Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Se as escolas não estivessem em greve, porque o governador do Paraná, Ratinho Jr., deseja fortemente privatizá-las, e esta é a medida que os professores encontraram para tentar barrar tal ideia, hoje os alunos continuariam falando e aprendendo sobre o meio ambiente. Como o fazem com tantos outros conteúdos.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, é uma data que deveria ser para celebrar a existência humana, que depende da biodiversidade. Mas essa conversa parece ser perda de tempo para quem precisa acumular riquezas, explorando a Terra.
Os últimos meses, com tudo que temos presenciado pelas mídias com o que está havendo no Rio Grande do Sul, deveria ter sacudido nossa sociedade e ter transformado essa data simbólica, em um dia fora da curva. Mas parece mesmo que falar de eventos climáticos extremos é chover no molhado, e o tema não recebe a importância devida.
A coisa é tão escabrosa, que ao mesmo tempo que estamos vendo o Rio Grande do Sul, sofrendo as consequências diretas das intervenções do homem junto à natureza, em um verdadeiro efeito cascata, mais uma discussão vergonhosa veio à tona. É a Proposta de Emenda Constitucional – PEC 3/2022, que pretende transferir terrenos à beira-mar, hoje de responsabilidades da Marinha, aos governos estaduais e municipais. O que seria um passo para facilitar a especulação imobiliária.
Para quem defende a proposta, é um jeito de cuidar de áreas abandonadas, mas para quem sabe como o Brasil funciona, entende muito bem que o buraco é mais embaixo. Lembra bastante a história das rodovias, em que os contribuintes pagam para que sejam conservadas, porém, como isso fica só na promessa, quando chegam os pedágios, é como se fossem a única e melhor alternativa.
A PEC 3/2022 tem cheiro e gosto de especulação imobiliária. Um mal que assombra nosso Brasil, seja no campo, na cidade… O sonho de consumo do brasileiro é a casa própria, uma casa de praia, já é ganhar na loteria. Porém, ninguém se engana em pensar que tal proposta iria dividir o bolo com quem já não é dono da confeitaria. Aprovar uma mudança na Constituição é abrir a porteira para os grandes grupos que já exploram e inflacionam o nosso litoral. Áreas priorizadas à biodiversidade, dariam lugar à cobiça dos resorts.
O Dia Mundial do Meio Ambiente é uma data simbólica que precisaria ser incorporada ao cotidiano da sociedade, como uma forma de fazer um balanço, como quando chegamos em dezembro e nos enchemos de expectativas para o novo ano. Ou ao menos tentamos. Era momento de olharmos também para tudo que tem sido privatizado no Brasil! Isso me fez lembrar a música do Raul Seixas.
Os estrangeiros, eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico, tem vista pro mar
A Amazônia é o jardim do quintal
E o dólar deles paga o nosso mingau
Privatizam a escola, privatizam as estradas, e não bastasse isso, querem as praias também. Talvez alguém dirá que deveriam privatizar os políticos. Mas será que já não estão? Quando estes, salvo raras exceções, parecem legislar para um grupo específico e não para a coletividade? Até quando?
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