Lobos-terríveis e o marketing que atropela o meio ambiente

Empresa de biotecnologia alega ter dado vida a animais vistos apenas na ficção.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O anúncio de que os lobos-terríveis, conhecidos pelo público na saga americana Game of Thrones, exibida entre 2011 e 2019, saíram das telas e nasceram nos laboratórios da empresa de biotecnologia Colossal agitou o universo científico e lançou luzes à ideia de o homem brincar de ser Deus.

Mas que mal que há se uma empresa anuncia que conseguiu ressuscitar uma espécie extinta há mais de dez mil anos? Não seria para comemorar?

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Na visão rasa, sim. Afinal, se é possível trazer de volta os lobos, o mesmo poderia acontecer com outras espécies. E mais! Como dizia uma velha propaganda: “Nossos problemas acabaram!” Bastaria guardar amostras de DNA das espécies que estão sendo exterminadas e no futuro, como em um passe de mágica, recriá-las. Imagine! Uma empresa coleta todas as espécies conhecidas ou não da Amazônia e depois é possível plantar soja e soltar o gado à vontade no local! No futuro, quando precisássemos do que foi destruído, bastaria replicá-lo.

Mas é claro que essa é uma visão tão simplista, com a qual nem Pollyana brincaria de jogo do contente. Na verdade, Rômulo, Remo e Khaleesi têm parte dos genes dos animais extintos, que foram gerados por fêmeas de cães, de tantos outros cujas raças beiram à superpopulação. Para a empresa, um renascimento. Para cientistas, uma jogada de marketing.

A Colossal nasceu em 2021 com a promessa de “desextinguir” o mamute. Um de seus acionistas, é George R. R. Martin, escritor dos livros que levaram à série Game of Thrones. Recentemente, ele posou com um dos bichinhos, fofos, que parecem um amontoado de pelos.

  • O que parece fantástico é que o homem interferir no ritmo das espécies já é um filme conhecido. Inclusive com a própria espécie humana. Basta olhar para a China, que desenvolveu a política do filho único, entre 1980 e 2015. Aliada a questões culturais em que os bebês homens eram mais desejados que as mulheres, o que temos hoje é uma China desesperada em estimular a reprodução humana, diante de um grande percentual de homens e uma minoria de mulheres que não estão tão preocupadas em gerar filhos.

Nem precisamos ir muito longe atrás dos lobos. Vamos lembrar as carpas asiáticas, lançadas nos rios em que não existiam e viraram uma tormenta, causando inclusive erosão e destruição das nascentes, da mata ciliar.

Itaipu sabe muito bem o que é o problema do mexilhão dourado, trazido na água de lastro dos navios e nas embarcações menores, que espalharam a espécie pelas águas brasileiras. A proliferação é tão rápida que, se não forem controlados, travam as turbinas das hidrelétricas. Fora o dano que a espécie invasora causa ao ecossistema natural.

Enfim, parece muito fofa e fantástica a capacidade de o homem inovar e recriar. Mas é esse mesmo homem, que deseja colonizar Marte, que não é capaz de descartar corretamente um papel de bala ou evitar cortar a árvore em frente à sua casa.

Já tratei desse assunto aqui, quando o marketing, quando o mundo maravilhoso do universo digital, sobrepõe-se aos fatos. O que mais presenciamos é a natureza sendo refém de quem a usa apenas para faturar, seja dinheiro, votos, poder, status… Somente se esquecem de que a única espécie que não faz falta para a sustentabilidade é a única que destrói seu próprio habitat. Começa com a letra H e termina com UMANA.


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