Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO
Falar de educação ambiental virou um certo clichê. Muitos órgãos descobriram que essa palavrinha mágica pode ser usada como instrumento de um bom marketing verde. Aquele negócio: por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Tudo vira educação ambiental e normalmente o foco é um só: crianças. É como se delegássemos a elas a tarefa de salvar o Planeta. Mas e como fica o agora? O que as crianças irão herdar, se não ‘conscientizamos’ os adultos?
A grande falácia em não promover atividades que orientem essa geração adulta que está condenando o Planeta é que cabe às crianças transmitir o recado dentro de casa. Criança tem influência? Sim, tem. Mas não deve ser incutida a elas essa missão. Algo quase como impossível.
A geração que hoje passa dos 40 anos, muito provavelmente tem conhecimento sobre sustentabilidade através do aprendizado fora dos muros escolares. Antes da Eco 92, falar de proteção ambiental era bastante solitário. Imagine, praticar.
Felizmente, com o passar dos anos, as escolas, principalmente as primárias, focaram bastante na educação ambiental, e isso faz com que qualquer criança saiba responder que é errado jogar lixo na rua, por exemplo. Mas se ela vai praticar esse conhecimento, se a família vai se envolver nesse desafio, é outra história. Não é dever da criança resolver isso em casa. Os adultos precisam ser ensinados também, seja através da associação de moradores, reunião do condomínio, no trabalho, ou grupos do ‘zap zap’. O que parece muito óbvio para uma parcela da sociedade, não é para a outra.
Uma vez fui fazer uma dinâmica e começava a fala, com crianças da educação infantil, abrindo um doce e jogando o papel no chão. Ia fazer de conta que era natural aquela situação, até chegar no assunto. Mas, foi o papel cair no piso que uma delas saiu do fundo da sala de aula, pegou a embalagem e jogou no lixo. Sem falar nada. Claro que depois disso tive que saltar o conteúdo, pois boa parte do que eu ia explicar, os professores já tinham feito.
E os professores estão fazendo muito bem! Em suas atividades diárias estão orientando as crianças sobre noções que seus pais provavelmente não tiveram quando tinham a idade deles. Que seus avós só ouviram falar através da mídia. Claro que toda informação é muito bem-vinda, porém, não podemos focar somente nas almas que já estão preparadas. Temos que ir atrás daquelas perdidas também. E essas são as que dão mais trabalho. Afinal o ditado diz que árvore que nasce torta morre torta. Precisamos ao menos tentar corrigir isso.
A educação ambiental aos adultos tem que ir além dor recados para economizar água, desligar o interruptor de luz ou separar lixo seco e orgânico. Até porque muitas vezes repartições públicas que portam a bandeira da educação ambiental, não o fazem nem com sua própria equipe.
Nossas cidades estão sujas, com as bocas de lobo entupidas, os canteiros centrais com lixo, as árvores maltratadas, muitas delas usadas como lixeiras. Os milhares de casos de dengue refletem esse vazio educacional da geração que não teve educação ambiental formal. Aquele praticado no ambiente escolar.
Não que toda criança vai ser um ativista em prol da conservação do Planeta, mas ao menos terá o mínimo de noção sobre as consequências dos impactos ambientais, sobre a própria espécie humana. Mas precisamos atingir os adultos, que são os tomadores de decisão no presente. Urgente!
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