Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Na última semana, a cidade de Cianorte voltou a ser notícia em relação aos animais domesticados. Mais exatamente cães. Após a denúncia de uma transeunte, o Instituto CãoPaixão encontrou um cemitério clandestino de cachorros ao lado do canil da cidade.
Não há, no momento, como afirmar a origem dos animais, mas sabe-se que foram abandonados em sacos plásticos e incinerados. Não se tem conhecimento também de como os animais foram pegos e mortos.
O fato chamou atenção pela quantidade de animais, 11 carcaças, o que leva a pensar que foi uma forma de livrar-se de um excesso de cães. O instituto fez um boletim de ocorrência e levou o caso ao Ministério Público.
Mais do mesmo, porque em Cianorte, apesar de a gestão reeleita ter criado a Divisão de Bem-Estar Animal, as coisas parecem ser terra de ninguém. Há inúmeras denúncias com relação ao canil municipal, de maus-tratos que não são averiguadas, multas que jamais foram aplicadas, denúncias diversas de envenenamento de animais e desova de filhotes e adultos, e nada, absolutamente nada, acontece.
O órgão gestor dessa área, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal, inventa regulamentos que mais investigam a vida de protetores do que de denunciados. A Divisão de Educação Ambiental, da mesma secretaria, não é capaz de fazer uma atividade ampla, na cidade e distritos, para que as pessoas permitam que os animais domésticos transitem pelas vias públicas somente acompanhados.
Na última reunião do Conselho de Bem-Estar Animal, uma das pautas era a obrigatoriedade de as ONGs terem em suas feirinhas de adoção a presença de veterinário responsável e que sejam obrigadas a chipar os animais. Algo que a própria prefeitura já deixou de fazer, durante castrações realizadas localmente, para economizar dinheiro.
Assim, é bastante comum andar pelas ruas das cidades e constatar um sem-número de cães semidomiciliados. Aqueles que, mesmo tendo tutores, ficam nas ruas. Mas também nem há como o município cobrar da população o que ele próprio não faz. Ocorre que os animais que sobrevivem ao período no canil são soltos nas ruas.
Apesar de o contrato de licitação dizer que as fotos dos animais devem ser divulgadas para fins de adoção, isso não acontece.
De um lado, protetores independentes e algumas ONGs sérias, tentam fazer sua parte, sem recursos. De outro, o município, com estrutura, pessoal e dinheiro, não é capaz de pôr em prática uma solução digna aos animais, mesmo diante das inúmeras propostas já apresentadas. Isso me lembra do trecho da música “é que Narciso acha feio o que não é espelho”. Que podemos adaptar para o setor público, quando mandatários não aceitam ideias que não tenham sido capazes de elaborar.
O aparecimento daquelas carcaças de animais, alguns deles com coleira, demonstra uma sensação de impunidade. De enxugar gelo. Enquanto uns ficam com a saúde prejudicada, diante do sofrimento animal e das denúncias não apuradas, de outro lado há o extermínio dos que não podem defender-se, por parte de quem conta com o manto da cumplicidade ou impunidade.
O que ocorre em Cianorte não é exclusividade dela, pode repetir-se em muitos outros municípios. Mas quando é criado um órgão que emprega funcionários públicos para que se debrucem em cima de uma questão, esperam-se resultados. Caso contrário, melhor parar de maquiar o problema, pois a causa animal não é perfumaria. É um caso sério, que precisa de pessoas comprometidas, não com o dinheiro, cargos públicos ou eleições, e sim com a qualidade de vida dos animais. Simples assim.
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