O que para muitos é considerado fardo, para a irmã Terezinha Maria Mezzalira é missão de vida: ajudar quem bate à porta, migrantes e refugiados, que muitas vezes chegam a Foz do Iguaçu de seus países “sem nada”. Ela foi entrevistada no programa Marco Zero, do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9.
Assista à entrevista:
Na pequena estrutura na Vila Portes, junto à “Feirinha” e ao terminal de ônibus, irmã Terezinha coordena a Casa do Migrante, inaugurada em 2008, dentro de uma visão do Ministério do Trabalho de manter o serviço em toda a faixa de fronteira brasileira. Só o espaço em Foz do Iguaçu perseverou.
A ação consegue ser mantida com solidariedade e uma rede de apoio. A comunidade doa alimentos, colchões e roupas, que chegam a quem precisa com a parceria estreita da Cáritas e do projeto Mãos Vivas. A Agência do Trabalhador intermedeia emprego, e a assistência social do município é chamada para vagas em abrigos.
“É um trabalho árduo e que requer muita doação”, contou, durante a entrevista, revelando que muitas vezes, diante tamanho sofrimento de pessoas, chega a pensar em desistir desse trabalho. “Mas não consigo parar, porque tem um ser humano na minha frente que precisa de ajuda”, reportou, com emoção.
Povos vizinhos
Antes, entidades internacionais repassavam alguma ajuda, o que foi direcionado para o Oriente Médio. No município, há protocolos de atendimento ao migrante e ao refugiado, porém não há recursos públicos, apontou a irmã, à frente da entidade que registra mais de 400 atendimentos mensais presencialmente.
A maior procura pela Casa do Migrante é de paraguaios, que representam cerca de 40% dos atendimentos, seguidos de venezuelanos e argentinos. “A vinda de pessoas da Argentina saltou nos últimos dias, porque muitos informais perderam seu trabalho e alguns que já viviam em situação de vulnerabilidade agora estão vindo recomeçar a vida aqui”, contou Terezinha Maria Mezzalira.
Olhar sensível
Ao Marco Zero, a coordenadora da instituição explicou que o migrante ou refugiado – em menor número na fronteira – chega em busca de uma vida melhor, mais segura e para proteger a própria vida e a da família, no caso dos que fogem de guerras ou perseguições. A situação política, social, econômica ou beligerante empurra as pessoas para fora de seus países.
“A maioria dos que chegam aqui querem ficar na região, precisam regularizar a situação de migrante para procurar trabalho”, relatou. Alguns buscam abrigo temporário ou estão de passagem, atravessando a fronteira para alcançar outros países ou retornar a eles.
Os cidadãos paraguaios que procuram a Casa do Migrante não demandam outros auxílios além da regularização da situação migratória, para trabalharem principalmente em meios rurais nas cidades do Oeste. Em geral, vêm de municípios mais rurais do país vizinho e não permanecem em Foz do Iguaçu.
“E tem os fronteiriços, que vêm e voltam todos os dias. Também representam um número elevado de atendimento”, mencionou a irmã Terezinha. A ajuda também impede a ação do chamado “gestor”, um intermediário que se vale da fragilidade dos migrantes, chegando a cobrar mais de R$ 1 mil por um simples agendamento, que é de graça.
A coordenadora descreveu a situação social em que filhos e netos de brasileiros que foram para o Paraguai na década de 1970, por exemplo, estão voltando ao Brasil. “Porque nunca foram proprietários, e hoje o dono da terra não precisa mais deles, a máquina faz tudo. Vêm de volta praticamente sem nada, muitos nem sequer sabem ler ou escrever”, enfatizou.
No Marco Zero, irmã Terezinha relatou particularidades de cubanos que chegam a Foz do Iguaçu, muitos com recursos, mas que entram no país com visto de turista, não conseguindo buscar suas famílias. São pessoas que geralmente têm nível elevado de ensino, falam vários idiomas e possuem boa formação.
Ela lamentou a condição de exploração a que são submetidos os venezuelanos durante o percurso migratório. “É sofrimento muito grande. São roubados no caminho. Tem meninas que chegam grávidas, porque são violentadas no caminho. Recebemos um migrante que passou por cinco países até chegar aqui só com a roupa do corpo”, sublinhou irmã Terezinha.
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