer com matéria prima essa indústria? Não fossem as grandes áreas usadas para seu cultivo, onde reina absolutamente, há o problema de essa espécie avançar rumo à áreas de preservação. Como por exemplo o Parque Estadual de Vila Velha ou o Canyon do Guartelá, alguns dos locais infestados pelo pinheiro americano.
Lá pelo ano 2000 essas foram as regiões escolhidas, dos Campos Gerais, para fazermos os primeiros anelamentos. Isso significa que o trabalho que hoje os voluntários realizam, que exige muitos cuidados com o manejo e segurança dos envolvidos, estaria ainda pior se lá atrás essa boa semente, a semente do conservacionismo, não tivesse sido semeada.
De acordo com o post do grupo, “no Parque Estadual de Vila Velha, no Paraná, os voluntários da Iniciativa Campos Gerais estão trabalhando em colaboração com o pessoal do IAT/ERPGO e com apoio da concessionária Soul e outros parceiros, no enfrentamento do problema da invasão de pinus nos campos naturais da unidade – um dos últimos fragmentos desse tipo de vegetação típica do sul do Brasil que ainda restam no Paraná.”
Uma espécie exótica é relativa àquela que veio de fora e adapta-se em um ambiente. Exótica invasora é igual aquela pessoa folgada que não foi convidada pra viagem, entra e ainda pega a janelinha. Aquele ser espaçoso que vai tomando conta de tudo! Com o pinus é assim, ele se adaptou muito bem no Sul do Brasil, região mais fria. Gostou do solo, não encontrou competidores, se instalou e começou a sua reprodução que foi de vento em popa, literalmente. Acontece que suas sementes se espalham com as correntes de ar e isso faz com que elas cresçam nos pontos mais inusitados, inclusive em cima dos arenitos de Vila Velha ou nos paredões do Guartelá. Ao competir com a vegetação nativa, interferindo inclusive no ciclo da água, o pinus condena também a fauna.
De acordo com o post, “o controle de pinus em Vila Velha está sendo coordenado pela chefia da Unidade e exige muito cuidado por parte das equipes de trabalho (além de preparo técnico e físico), envolvendo alguns riscos pessoais inerentes à atividades em espaços naturais remotos – até porque muitos locais infestados de pinus encontram-se em áreas bastante acidentadas e de difícil acesso etc.” Deste modo, a participação de experientes escaladores profissionais, que atuam nos Campos Gerais é essencial para atingir as áreas de mais difícil acesso onde o pinus se aloja.
Esse trabalho de formiguinha, de combater uma espécie que veio de fora e ameaça um ecossistema local é muito louvável. Porém, não devemos deixar de lado a responsabilidade de quem lucra com o pinus e transfere a dívida para a sociedade. E precisamos falar de muitas outras espécies, como o caramujo africano, o mexilhão dourado ou a carpa, entre outros…
Um criador de gado, cerca suas áreas e quando um deles escapa, corre atrás do seu investimento. Mas no caso do pinus, onde estão os grupos de investidores monitorando quando as sementes voam para longe da área de cultivo? O controle da dispersão das sementes deve ser de responsabilidade daqueles que exploram economicamente a espécie e estes devem ser cobrados pelos impactos negativos do pinus nas áreas de entorno. Afinal, a fruta não cai longe do pé.
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