Lixo, calor e dengue. Uma tempestade perfeita

Descartar resíduos e objetos em locais inadequados faz parte de uma cultura que precisa ser transformada.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Passada a folia do carnaval, veio a ressaca da dengue, ondas de calor, covid, chikungunya e tudo mais que possamos imaginar. A mídia noticia, mostra o trabalho árduo dos agentes de combate à endemias, os postos de saúde lotados, o alto consumo de energia, o calor nocauteando as pessoas. Um roteiro que sempre se repete. Porém, cada vez mais, com maior intensidade.

Os governantes precisam tomar atitudes mais enérgicas, dando o exemplo e cobrando a participação da comunidade. Não adianta imaginar que a pessoa que a vida toda descartou lixo em local inadequado ou acumulou coisas nos fundos do quintal, vá se conscientizar de uma hora para outra a mudar de hábitos.

Diante da explosão de casos de dengue, onde as estatísticas demonstram que 70% dos criadouros estão nas residências, percebemos que esse cenário está diretamente relacionado à cultura da sociedade. Uma sociedade, com exceções, que normaliza jogar lixo na rua, não o separa e não se dá ao luxo de cuidar do seu quintal, acaba refém da própria negligência.

Por mais que a mídia relate, que os professores ensinem nas escolas as crianças e jovens, algo precisa ser feito para que os adultos de modo geral assumam suas responsabilidades. E talvez o caminho esteja junto à sociedade civil organizada, os clubes de serviços, sindicatos, empresas, clubes esportivos, meio artístico. É preciso de uma mobilização muito grande para que haja essa mudança de hábito.

E isso necessita vir de cima também, por parte dos governantes. Deviam promover arrastões de limpeza pelos mais variados cantos das cidades. Envolver as associações de bairros, entidades empresariais, fazer um bota-fora intensivo, frequente. Inclusive premiar as ações com maior engajamento. E punir, pesadamente, quem faz o serviço sujo. Não dá mais para apenas assistir os hospitais lotados, ou depositar as fichas na vacina que não é suficiente para todos.

Alias, a vacina não pode servir como motivo para normalizar o descarte inadequado do lixo e aceitar a dengue como mais uma doença de nosso cotidiano. Na verdade, nem era para discutirmos essa questão, se a coleta seletiva de lixo fosse estimulada e praticada.

Também as ondas de calor, a temperatura fora da curva, dão sinais e não temos visto as cidades se mexerem. Não tenho observado o cuidado em promover o plantio de árvores, a substituição de calçadas por gramados e áreas permeáveis. Ao contrário. As ilhas de calor, com o solo impermeabilizado só aumentam, como amplia a demanda por ventiladores e ar-condicionado, para quem pode. Como que os gestores assistem a tudo isso de braços cruzados?

Transferir a culpa para os outros é o caminho mais fácil, quando não fazemos nossa lição de casa. Uma tampinha de garrafa com água acumulada, pode causar um estrago sem fim, pois é ambiente propício ao mosquito transmissor da dengue. Uma área pavimentada, que antes drenava a água da chuva, também pode contribuir para aquecimento do ambiente e alagamento. Mas parece tudo tão insignificante que vamos deixando a avalanche se formar, esquecendo que na sua direção estamos todos nós.

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