Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Os bueiros de uma cidade dizem mais sobre ela que os jardins com flores coloridas, substituídas tão logo perdem as cores. Os jardins, aqueles com boca-de-leão, beijinho ou outras flores que ficam bonitas nas fotografias das redes sociais, são efêmeros. Descartáveis. Como nosso dinheiro. Se esse valor fosse investido em sustentabilidade, teríamos outras paisagens.
Você já olhou o bueiro ou boca de lobo de sua rua, lá do ponto de ônibus ou de perto da vaga que você sempre estaciona? Se não observou, comece. Caso não tenha uma grade em sua entrada, é enorme a probabilidade de ter sido transformado em uma lixeira.
Quem é que vai tirar foto perto de boca de lobo para postar nas redes sociais? Eu, particularmente penso que uma boa parte dos gestores só consegue lembrar de um bueiro quando alguém reclama por conta de algum alagamento. Muitos administradores públicos parecem administrar mesmo para as redes sociais. Aquilo que fica bem na foto.
É mais fácil terceirizar o paisagismo de uma cidade, realizar uma licitação e contratar uma empresa que a cada três meses troca as plantas que morreram, por outras mudinhas. De outro modo, é muito raro perceber um órgão público, um gestor, realmente preocupado com a sustentabilidade, com o impacto da vida urbana sobre o meio ambiente. Desconhecem ou ignoram que os resíduos líquidos que entram nos bueiros desaguam no mar.
As pesquisas, e a realidade, mostram que os eventos climáticos estarão cada vez mais intensos. E, ainda assim, são raras as medidas que os municípios, principalmente, estão tomando para ao menos impedir que os desastres aumentem. É como se o problema não fosse com a gente.
São raras as políticas e ações sérias com relação ao meio ambiente. É como se as cidades, como partes, não completassem o todo. Além das medidas baseadas em orientações médicas como evitar exposição ao sol e promover a hidratação, não vejo os tomadores de decisões locais, como prefeitos e secretariado ou vereadores, os mais próximos fisicamente dos eleitores, buscando ações em curto, médio ou longo prazo.
A boca de lobo reflete o cuidado com a cidade, porque nem todas as ações de melhorias significativas são visíveis. Não parecem gerar muito engajamento. Como por exemplo a rede de esgoto. Não se percebe muito esforço em levar saneamento às comunidades. De acordo com a Fiocruz, “em relação a coleta de esgoto, 97,96% da população nos 20 melhores municípios têm acesso ao serviço enquanto 29,25% da população nos 20 piores municípios são assistidos.”
Rede de esgoto parece um presente de grego, porque a conta de água fica 80% mais cara. Sem uma cultura de cuidado ambiental que deveria vir das autoridades, por qual motivo o cidadão comum vai lutar por rede de esgoto, para ter ainda mais despesa? Quem vai mexer nesse vespeiro? As bocas de leões, são mais práticas. Além do mais, vale lembrar que há uma diferença sutil entre cuidar de um jardim e substituir as plantas com periodicidade…
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