
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
O pedido de socorro por parte dos moradores da região do Bosque do Libra é um reflexo geral da displicência dos governantes, salvo raras exceções, em relação às áreas verdes. E isso não é um privilégio somente de Foz do Iguaçu.
A situação mais comum, em nosso Brasil, é existir uma área de proteção ambiental, uma área de interesses para a biodiversidade e, consequentemente, para o ser humano, e o órgão que deveria cuidar perder-se no emaranhado de justificativas para não fazê-lo.
A estrutura burocrática dos órgãos estatais brasileiros é formada por uma minoria que deseja trabalhar e não tem estrutura ou não tem autonomia. E outra parte, por ocupantes de cargos de confiança que caem de paraquedas nas vagas para dizer amém e preparar a base eleitoral para a próxima campanha eleitoral.
Há exceções, e elas são uma parcela mínima de quem realmente ainda tem fôlego e ânimo para mudar o rumo da barca, que parece mesmo bastante furada. Sem autonomia, em boa parte das cidades, as secretarias de Meio Ambiente servem apenas para fins protocolares. Já vi caso de engenheiro florestal escrever laudo para justificar a retirada da proteção de uma área de mata para fazer dela um espaço de recreação.
BLÁ-BLÁ-BLÁ
Quando a comunidade aciona a mídia para relatar a necessidade de cuidados com uma área verde pública, que só não está em situação mais deplorável porque os próprios moradores se revezam nos cuidados, alguma medida deveria ser tomada, além do blá-blá-blá costumeiro.
Se a prefeitura não tem braços para cuidar das áreas verdes, deveria criar uma política pública e dividir a responsabilidade com quem se interesse e esteja mais próximo: a comunidade. Mas remunerando-a decentemente. Sem essa coisa de esperar da comunidade o serviço voluntário e reservar para as empresas os editais e licitações, sempre bem atraentes, com suas cifras na casa dos milhares de reais.
Na reportagem deste H2FOZ, de Paulo Bogler, é narrado como os moradores se revezam para, inclusive, recolher o lixo do lugar. Qual empresa presta serviço ao órgão público apenas por valorizar o resultado final?
Havia um tempo em que a varrição de ruas, na maior parte das cidades, era feita por funcionários da prefeitura. Limpavam, capinavam, sem preguiça ou limitações, porque eram pagos para deixar a cidade limpa, e não, tão somente, para cumprir contratos.
Existiam também as frentes de trabalho, que empregavam pessoas em vulnerabilidade social, por meio de contratos temporários, a fim de manter o mínimo de renda. Percorriam as cidades limpando tudo, retirando lixo e o mato que avançava pelas calçadas.
Com o passar dos anos, esses trabalhadores deram lugar a empresas que nascem para disputar editais. E assim as terceirizadas levam uma boa fatia do bolo, porém limpam somente o caminho por “onde o padre passa”. Se tiver uma garrafa de pet na calçada, a orientação aos funcionários é recolher. Afinal, no contrato, está dizendo que é para limpar o meio-fio, e não a calçada. Simples assim.
Seja o Bosque do Libra ou a área que for, se o município quiser mantê-lo protegido, mas não tem pernas para isso, que valorize e remunere o serviço da comunidade, que já estende a mão sem cobrar nada em troca.
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