Jogador de futebol, cantor, compositor, produtor e… líder do tráfico no Paraguai

Uruguaio de 30 anos é o suposto líder de organização criminosa paraguaia.

Uruguaio de 30 anos é o suposto líder de organização criminosa paraguaia.

A operação “A Ultranza PY”, que desde terça-feira, 22, desarticula uma organização que trafica cocaína para a Europa, já apurou quem são os líderes e como funcionava o esquema criminoso.

Um dos principais nomes da organização é o do uruguaio Sebastián Enrique Marset Cabrera, de 30 anos, detido no Uruguai porque portava passaporte adulterado.

Marset foi cantor, compositor e produtor, além de organizador de concertos. Foi ainda jogador de futebol, atuando pelo Club Deportivo Capiatá, do Paraguai, como conta, em longa reportagem, o jornal Última Hora.

O primeiro vínculo dele com o Paraguai foi descoberto pela operação Wayra, desenvolvida em 2013, em conjunto entre a Senad e a Direção Geral de Repressão ao Tráfico Ilícito de Drogas, da Polícia Nacional do Uruguai.

As investigações comprovaram que Marset era o destinatário de um carregamento de 450 quilos de maconha, que foi transportada do Paraguai ao Uruguai num avião pilotado por Juan Domingo Viveros Cartes, o Papacho, tio do ex-presidente Horacio Cartes.

Marset confessou a ligação com Papacho e ficou preso cinco anos.

O uruguaio já cumpriu cinco anos de pena no seu país. Foto publicada no jornal Última Hora

APTIDÕES

Ao ser libertado, em 2018, tornou-se publicitário e produtor musical, coordenando mais de 400 eventos e concertos naquele ano. Foi também cantor, compositor e produtor, tornando-se um dos nomes mais respeitados no meio musical.

Em 2021, mostrou uma nova aptidão: virou jogador profissional de futebol, atuando com a camisa 10 no Club Deportivo Capiatá, no Paraguai, onde ficou por alguns meses.

Ele entrou no clube com a promessa de que haveria um patrocínio de 100 milhões de guaranis, pela empresa Total Cards. Não houve pagamento, porque Marset deixou de ir aos treinos sem avisar nada. Ele também nada recebeu do clube.

A operação desenvolvida pela Senad, com colaboração da agência americana antidrogas, dos Estados Unidos, da Europol e da Polícia Nacional do Uruguai, com apoio do Ministério Público, aponta Marset como o principal líder da organização criminosa no Paraguai.

SÓCIO

Mas há outro nome importante, o de Miguel Insfrán, que junto com Marset negociava com os fornecedores e compradores de cocaína, além de garantir o envio da droga. Em dois anos, 2020 e 2021, teriam enviado para a Europa 15 toneladas de cocaína.

Marcet Miguel Insfrán, de 40 anos, vulgo Tio Rico, segundo matéria publicada no jornal ABC Color, utilizaram os ganhos com o tráfico em formação e aquisição de empresas, bem como na compra de bens, registrados em nome de firmas e pessoas físicas, entre as quais as de seus respectivos núcleos familiares, conforme processo aberto pelo Ministério Público do Paraguai,.

Os negócios cresceram a partir do momento em que a organização começou a agrupar vários grupos criminosos nacionais e internacionais, para atuar de forma conjunta e coordenada. Foi Marset quem conseguiu a associação com criminosos de países produtores, como a Bolívia.

ROTA DA DROGA

A cocaína era trazida da Bolívia ao Paraguai em aviões com matrículas bolivianas, que aterrissavam numa pista clandestina próxima à fronteira entre os dois países. Dali, era transportada por aviões com matrículas paraguaias até fazendas pertencentes a Miguel Insfrán, no departamento de Presidente Hayes.

Depois, a carga era levada em caminhões com fundo falso a depósitos no departamento Central, também propriedades de Insfrán.

Quando já havia uma carga suficiente, a cocaína era enviada à Europa, dentro de contêineres com mercadorias de exportação.

MUITO ENVOLVIMENTO

Tudo isso exigia o apoio de empresas e pessoas físicas dedicadas ao comércio exterior, que usavam seus conhecimentos e experiência para não levantar suspeitas.

Entre essas empresas, destacou o ABC Color, estão a Artis SA, Neumáticos Guairá SA, Notia SA e Maxigrains SA. Todas têm um representante comum: Luis Fernando Sebriano González.

Uma carga de 1.131 kilos de cocaína, enviada dentro de um carregamento de farinha de soja pela Artis SA”, caiu no porto de Bruxelas, na Bélgica, em 18 de junho de 2020.

Outra carga de 10.964 kilos, enviada por Neumáticos Guairá SA”, foi descoberta nesse mesmo porto, em 2 de abril de 2021.

E a última, com 4.174 kilos de droga, enviada junto com farinha de soja pela Guaraní Business Import & Export SA, foi apreendida no porto de Rotterdan, na Holanda.

Os contêineres com drogas saíram do porto fluvial de Villeta, no Rio Paraguai, localizado a 36 km de Assunção. A mercadoria era enviada por hidrovia até portos do Uruguai e Argentina, de onde seguiam em navios para a Europa.

LAVAGEM DE DINHEIRO

Sede de uma das fazendas que pertenciam aos criminosos, que agora passará a ser propriedade do governo. Marca registrada: luxo. Foto: senad
Alguns dos bens apreendidos confirmam a vida extravagantemente luxuosa dos criminosos. Fotos: Senad

Os ganhos obtidos com a venda eram em dólares, que passavam por vários países, inclusive o Brasil, até entrar no Paraguai. A transferência era feita por meio de “Token”, um dispositivo gerador de senhas muito utilizado pelos bancos.

O dinheiro destinado a Marset tinha como senha a inscrição PCU. Segundo o ABC Color, o uruguaio tem tatuada esta senha no punho.

Entre 2020 e 2022, o empresário Alberto Koube Ayala, presidente do Tapyracuai SA, fez parte da organização criminosa, utilizando-se de sua experiência e conhecimentos adquiridos no meio comercial e empresarial, como apurou a Senad.

BUSCAS E PRISÕES

A operação “A Ultranza PY” tem como objetivo a detenção de mais de 30 pessoas. Desde terça-feira, houve sete prisões (a imprensa paraguaia tinha informado que seriam oito, mas houve correção posterior).

Até agora, foram apreendidos bens no valor de aproximadamente US$ 100 milhões, o que inclui carros de luxo, propriedades também luxuosas, um iate, aviões e caminhões, entre outros.

Fontes: Senad, Ministério Público do Paraguai e jornais ABC Color e Última Hora

PISO DE MADEIRA RECHEADO COM COCAÍNA

A droga estava dentro do piso. Foto: Senad

A Senad concluiu na madrugada desta sexta-feira, 25, a inspeção e a pesagem da cocaína que estava oculta em pisos de parquet. No total, chegou-se a 162,6 quilos, noticia o jornal Última Hora.

A droga foi apreendida na quarta-feira, na operação Conexão Espanha. Ela estava dentro de um contêiner no Porto Seguro, de Villeta, e teria como destino a Espanha, onde é avalida em 9,7 milhões de euros (mais de R$ 55 milhões).

Foi com base na análise do serviço de inteligência da Senad que a cocaína foi descoberta dentro do piso. O pedido para que a Aduanas retivesse o contêiner suspeito foi feito no último dia 16.

A Senad já identificou e fez buscas e apreensões na empresa e residência dos suspeitos.

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