A árvore da rua e a seca na Amazônia

O que acontece de danos ambientais nas cidades é uma fração das tragédias nas áreas menos habitadas.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Todo mundo percebeu a loucura que foi essa onda de calor que atingiu o Brasil na última semana. E agora, em algumas regiões já estamos em clima de inverno novamente. E enquanto o Rio Grande do Sul continua inundado, cidades da Amazônia estão sem água para beber.

O mesmo Cemaden – Centro de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais, do Governo Federal, que previu o alto volume de chuvas no RS, prevê uma forte estiagem até janeiro de 2024. Comunidades que moram em afluentes do Rio Solimões, em casas flutuantes, sentem o nível do rio baixar drasticamente.

Sem oxigênio, com as águas quentes, a vida aquática agoniza. “A seca está fora do normal e deve piorar nos próximos meses. O El Niño tem uma grande contribuição nisso, assim como a distribuição da temperatura das águas do Atlântico Tropical” (Giovanni Dolif, meteorologista do Cemaden)

Além de Manaus, declararam situação de emergência os municípios de Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Coari, Eirunepé, Envira, Itamarati, Ipixuna,  Jutaí, Maraã, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Tabatinga, Tefé e Uarini. Dos 62 municípios do Amazonas, apenas dois não estão sendo afetados pela seca: Presidente Figueiredo e Apuí. Cinco estão em estado de atenção e 38, em alerta. (Agência Brasil)

Mas e o que tem a ver tudo isso com a árvore da sua rua? Aquela árvore frondosa, que tomava conta de tudo, fazia sombra e refrescava a rua e foi derrubada por conta de uma nova fachada comercial? Tudo contribui para os eventos climáticos extremos. Normalmente cada cidadão tem como a maior demanda do mundo aquilo que diz respeito às suas necessidades particulares.

Isso faz com que uma grande quantidade de mata seja derrubada ou rios poluídos, por exemplo, de modo irregular, porque na visão de quem o faz isso é justo e necessário. E não importa o impacto para o restante da sociedade. E com base nesse pensamento o morador da área urbana faz ligação clandestina ou corta uma árvore e pavimenta todo o solo, porque a prioridade está focada em suas necessidades imediatas. O resto que lute!

Deste modo, a sociedade vai destruindo o meio ambiente, cada qual contribuindo com sua parcela. E no final, o resultado chega em forma de fenômenos meteorológicos cada vez mais previsíveis. E a cada estágio mais incontrolável, diante da humanidade que não quer puxar o freio de mão da destruição.

A rua da minha casa, logicamente em frente onde moro, tem uma única árvore com mais de quatro décadas. Todas as outras árvores já foram cortadas. A última dela, foi derrubada, sem autorização, por um empresário. Ele foi multado. Não bastasse isso, foi cortada uma outra mais nova, um ipê, de uns anos, que havíamos plantado. Cuidamos para assegurar que a árvore rebrotasse. Veio o órgão responsável e tascou outra muda junto.

A justificativa foi que o ipê não ia brotar mais. E ele brotou por duas vezes e foram lá e arrancaram seus brotos. Até que colocamos uma placa pedindo que ele fosse respeitado, mas ainda assim, alguém veio e arrancou as novas folhas pela terceira vez, mas deixando o galho mais forte. Agora, no mesmo local estão duas pequenas árvores, lutando pela sobrevivência. Eu costumo regá-las. Mas, quanto tempo será necessário para atingirem o esplendor daquelas cortadas, porque o empresário achou que sua necessidade era a prioridade número um?

E isso acontece também com as minas d’água que brotavam em nossas cidades e foram soterradas e com os rios canalizados que além de esgoto clandestino, muitas vezes recebem descargas de empresas que cobram taxas para tratá-los e os lançam irregularmente. Também está relacionado com a ‘febre’ de praças tomadas de cimento assim como asfalto nada ecológico, por todos os lados. E assim, sucessivamente.

Sentar diante da televisão ou outra tela qualquer e assistir passivamente as tragédias ambientais que parecem distantes de nossa realidade é algo que deveria ter os dias contados. A sociedade precisa ser acordada pelos governos, pelos gestores públicos. Porém, precisamos também acordar parte destes gestores, que muitas vezes são os principais responsáveis pelas tragédias tantas vezes anunciadas…

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