
Na versão para o cinema do seriado Miami Vice, um clássico dos anos 80 em várias partes do mundo, os detetives Ricardo Tubbs e Sonny Crocket vão passar por Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu. Expectativa é grande quanto à repercussão em torno das cenas do filme, sobre agentes que combatem narcotráfico. Elenco tem Jamie Foxx e Colin Farrell, sob direção de Michael Mann.
Expectativa é grande quanto à repercussão em torno das cenas do filme, sobre detetives que combatem narcotráfico, previstas para serem feitas no município paraguaio
A lista de personalidades notáveis atraídas pela Tríplice Fronteira não está resumida a reis, príncipes, princesas, chefes de estado, artistas ou outros ilustres. A passarela reúne também Mr. Magoo, James Bond, o mercador Mendonza, o navegador Alvar Nunez Cabeza de Vaca e até dinossauros. Agora, o time de personagens da ficção que retrataram as singularidades da região terá companhia.
Na versão para o cinema do seriado Miami Vice, um clássico dos anos 80 em várias partes do mundo, os detetives Ricardo Tubbs e Sonny Crocket vão passar por Ciudad del Este, município paraguaio na fronteira com Foz do Iguaçu. O filme tem distribuição e produção da Universal Pictures, com previsão para estrear em 28 de julho de 2006 nos Estados Unidos.
Na sinopse, a dupla Ricardo Tubbs e Sonny Crocket combate o tráfico de drogas na Flórida. A história, como não poderia deixar de ser, dará uma esticada para a América Latina e o Caribe. Além das locações em solo norte-americano e em Ciudad del Este, a narrativa passará pelo Rio de Janeiro, Havana (Cuba), Barranquilla (Colômbia) e Porto Príncipe.
O filme é dirigido Michael Mann (O Último dos Moicanos, 1992; Fogo contra Fogo, 1995; O Informante, 1999; Ali, 2001; e Colateral, 2003) e tem como protagonistas Jamie Foxx (Um Domingo Qualquer, 1999; Ali, 2001; Ray, 2004; e Colateral, 2204), Colin Farrell (Minority Report – A Nova Lei, 2002; Por um Fio, 2002; O Novato, 2003; S.W.A.T. 2003; e Alexandre, 2004) e Gong Li (Adeus Minha Concubina, 1993). Jamie Foxx foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em Colateral e ganhou o prêmio de melhor ator por seu trabalho em Ray, ambos na premiação deste ano. Na foto, Colin Farrell.
As filmagens no Hemisfério Norte começam em breve, mas as locações em Ciudad del Este devem acontecer só em setembro. Apesar da distância de ao menos cinco meses para o primeiro take na fronteira, a produção já rende polêmica na região. A imprensa, artistas e autoridades paraguaias estão divididos se a produção em solo guarani será positiva ou negativa.
A expectativa é grande. Sabe-se que a produção Michael Mann injetará milhões de dólares na economia local e não repetirá as películas classe D que retratam as mazelas latino-americanas. Com a bagagem do diretor e do elenco, ainda que dentro da cartilha de Hollywood, a equipe anuncia cenas importantes em Ciudad de Este. Mas — talvez justamente pela indefinição do termo — surgiu até enquete no site do principal jornal paraguaio, o ABC Color.
É certo, por enquanto, que o roteiro deixará de lado a realidade de duas décadas atrás e será contemporâneo. Comentários nos bastidores anunciam cenas de perseguição de automóveis, de embarcações pelo Rio Paraná e muita troca de tiro e até algumas explosões. Por outro lado, em conversas preparatórias as autoridades locais sugeriram algumas cenas no Museu Moisés Bertoni e no Salto Monday, dois belos atrativos, como forma de impulsionar o turismo da região.
Especialistas vêem projeção
ambígua de Ciudad del Este
O diário La Nación, em 21 de março, endossou a polêmica. Haverá perseguições de risco nas águas do Paraná?, questionou. Parece que sim, ao parecer não haverá filmagens da cidade, mas sim de cenários naturais. De todo o modo, nada é mais igual no Leste do país desde que, não só os serviços dos Estados Unidos colocaram seu olhar na região, mas também Hollywood, concretamente os Estúdios Universais. Haverá bastante movimento, e é mais que seguro que se recrute a numerosos figurantes.
