Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Na última semana muita gente viu as cenas do desabamento de um imóvel de alto padrão, na encosta do Vale do Quilombo, em Gramado, RS. Não houve vítimas porque o local já havia sido desocupado. O anúncio de venda dos apartamentos é clássico:
“O Condado Ana Carolina é um Empreendimento único em Gramado. Aqui você encontrará a melhor tradução da cidade. Todas as atrações do centro de Gramado estão a cinco minutos do condado Ana Carolina, fazendo da sua localização privilegiada, uma oferta rara. No Condado Ana Carolina você terá as melhores conveniências do centro da cidade com toda a tranquilidade do Vale do Quilombo uma das vistas mais lindas da serra. Além disso os amplos apartamentos do condado Ana Carolina reservam para você o charme, o conforto e o alto padrão dos acabamentos, bem ao estilo europeu. Visite o Condado Ana Carolina e comece já a usufruir do que Gramado tem de melhor.”
Mas o fato é que o condomínio desabou e estava interditado desde 2020. Isso significa, entre outros apontamentos, de que não foram as últimas chuvaradas que provocaram as avarias na estrutura do imóvel.
O anúncio de venda de apartamento que pertencia ao Condado Ana Carolina é o mais característico desse tipo de empreendimento imobiliário que vende um condomínio com o privilégio da vida em meio à áreas verdes, aliado às comodidades da vida urbana. Troque os nome do residencial e da localidade, por qualquer outro empreendimento do gênero. É tudo a mesma coisa!
Em Cianorte, Paraná, há algumas décadas, foi anunciado um condomínio dentro do que hoje é o Cinturão Verde de Cianorte, uma Unidade de Conservação. Na época o anúncio dizia que era o ‘estilo americano de morar’. Não faz muito tempo, para dar acesso a um construção de luxo, uma estradinha de terra que cortava o Parque, e que teve recomendação do Ministério Público para ser fechada, para que a mata se reconstituísse, foi transformada em avenida!
Casas de luxo construídas irregularmente em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná estão na mira do Ministério Público. Diferente das casas dos caiçaras, funcionais, as mansões impactam o ambiente e destoam da paisagem. Estão lá, não por necessidade, mas por ostentação.
Se ainda não reparou, comece. Observe os anúncios na internet de locais paradisíacos, em que mansões, hotéis, resorts, lhe convidam para uma imersão junto à natureza. Boa parte deles, pode ter sido construído quando pouco ou quase nada se falava em impacto ambiental. E hoje, destruí-los, causaria ainda mais danos.
Pense, por exemplo, no elevador da Furna dos Andorinhões do Parque Estadual de Vila Velha. Imagina, hoje, retirar a estrutura de lá? Desativado, é melhor deixar quieto! Mas a outra parcela dos empreendimentos, salvo raras exceções, foi construída com base na ideia de que a lei não é para todos. Que o dinheiro e poder está acima dos limite que tentam proteger o meio ambiente.
Câmeras de segurança instaladas nos trajetos de avenidas que cortam áreas verdes são, também, para limpar as marcas de animais mortos. Desse modo, apaga-se também, o impacto que os veículos significam na região e não dá margem para ambientalista fazer barulho, pois é assim que se referem em relação aos mesmos.
Empreendimentos imobiliários em meio à áreas verdes, vendem a ideia de harmonia, de sintonia do morador com a natureza. Rende ambientes ‘instagramáveis’, com cenários perfeitos para ostentar nas redes sociais. Até o dia que a casa cai, literalmente.
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