O Pantanal e o ‘menino’ veneno

Pecuarista tentou matar parte do Pantanal com veneno usado na guerra do Vietnã.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Não fossem a seca e os incêndios que ameaçam o Pantanal, além do desmatamento para dar lugar à pastagens, recentemente veio à tona a denúncia de que uma parte do bioma foi alvo de toneladas de agrotóxicos lançados por via aérea. Matar a floresta com agente químico engana os satélites, que costumam detectar os desmates feitos diretamente no solo, com trator.

O fazendeiro Claudecy Oliveira Lemes, 52, usou uma espécie de coquetel de venenos, inclusive a substância 2,4-D, presente no desfolhante químico Agente Laranja, para destruir 80 mil hectares do Pantanal. A área é do tamanho da cidade de Campinas – SP, com população de 1.139.047 pessoas. Isso tudo é informação muito assustadora e reveladora.

Assustadora por nos levar a indagar a respeito das origens de propriedade particular de tal tamanho. Reveladora por nos fazer pensar que a ganância pelo dinheiro não tem limite e que realmente há quem pense que a morte da natureza implica na sua vida eterna. Porque a pessoa que comete tal crime deve pensar mesmo que vai viver pra semente, na mesma terra envenenada que cultiva. Ele tem 11 fazendas no Pantanal, usadas para criação de gado.

Por três anos o dito cujo gastou 25 milhões na compra de veneno para jogar do alto de aviões e matar a vegetação. Foram 25 tipos de agrotóxicos diferentes. Entre eles o Agente Laranja que era usado na Guerra do Vietnã para desfolhar as árvores e ajudar na matança dos vietcongues. Câncer, má formação física e mental são alguns de seus efeitos a longo prazo.

Sua meta era matar todas as árvores de porte grande, para privilegiar a pastagem. Ele tem milhares de animais. Em seu currículo, existem 15 autuações por danos ambientais, contabilizados desde 2019 entre elas desvio de curso de rio.

Seus crimes ambientais contabilizam em torno de 5 bilhões de reais entre multas e custos de recuperação de áreas degradadas. Toneladas de sementes de pastagem e de embalagens de agrotóxicos foram encontradas em suas propriedades. Ele realmente se acha dono das águas, do céu, dos animais, da terra, de toda a vida que ele tentou matar, para lucrar criando gado.

Importante lembrar, que além de tudo, toda essa quantidade de veneno vai para além dos limites das terras do fazendeiro e coloca em risco a biodiversidade de modo geral, incluindo as pessoas que vivem na região. A polícia quer responsabilizar também o piloto do avião e o agrônomo que liberou os venenos.

Este é um caso que foi noticiado pelo Fantástico e a mídia tem reverberado pelas cifras astronômicas de valores, tamanhos, proporções, danos. E podemos imaginar que este não seja o único episódio no Brasil. Há muitos outros empresários, fazendeiros, acreditando mesmo que o fato de terem as escrituras de terras, detenham o direito de matar a biodiversidade que chegou muito antes que qualquer pedaço de papel.

Segundo a promotora de Justiça Ana Luiza Peterlini, o problema não está no valor das multas, mas em parar o pecuarista. E é assim, muitos apostam na morosidade da Justiça, apostam mesmo em sua cegueira no sentido de fechar os olhos para os grandes crimes, porque estes são cercados por muito dinheiro e os melhores advogados.

Vale lembrar que Lemes não é pioneiro na técnica, basta procurar no Google para encontrar reportagens de há mais de dez anos, sobre o uso do coquetel de veneno na Amazônia, com a mesma finalidade, matar a vegetação nativa para cultivar pasto. Para muitos empresários que envenenam os demais biomas, assim como o Pantanal ou a árvore na esquina, que esconde a fachada, o crime compensa!

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