O esquema de tráfico de cocaína para a Europa traz um lucro assustadoramente alto.
O programa Fantástico da Rede Globo, neste domingo (20), abordou a Operação Turfe, que procurou cumprir 20 mandados de prisão em cinco estados e em Hernandarias, no Paraguai.
O nome da operação, desenvolvida pela Polícia Federal com apoio do Gaeco e do Ministério Público, remete ao gosto de um dos chefes da quadrilha, um carioca que está preso e é apaixonado por cavalos de corrida.
A operação foi deflagrada depois de um ano e meio de investigação, em que a polícia colheu vídeos e áudios, aos quais o Fantástico teve acesso exclusivo.
O carioca Cristiano Cordova, de 42 anos, se apresentava como empresário de transporte de carga.
O delegado da Polícia Federal Heliel Martins, um dos responsáveis pela operação, disse ao Fantástico que o lucro das vendas era aplicado por Cordova na compra de cavalos de corrida, carros e imóveis de luxo e aviões particulares.
A polícia estima que ele tenha atualmente 60 cavalos de corrida. Um único cavalo de corrida pode custar até US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões).
HERNANDARIAS
Os criminosos retiravam contêineres lacrados do porto do Rio de Janeiro e substituíam parte da carga por cocaína. Toneladas da droga eram então levadas por navios até países da Europa, principalmente.
O braço direito de Cordova, de acordo com as investigações, seria Lindomar Furtado, que tem uma mansão no condomínio de luxo Paraná Country Club, em Hernandarias, no Paraguai.
A Secretaria Nacional Antidrogas, que apoiou a Operação Turfe, foi ao condomínio para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar, com auxílio de informantes na portaria e de uma parente, que retardou a entrada dos agentes.
O Fantástico ressalvou, ao final, que a defesa de Lindomar Furtado disse que só vai se manifestar depois de analisar os documentos da investigação.
Já em nota, a defesa de Cristiano Cordova disse que considera desnecessária a prisão reventiva de seu cliente e que os fatos serão, oportunamente, esclarecidos perante o Poder Judiciário.
SARCASM0
Nas gravações obtidas pela polícia, o empresário carioca ironiza o tempo todo o trabalho da PF.
A certa altura, alguém pergunta se ele acha que a Polícia Federal está trabalhando muito, no Rio de Janeiro.
A resposta: “Deve estar, porque não consegue prender nós (sic)”.
Em outra gravação, disse: “A polícia até pode saber de nós, mas não tem prova.”
Também em áudio gravado, Lindomar Furtado aparece dizendo para substituir parte da carga do contêiner de mercadorias que iriam para a Europa por 1.800 quilos de cocaína. Não há participação no esquema de funcionários das transportadoras nem do porto.
A operação contou com apoio da polícia europeia (Europol) e da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA).
Um detalhe curioso: apesar de todo o dinheiro e luxo, tanto Lindomar como Cordova parecem dois completos ignorantes da língua portuguesa. Pra eles, não há plural, por exemplo. Não frequentaram escolas, certamente.
O LUCRO
A cocaína levada à Europa passa pelo Paraguai, antes de chegar a portos no Brasil. A diferença no preço da cocaína no Paraguai, na comparação ao que é vendida na Europa, explica o interesse do tráfico internacional.
Em reportagem publicada nesta segunda-feira, 21, o jornal Última Hora informou que, de acordo com a Senad, a cocaína no Paraguai custa em torno de US$ 7 mil o quilo. Nos Estados Unidos, é cotada em US$ 31.200. Na Europa, o preço dispara pra US$ 85 mil, 12 vezes mais que no Paraguai.
Já na Austrália, é 20 vezes mais cara que o preço cobrado no Paraguai: US$ 142 mil o quilo.
Não por acaso, no áudio gravado das conversas entre os traficantes, um deles diz que pretende explorar uma nova rota, via África, para chegar ao mercado australiano.
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