O jornalista Alejandro Sciscioli, do La Nación, ressalta o fato de a comunidade audiovisual do Paraguai estar debatendo os aspectos positivos e negativos da iniciativa. Alguns defendem o cinema artesanal, mesmo com baixos recursos, mas com imaginação e retorno garantido à América Latina, escreveu recentemente. Para ele, a polêmica é válida porque pode trazer lições e experiências para uma sociedade democrática.
Já a ministra de Turismo, Evanhy de Gallegos, que esteve reunida no dia 21 de março com dois representantes da produção do filme em Ciudad del Este, tem bastante expectativa sobre o resultado das três semanas de locações previstas na fronteira. Na ocasião, os produtores pediram agilidade na entrada e saída dos equipamentos, do elenco e de cerca de cem técnicos. Também anunciaram a necessidade de contratar uns 80 trabalhadores e 600 figurantes.
Segundo Evanhy de Gallegos, a possibilidade de a película afetar negativamente o município pode ser descartada, visto que a série dos anos 80 favoreceu enormemente o turismo de Miami, da mesma forma que Kojak não afetou Nova Iorque. O trabalho não deve ser visto como um prejuízo, mas sim como uma oportunidade ao Paraguai, que pode ganhar um pouco de interesse mundial, opiniou ao La Nación. Nós somos muito pitorescos, foi isso que lhes chamou a atenção.
A mesma opinião é compartilhada pelo prefeito de Ciudad del Este, Javier Zacarias. É um acontecimento de grande envergadura, com um investimento de uns 13 milhões de dólares, disse ao diário. O deputado estadual Germán Cantero, do partido Patria Querida, por sua vez, declarou ao La Nación considerar o projeto interessante, porém tem dúvidas tratando-se de uma iniciativa dos Estados Unidos. Em sua opinião, é preciso descobrir o que há por trás do interesse norte-americano.
Jornal narra sonhos
de atores fronteiriços
Essa é a posição do diretor. Do outro lado da polêmica está o artigo dos jornalistas Andrés Colmán Gutiérrez e Francisco Espínola, do diário Última Hora (que ao lado do ABC Color e do La Nación forma o tripé dos impressos paraguaios mais expressivos). Uma opinião pra lá de explosiva.
O texto discorre sobre Ivanna, uma bela vendedora de butique que se prepara para fazer uma ponta no filme dos astros Jamie Foxx e Colin Farrell. Você acha que posso conseguir um papel no filme?, perguntou a jovem paraguaia aos repórteres. Narra ainda o paradoxo de Julio Vera, um vendedor que está pronto a ajudar na produção. Embora não saiba quem é Michael Mann, o diretor do filme Colateral, cuja cópia falsificada está entre as suas centenas de DVDs piratas, Vera torce pelo sucesso do projeto, pois assim o filme no qual aparece Ciudad del Este venderá como água e ele ganhará muito dinheiro.
Mauro Céspedes, secretário de Turismo e chefe de gabinete de Ciudad del Este, é o terceiro personagem real do jornal. Céspedes recebeu uma carta na qual os produtores garantem não falar sobre o terrorismo, porém anunciam que falarão sobre narcotráfico.
Indagado quanto ao possível aumento da imagem negativa, responde: Não creio que podemos ter uma imagem mais negativa que já temos. Pelo contrário, o filme mostra como somos, e ainda assim os turistas vão querer vir conhecer-nos. Essa é a grande força do cinema e temos que aproveitá-la.
Resumo da ópera. Ivanna sonha ser atriz, Julio Vera sonha como vender milhares de cópias de CDs piratas. Mauro Céspedes sonha como trocar o destino de Ciudad del Este. Miami Vice, todavia, não começou a ser filmada, mas os sonhos já estão rodando, alfineta a dupla do Ultima Hora.
(Portal H2FOZ – Alexandre Palmar)
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Leia algumas das matérias publicadas na imprensa do Paraguai sobre o tema (www.lanacion.com.py)
“Miami Vice”
(La Nación, 16/04/2005)
“Miami Vice” divide opiniones en el Este
(La Nación, 23/03/2005)
Responsables de “Miami Vice” estuvieron en la Cancillería
(La Nación, 22/03/2005)
Desde las playas de Miami a las aguas del río Paraná
(La Nación, 21/03/2005)
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ÚH recorrió las locaciones: Estos son los sitios donde se filmará Miami Vice
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