Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Olhe ao seu redor. Consegue achar uma quadra que tenha árvores bem cuidadas? A resposta já sabemos. As árvores, por mais que todo mundo já tenha buscado uma sombra para refrescar-se, são tratadas como inimigas pela sociedade. A começar pelas secretarias de Meio Ambiente, que decretam seu corte sem dó nem piedade. Mas há sempre um laudo técnico para embasar. Um dia vamos descobrir que o laudo técnico deveria ser em relação à humanidade. Algo como: “Impróprio para o planeta.”
Vamos inverter a pergunta, para simplificar. Conhece alguma quadra que não tenha árvore, que tenha tocos de árvores, árvores utilizadas como lixeiras, outras com poda drástica, sem nenhum galho e aquelas fofas, cujos jardineiros deixam a copa horizontal, de acordo com o gosto do cliente?
Havia um período, não sei se em todas as cidades, ou algumas delas, no Paraná, em que era o antigo ITCF (Instituto de Terras e Cartografia), que depois virou IAP (Instituto Ambiental do Paraná), que hoje se transformou em IAT (Instituto Água e Terra), que dava o aval para cortar ou não árvores urbanas. Dava uma trabalheira, então muita gente desistia.
Mas também era trabalho demais para um órgão que já não tinha concurso público havia muito tempo, então delegaram o trabalho às prefeituras. Eu digo isso com conhecimento de causa, pois em Cianorte era assim. E, então, virou uma farra. Cortar árvores virou um grande negócio! Procurem nas licitações de suas cidades. Vão ao Portal da Transparência e busquem palavras-chave como corte de árvores, destocamento, arborização…. Irão ver que há empresas crescendo horrores com esse tipo de prestação de serviço.
Porém não vejo o contrário. Não vejo empresas que plantam árvores, que cuidam dessas árvores após o plantio, nadando de braçada nos editais. É mais lucrativo cortar que plantar e cuidar. E as secretarias de Meio Ambiente, salvo raras exceções, estão mais preocupadas em maquiar as cidades. Assim, abrem licitações para plantio de florzinhas nos canteiros das cidades, em frente às prefeituras. Dão um ar bucólico e atraem a atenção do motorista irritado com o trânsito.
Ou o motorista descansa o olhar no colorido das bocas-de-leão, dos beijinhos, enquanto aproveita e joga sua lata de alumínio na via pública. E o faz sem pesar a consciência, porque acha que algum catador de recicláveis vai pegá-la. Do mesmo modo o fazem sem peso algum na consciência, pois ela parece não existir para pesar, as pessoas que estão na chefia das secretarias de Meio Ambiente, que muitas vezes caem de paraquedas nos cargos e ali estão apenas para assinar os pedidos de licenciamento. As cidades precisam crescer!
Passou o Dia da Árvore, 21 de setembro. Provavelmente na sua cidade foram plantadas algumas mudinhas de árvores, estampadas fotos nas mídias sociais de estudantes com as mãos sujas de terra, exibindo o belo gesto. Mas ano que vem, no mesmo 21 de setembro, muito dificilmente essas árvores lá estarão. Não há preocupação em zelar pelas mudinhas. Caladas, elas não conseguem pedir socorro, um balde de água, uma escora para se protegerem dos ventos. Muito provável que os pais dessas crianças também plantaram árvores durante a idade escolar, talvez tenham até posado para fotos. Entretanto eles não conseguem levar os filhos para visitar as árvores que deveriam ser frondosas porque viraram lenha, caso tenham passado para a fase adulta.
Os planos municipais de arborização urbana quase nunca saem do papel. E quando chove ou venta, e caem as árvores, justificam-se ainda mais os motivos para eliminá-las. Desconheço cidades que tratem de fato de suas árvores, que cuidem, que monitorem, que tenham equipes técnicas para garantir que as mudinhas se transformarão em árvores frondosas. Também não conheço cidade que tenha uma legislação que proteja a árvore e que seja cumprida.
Eu conheço, sim, exemplo de cidade que facilita o corte das árvores, que muda as leis para facilitar a vida do cidadão que por um motivo ou outro acha ser melhor cortar aquela árvore chata da frente de casa, que só faz sujeira! Em Cianorte, por exemplo, um vereador mudou a legislação, com aval da Secretaria de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal, depois que descobriu que somente o proprietário do imóvel poderia solicitar o corte. A mesma cidade tem realizado um combate contínuo a árvores frutíferas em vias urbanas. Não é piada, infelizmente. O argumento é que os frutos das árvores podem causar quedas das pessoas.
Já tratei deste assunto inúmeras vezes, como quando as árvores são cortadas para dar lugar a estacionamentos. Quando fazem estacionamentos recuados, que além de tirar-nos o direito às árvores nos tiram as vagas públicas, transformadas assim em acesso privativo.
O jornalista Washington Novaes costumava dizer que na sua opinião o ministério mais importante de uma nação seria o de Meio Ambiente, porque está interligado com tudo. Mas a impressão é a de que, por mais que se fale da importância do meio ambiente, os gestores públicos ignoram. Se vai dar tempo de reverter o dano que estamos causando a nós mesmos e às próximas gerações, não sabemos. Primeiramente precisamos querer. E pelo visto os tomadores de decisão não estão nem aí para isso. Quanto mais alertamos, mais reagem, mais destroem o que deviam proteger.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br
Comentários estão fechados.