Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO
A Praça das Aroeiras está mesmo na mira da prefeitura de Foz. Mesmo que não houvesse nenhum outro lugar para construir a tão necessária sede da Escola Municipal Professora Lúcia Marlene Pena Nieradka, cogitar desmatar uma área verde para construir uma obra em alvenaria, soa um pensamento bastante ultrapassado. E quando existem outros espaços e eles são descartados?
Não tem sentido justificar que o único lugar compatível para construir a escola é em uma área verde, que serve de espaço recreativo para qualquer visitante; que é abrigo e fonte de alimento para os animais; que ajuda a dar conforto térmico e visual ao bairro; que minimiza os ventos e o barulho; que ajuda a infiltrar água no solo; que tem espécies protegidas por Lei, entre tantos outros benefícios.
Não parece ser uma iniciativa inteligente que, em pleno ano de 2023, um projeto que ainda está no papel, não seja alterado para um outro espaço, adequando a planta às árvores. E não as árvores à planta, se me permitem o trocadilho. E quando a justificativa é que o lugar é uma reserva técnica, basta lembrar que as leis são flexíveis e deveriam adaptar-se aos novos tempos. Se é uma área destinada ao município para construir equipamentos comunitários, quer algo de fins mais coletivos que uma praça?
Mas, parece que virou mesmo questão de honra derrubar um espaço verde, para construir no mesmo lugar uma escola. Não. Não é que quem defenda a praça seja contra a escola. Só está sendo sugerido que o prédio seja construído em outra área próxima, sem ter que derrubar 34 árvores nativas e outras 10 exóticas.
Será que quem defende a escola no lugar de uma praça, acredita mesmo que nenhuma árvore será derrubada? Que dará para conciliar a escola com as árvores? Acreditam também em Papai Noel? As mesmas pessoas que se dizem preocupadas com a educação das crianças, tão necessária e vital, parecem esquecer que as crianças um dia perguntarão: cadê a praça que estava aqui?
As aulas, o espaço adequado para as crianças, professores e funcionários, tudo isso é essencial. Afinal, não tem como admitir que ainda estejam tendo aulas embaixo de uma arquibancada. Mas também não precisa construir a nova sede em cima das árvores! Falamos tanto de mudanças climáticas. E quando elas acontecem achamos que não temos culpa no cartório. Que o problema é só com os outros. E se todas as cidades resolverem que praças, com árvores podem dar lugar a concreto?
Tem sido uma luta muito grande, de um grupo de moradores, em prol da Praça das Aroeiras. Não fossem essas vozes, não fosse a divulgação do caso, principalmente por esse H2Foz, as motosserras teriam trabalhado mais rápido que alguém pudesse se lamentar. Não fosse o pedido de tombamento, em trâmite, por parte do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, as árvores seriam coisa do passado.
Tem muita água passando por baixo dessa ponte, ou melhor, praça. Os moradores buscaram documentos de 1974, quando a senhora Irene Kozievitch transferiu a área ao Município, para comprovar que antes mesmo de ter uma única árvore, o local já foi destinado à praça. Já a prefeitura, desenterrou um emaranhando de documentação para mostrar que a bola pode ser da comunidade, mas ela é a dona do campinho.
O caso já foi para Justiça e está em Curitiba aguardando julgamento. A prefeitura tenta anular o pedido de tombamento da área, para conseguir junto ao IAT a licença que permite o início das obras. Mas, será que o órgão que tem como objetivo preservar as araucárias, cedro, ipês e pau- brasil, espécies presentes na Praça, vai compactuar também com esta insanidade? Enquanto isso, a empreiteira que ganhou a licitação aguarda para começar a obra. A comunidade encontra na resposta ao tombamento, a esperança de preservar a área. E nesse meio tempo as crianças crescem, sob a sombra das árvores, que amanhã podem nem mais existir.
Recentemente houve uma audiência pública para tratar sobre o tema, mas foi quase como chover no molhado. É como se fosse um jogo, em que quem podia levar a torcida mais barulhenta, saísse como vencedor. Mas nessa disputa, quem perde é a natureza e, consequentemente, toda a comunidade.
Os gestores, que deveriam dar o exemplo, e lutar com unhas e dentes pela preservação deste pequeno oásis na área urbana, parece que ainda estão engessados naquele velho discurso de que natureza e progresso são concorrentes. Uma cidade como Foz do Iguaçu, cujo Parque Nacional é exemplo para o mundo, deveria ter mais cuidado com suas humildes árvores, que não sabem se estão em uma praça ou reserva técnica. Porque elas só querem viver e nos brindar com suas folhas e cores.
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