A Praça das Aroeiras reflete o Brasil: desprezo pelo meio ambiente

A Praça das Aroeiras pode estar com os dias contados, para dar lugar a uma escola. Como se não tivesse nenhum outro terreno para que a escola e a praça possam existir.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

A Praça das Aroeiras virou alvo de disputa em Foz do Iguaçu e isso reflete bastante sobre o atual momento em que a sustentabilidade é bastante falada, mas pouco praticada. Estamos diante da galinha de ovos de ouro e enquanto uns querem jogar milho para colher os ovos, outros estão de olho é na galinha depenada.

No contexto de Foz do Iguaçu, de um lado está um grupo que defende que a Praça das Aroeiras deva ser abrigo da fauna, flora e lazer para a comunidade. E que a sede própria da Escola Municipal Professora Lucia Marlene Nieradka seja construída em outro terreno. De outro lado, estão pais, professores e Prefeitura, que defendem que a Escola seja dentro da Praça.

No panorama nacional está a Petrobrás querendo perfurar a foz do Amazonas em busca de petróleo em águas profundas, enquanto que o IBAMA negou a licença para tal pedido. E está a Câmara dos Deputados, tirando autonomia do Ministério do Meio Ambiente e Povos Indígenas, afrouxando a leis que protegem a Mata Atlântica e deixando ainda mais inseguras as reservas indígenas.

Assim como não é possível fazer omelete sem quebrar ovos, não tem como ‘plantar’ escola no lugar de uma praça, sem cortar as árvores. Ou uma coisa ou outra. E quem diz que nenhuma árvore será cortada, devia andar pela cidade. Qualquer obra que se faça, onde tem uma árvore na calçada, ela na maioria das vezes é cortada. E como seria, então, o impacto em uma praça?

Também não dá para continuar incentivando o uso de combustíveis fósseis, e colocando em risco nossa biodiversidade, enquanto que o mundo já navega em busca de fontes alternativas de energia. Lembram de quando a Petrobrás derramou óleo nos rios Barigui e Iguaçu? Tem leitor que nem era nascido. Foi no ano 2000. Uma tragédia, com 4 milhões de litros de óleo cru, que causou um desastre ambiental. Só depois de 21 anos veio a multa de quase 1 bilhão de reais, para compensar os danos. Compensou?

Hoje na TV disseram que foi o Centrão que ganhou com as votações de quarta-feira (24). Do jeito que votaram, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) sai do Ministério do Meio Ambiente e vai para o Ministério de Gestão e Inovação em Serviços Públicos. O CAR ajuda a combater os desmatamentos e a grilagem de terras.

Também o Ministério dos Povos Indígenas, foi nocauteado, pois a sua tarefa de reconhecer e demarcar os territórios indígenas foi transferida para o Ministério da Justiça. E para ajudar, os políticos decidiram dificultar a demarcação das terras indígenas, exigindo que para que sejam consideradas tradicionalmente ocupadas, em 5 de outubro de 1988 o povos indígenas deviam estar fisicamente nas mesmas. A Mata Atlântica corre ainda mais risco, com menos critérios que vão facilitar o desmatamento.

Não foi o Centrão quem ganhou, nem só a biodiversidade que perdeu. Foi a sociedade que jogou mais uma pá de cal sobre si mesma, pois até parece que a humanidade não faz parte do meio ambiente.

No último domingo (21) a Praça das Aroeiras mostrou sua importância, para quem ainda parece não perceber. Estava lindo de ver, crianças correndo, brincando, pulando, jogando bola, pais sentados em cadeiras ou no gramado conversando, aproveitando as sombras das árvores. Passando uma tarde de domingo que provavelmente não faz parte da rotina.

O intuito da reunião das famílias era defender que naquele local lindo, maravilhoso, cheio de vida, com gramado, cheio de gritos e risadas das crianças, brote uma escola.

Parece que uma parte da sociedade não se deu conta que quando falamos de futuro das crianças, precisamos falar do destino do Planeta onde essas crianças moram. Não deveria ser uma disputa entre escola e praça. Entre usar combustível ou andar a pé. Precisamos da escola e ela pode ser erguida em curtíssimo prazo em qualquer lugar que não precisa destruir a praça. Só precisa de dinheiro e interesse. Necessitamos de combustível, mas ele pode vir de outras fontes limpas.

É triste porque sempre é o meio ambiente que tem que dar lugar a coisas. Sempre é o meio ambiente que parece que não vale nada. Uma escola pode ser construída da noite pro dia, mas uma única árvore, não. E estamos falando de centenas delas. Um desastre ambiental, em um berço tão importante como a região da foz do Rio Amazonas, custaria quanto em vidas?

Não vi ninguém defender que a escola Municipal Professora Lucia Marlene Nieradka fosse construída no estádio de futebol Pedro Basso, onde hoje ela funciona embaixo das arquibancadas. E muito menos na  Igreja Católica Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde foi abrigada também. Porque esses locais não são terra de ninguém! Cada um atende a uma necessidade da população. As pessoas precisam de um espaço para a fé, para o encantamento do futebol. Assim como precisam da praça. E da escola!

Acredito que se alguém perguntasse para as crianças se elas preferem a praça ou a escola, elas responderiam com sua sinceridade: a praça. Ou diriam, ainda mais sabiamente: os dois. Cada uma no seu quadrado. Qual criança não adoraria correr contra o vento? Se jogar no gramado, subir em árvores e pisar na terra?

Talvez quem lá estivesse, usando o gramado para relaxar e observar a alegria das crianças que brincavam como em um grande quintal, com segurança, não tenha se dado conta de que possa ter sido a última vez naquele ambiente.

A Praça das Aroeiras tem dado pano para a manga. E isso é muito importante. Ao menos abriu a discussão, antes de vir a sentença final, que pode ser mesmo sua condenação. Mas se lá na frente a mesma não existir mais, e esteja cercada por muros, ocupada por crianças uniformizadas e perfiladas, será tarde.

No último domingo a praça estava cheia de alegria! Parecia um almoço de família, mas cujo prato principal era a galinha de ovos de ouro. Me lembrei daquela charge, da barata defendendo o inseticida.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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3 Comentários
  1. Ângela Diz

    Texto perfeito!

  2. Alessandra Diz

    Precisamos pensar e preservar realmente
    O meio ambiente. Uma escola e uma praça são importantes para toda comunidade. Uma praça de quase 50 anos, registrada num bairro com ZR1, que não permite construção deste tipo. A pergunta fica… os moradores devem respeitar e seguir as leis , e a PMFI ??? A população que não se engane, a PMFI tem outras áreas que são reservas técnicas para construir …. Mas não tem outras praças arborizadas assim no bairro..,, então somente a população irá perder.

  3. Alex Diz

    Bem isso…mas é aquela história…deve haver muito interesse de alguns em transferir essa área para aquela região…pois há diversas áreas no entorno, livres para construção da escola, as quais inventaram inúmeras desculpas para não utilizar.

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