Calor e a omissão das secretarias de meio ambiente

Pastas ambientais não recebem o cuidado e atenção devida.

Aida Franco de Lima – ARTIGO

Está bastante calor e todo mundo sente na pele. Porém, enquanto muita gente corre atrás de um ar-condicionado ou ventilador, o caminho deveria ser bater nas portas, via redes sociais, das secretarias municipais e estaduais de meio ambiente e perguntar: o que está sendo feito para reverter o calor em nossa cidade? E em nosso estado?

A maioria dos veículos de comunicação diz basicamente que o aumento da temperatura é decorrente da queima de material fóssil. Como se o problema também não se originasse em nossos quintais. De outro modo, toda prefeitura e estado, tem algum setor com alguém recebendo salário muito além da média do trabalhador brasileiro, para gerir as questões ambientais. E o que tem sido feito?

Para começar, normalmente quem gerencia alguma secretaria, municipal ou de estado, é pessoa escalada pela confiança que desperta naquela gestão e não necessariamente pela competência ou formação na área. Aí já se diz muita coisa do que vem pela frente. De outro modo, não bastasse a conveniência, há aqueles que nem conhecem as cidades, os estados e seus problemas, e não fazem questão de conhecer. Mas preservar o cargo.

Quem quer manter o cargo, não vai arrumar confusão! Não vai bater de frente com a chefia e aceitará tudo que vem de cima. De outro modo, não vai arrumar sarna para se coçar, botar o dedo nas feridas. Vai ficar quietinho (a), no seu cantinho, comendo pelas beiradas, mas sem importunar ninguém. Assim, ficam os dedos, os anéis e o salário também.

A falta de sensibilidade destes gestores, responsáveis pelas pastas ambientais, está fazendo com que todos paguemos o preço da insustentabilidade. De um lado, enquanto institutos de pesquisa e universidades, debruçam para mostrar a necessidade de mudanças comportamentais, do outro, a inação é gritante.

As ondas de calor estão cada vez mais frequentes, os estudos demonstram o que isso significa para a saúde, para a economia do Planeta e ainda assim, desconhecemos medidas concretas que estejam sendo tomadas para reverter a situação. Alias, concreto é um termo que, infelizmente, combina demais com nossas cidades. Já falei desse problema aqui, ao tratar sobre o modo como são transformadas em ilhas de calor.

As secretarias de meio ambiente parecem mesmo querer passar a bola do problema ecológico, para outras pastas, como da saúde. Assim, os médicos que lutem ! Eles que se virem com as consequências da falta de hidratação aos doentes com dengue ou com as consequências que as águas contaminadas causam no organismo humano. Deixa pra área da saúde os problemas decorrentes da poluição do ar, da contaminação do solo, e sucessivamente…

O admirável jornalista, já falecido, Washington Novaes, dizia que o meio ambiente deveria ser considerado o setor vital de qualquer governo. Mas não é isso que percebemos.

“Eu acho que o grande drama brasileiro hoje é exatamente conseguir colocar a questão ambiental como o centro e o princípio de todas as políticas”. (Washington Novaes, 5 de junho de 2000 – Roda Viva)

O que notamos, é que secretarias ou divisões de meio ambiente, não passam de um órgão carimbador. Carimba os pedidos das mais variadas instâncias que precisam de anuência para seguir com suas obras. Em virtude das licenças ambientais, os setores diversos se amarram com tal pasta. E não vai ser um cargo comissionado que irá emperrar o ‘desenvolvimento’ urbano, não é mesmo?

Diante das demandas estas pastas contratam empresas terceirizadas para realizar planos para resolver o problema de resíduos sólidos, de arborização, de captura de carbono, erosão ou o que for. Mas entre ter o estudo e colocá-lo em prática, há um oceano de distância.

Estas secretarias deveriam ter seriedade no trato do lixo, por exemplo. Em vez de tão somente licitar a empresa terceirizada, deveriam colocar em prática a coleta seletiva urbana. Porém, o que vimos são agentes comunitários de combate a endemias em campo, mostrando que resíduo jogado em local inadequado pode ser criadouro para dengue.

Deveriam ter seriedade no cuidado com a arborização urbana, pois a preocupação não parece ser com o cuidado com as árvores. Sem um plano adequado, quando plantam árvores, o fazem sem pensar se no local há fiação elétrica ou não, por exemplo e as podas acontecem uma vez na vida e outra na morte da árvore, literalmente. Porque basta uma tempestade na cidade para abrir a porteira para que as árvores que não foram cuidadas por anos, sejam cortadas para evitar riscos de acidentes. É sempre a mesma história. Ou quando podam, não respeitam período de nidificação ou frutificação.

Além das questões ambientais de modo mais amplo, há ainda a omissão com relação aos problemas relativos a animais domesticados. Lentamente tem sido realizados trabalhos para a castração de cães e gatos através de programas municipais ou estaduais. Porém, o ritmo é muito lento face à demanda, ao curto intervalo de cio. Além da ação direta para atender a estes animais, é preciso que haja trabalho efetivo de guarda-responsável, fiscalização e multa.

É sempre a mesma desculpa. Falta estrutura, funcionários. Mas o que falta mesmo é vontade de querer fazer. Porque o que percebemos, muitas vezes, é que quando a sociedade civil se organiza, mesmo sem todo o aparato que um governo pode oferecer, ela mostra resultados.

Exemplo prático é com relação à áreas desmatadas em Foz do Iguaçu, ou qualquer outra cidade. Depois que a sociedade se organiza e denuncia, lá vai o órgão ambiental embargar e correr atrás do prejuízo. Como foi com o Bosque dos Macacos que só ganhou proteção depois do estrago feito. Até quando?

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1 comentário
  1. Monika Diz

    Os artigos de Aida Franco de Lima são muito bons, parabéns!

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