Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Hoje em dia, falar de animais de estimação é referir-se a uma legião de pessoa apaixonadas, que movimentam a economia e elegem políticos que se aninham em cima desta bandeira. Mas até que ponto estão sendo de fato construídas políticas públicas e não apenas uma perfumaria em torno de um assunto tão sensível?
A um ano das eleições, os políticos se coçam para mostrar serviço e continuar abocanhando os votos do eleitorado que elevou o papel dos animais, principalmente os de estimação, como os mais populares, cães e gatos.
Mas olhe para a sua cidade. O que mudou da última eleição para cá? Foi implantado algum trabalho que preveja a castração, a chipagem, a guarda responsável, a fiscalização, em torno da questão animal? Se sim, são ações condizentes com a demanda, ou algo apenas para inglês ver? Ou são somente algumas atividades esporádicas, que aparecem bastante na mídia e pouco no cotidiano ?
Quem é jovenzinho talvez não saiba, mas toda essa popularização dos nossos vira-latas, que agora viraram ‘pet’, não ocorreu de uma hora para a outra. E isso significa, então, que o processo para formulação de políticas públicas para os mesmos, também é muito recente.
Ainda nos anos 90 a carrocinha era método adotado para controlar a população de animais. Também era comum a apresentação de circos com animais e havia uma suspeita no ar, em torno do sumiço de animais e a possibilidade de estes virarem comida para os enjaulados.
Também não era tendência todo este mercado que vende desde ração a acessórios para os bichinhos ficarem ainda mais fofinhos. Enfim, o cenário era bastante diferente.
Quando alguém defendia que os animais precisavam de mais cuidados, ou no mínimo de mais respeito, sofria uma espécie de cancelamento. E a frase mais comum era: “tanta criancinha passando fome e você falando de animais?”. Ou seja, muita água passou por debaixo dessa ponte, para que hoje a causa animal tenha um pouco mais de visibilidade.
Foram muitas lutas, muitas mobilizações, protestos, denúncias, para que uma legislação mais sólida fosse construída e aplicada nas cidades brasileiras. Casinhas para cães de rua ? Animal comunitário? Abrigos para andarilhos e seus animais? Isso é coisa muito recente. Não pertencia ao passado distante.
Porém, temos que separar o marketing das ações concretas. Desfile de cachorro com roupinha exótica, cãominhada com brindes ao final, tudo isso é bem fofo. Afinal, quem não gosta de Nutella? Mas os agentes públicos precisam por a mão no vespeiro e cuidar do que realmente interessa. O ano está acabando e o orçamento do próximo já é desenhado nesse período.
Agora é momento de os governos federal, estaduais e municipais destinarem emendas para o orçamento de 2024, para custear as despesas nessa área. Há cidades que por exemplo, implantaram o Banco de Ração para auxiliar famílias de baixa-renda e protetores. Com o tempo, viram que depender apenas de doções de empresários, era insustentável. Então, fizeram mudanças nas leis assim como reservaram dinheiro para uma cota mínima. Outras, não moveram uma palha, apenas justificam que depende de doações.
Este é só um exemplo, de como muitas vezes o poder público quer apenas se escorar na causa animal. Quer jogar para os protetores, a responsabilidade que é sua. Quando, muitas vezes, são criados cargos comissionados, onde o cabide de emprego só cresce e o resultado na prática, na vida dos animais e de quem tenta protegê-los, é ínfimo. Até que a campanha eleitoral vá para as ruas e então, os animais sairão nas fotos e imagens para, findado o processo, caírem no esquecimento mais uma vez.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br
Parabéns… Quando cheguei a Foz em 2006 ainda havia a carrocinha, circos, tudo citado aqui. Fiz parte ativa da luta para mudar isso. E realmente, virou um modismo de vitrine e pouca ação.