Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Basta ligar a televisão ou abrir os noticiários e lá estão cenários contrastantes. Seca extrema na Amazônia, chuva intensa no Sul. E o Paraná entrou na rota do alto índice pluviométrico, tempestade de granizos, ventos, alagamentos.
Na última quinta, 26, nos Campos Gerais, em Ponta Grossa, mais exatamente, uma amiga me relatou que levou uma ‘surra’ de granizo. Estava voltando do trabalho, já perto de sua casa, quando de repente escutou um barulho. Era granizo. Correu para se esconder próximo a uma garagem. Na cidade não para de chover e as casas estão com as paredes suando. Mais de 7 mil pessoas foram impactadas com a tempestade de granizo.
De São José dos Pinhais, chegou o relato de que as famílias estão erguendo os móveis e saindo das casas, em determinadas regiões, porque os alagamentos que não ocorriam há décadas, voltaram. E em Foz do Iguaçu, a vazão das Cataratas atingiu a segunda marca histórica. A média diária de de 1,5 milhão de litros por segundo, saltou para 18,6 por segundo, neste domingo, 29.
Inúmeras outras cidades do Paraná, assim como de Santa Catarina, estão sofrendo as consequências do rápido aumento do índice de chuvas. Qual estrutura de cidade aguenta uma chuvarada que é pra cair em um mês, despencando em um dia só? Estradas bloqueadas, casas arrastadas, plantações submersas, empreendimentos arrasados e até tornados. E a previsão é de mais chuvas.
Enquanto milhares de moradores estão apreensivos e mesmo isolados por conta das fortes chuvas no Sul, na Amazônia o que tem separado comunidades inteiras é a seca profunda. Os leitos de rios onde antes navegavam as embarcações viraram passagem de pedestres. Tudo acabado. Animais mortos. Pessoas em desespero.
E o que é que estamos vendo os gestores públicos fazerem com relação a essas consequências avassaladoras daquilo que passou a ser conhecido como eventos climáticos extremos? Eu não tenho visto nada ou quase nada. De preventivo muito pouco. Talvez para remediar o dano, quando acionam a Defesa Civil e a decretam de ‘estado de emergência’. Este último, basicamente para liberar dinheiro público sem tanta burocracia. Mas, e o que mais?
Não vejo quase nada de mudança. Não vejo gestores discutindo ações, revendo conceitos, revisitando suas atitudes, mudando estratégias de ação, implementando alternativas para lidar com esse ‘novo normal’. Até parece que estamos apenas vendo um filme, e não que somos os personagens do enredo real.
Em conversa sobre o assunto, com uma professora, ela foi certeira: “Quem não acreditava que poderia acontecer, agora está vendo. Temos de começar a ser rígidos com criminosos que agridem a natureza. Dar penas que obriguem a cuidar da natureza, reflorestar, cultivar. Tomar dinheiro e investir no reflorestamento.”
Certamente há quem se depare com a última frase, e se assuste. Pode até parecer que não haverá garantia de propriedade, no caso, de dinheiro. Mas devemos nos assustar é sim com a forma como a natureza está sendo degradada, quando poucos tiram proveito de sua destruição, e muitos outros sofrem com as consequências.
As chuvas, as secas, vão continuar. Para reverter tanto impacto é preciso de mudanças profundas. Mas será mesmo que os gestores públicos de hoje estão preparados para esta conversa? Não há mais justificativas para destruir a natureza, em nome do falado progresso e para acabar com a fome. Essa desculpa não se sustenta mais. E isso não é conversa de ecochato, é a realidade batendo à porta. É a natureza, nos alertando que cedo ou tarde, ela se mostra indomável.
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