Aida Franco de Lima – OPINIÃO
O que está ocorrendo no Rio Grande do Sul (RS) impactou o cenário nacional midiático. Aquelas matérias tradicionais do Dia das Mães, deu lugar à tragédia. A dor das mães desaparecidas, falecidas, desabrigadas, no maior desastre ambiental da história do RS sobrepõe-se à data, tão esperada pelo setor comercial.
Não é hora de acharmos culpados, é frase bastante recorrente quando falamos dos eventos climáticos extremos que vitimam o RS. Na verdade, passou da hora. Pois o que está havendo é fruto da negligência humana. Porém, diferente do que normalmente estamos acostumados a ver, a tragédia não atingiu apenas as periferias. Ela não selecionou, apenas moradores que obrigam-se a construir suas casas em áreas de risco. A água atingiu o topo da pirâmide social.
Mas é claro que os que pouco têm sofrem ainda mais o impacto. Como sempre.
Tal qual muitos filhos tratam as mães com ingratidão e as esquecem quando não são mais úteis, tem se comportado os gestores públicos, e também o cidadão comum, com o trato da Mãe Natureza.
O mais triste, que como uma mãe, inúmeros cientistas e pesquisadores já alertam há anos sobre a necessidade de se criar políticas públicas que preparem as cidades para o enfrentamento às mudanças globais. Porém, o que temos presenciado nos últimos anos é o desmonte das leis de proteção ambiental. São os órgãos que deviam zelar pela natureza, agindo só depois que o estrago foi feito. Como no caso do Bosque dos Macacos, em Foz do Iguaçu. Só foi protegido, depois te sido fortemente violentado!
Como acontece em Cianorte, Paraná, que ostenta uma floresta no meio da cidade, que está sendo violada. Com abertura de avenidas que rasgam a mata em locais que deveriam ter sido fechados, como no caso da atual Avenida Jambers. Uma área que deveria ter sido preservada para que a mata recuperasse e foi completamente asfaltada para privilegiar acesso a condomínio de luxo. E quanto mais avenidas são feitas e anunciadas, mais a população aplaude. Como um rato que defende a ratoeira.
Mais uma vez, olhem para Foz do Iguaçu. Recentemente a Praça das Aroeiras foi devastada! A justificativa é de que somente ali, somente onde havia uma floresta em desenvolvimento, em que a vida era abundante e o solo podia absorver uma grande quantidade de água, poderia ser construída a escola que está há 20 anos improvisada embaixo de uma arquibancada. E quantas mães comemoraram a destruição das árvores? Os danos à natureza retornam ao próprio ser humano, mas o maior percentual da sociedade não aceita essa verdade inconveniente.
E agora no lugar, não tem nem mais a Praça, em sua integridade, seu miolo está oco, isolado por tapumes, com obras abandonadas e as crianças continuam embaixo das arquibancadas.
Como filhos ingratos, temos dado as costas para a natureza, como se ela fosse nossa inimiga, como se dela não precisássemos. Basta olharmos para passado recente, de Chico Mendes, à Irmã Dorothy, passando por Bruno e Dom Phillips. Chega inclusive à Marielle Franco, assassinada junto com seu motorista, pois incomodava políticos do Rio de Janeiros interessados em lotear áreas impróprias.
Tem um ditado popular que diz que uma mãe é capaz de cuidar de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe. Com a Mãe Natureza é a mesma coisa. Quem você conhece, de seu círculo social, próximo e distante, que luta em prol da natureza? E quantas outras pessoas, destes mesmos círculos sociais, são alheias à estas questões? São poucos filhos cuidando. Enquanto tantos outros, destroem, compactuam ou permanecem alienados às barbáries sofridas.
Para ajudar o panorama atual a ficar ainda mais triste, temos uma avalanche de notícias falsas, de postagens que induzem a uma divisão social, por conta de questões ideológicas. Como filhos mal educados, que põem a língua pra fora e não respeitam aqueles que prestam serviço em suas residências, temos o Brasil tomado de uma legião de influenciadores, crescendo em busca de curtidas, em cima de notícias que desmotivam a solidariedade, tão presente nos dias de flagelo do RS.
A onda de solidariedade que tomou conta do Brasil, de Norte a Sul, está sendo encoberta por uma enxurrada de notícias mentirosas, de informações distorcidas, cujo único objetivo é instabilidade e o cenário de quanto pior melhor.
Neste Dia das Mães, em um panorama tão devastador no RS, o que podemos oferecer de presente, às mães de todas as espécies, é a solidariedade. E passarmos a tratar a natureza como nossa provedora e não uma pedra no caminho que precisa ser eliminada. Afinal, como todas as mães, a natureza está dando o seu grito de alerta: “Eu avisei!”
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br
Comentários estão fechados.