Ele aparece em áudios filtrados que o vinculam com organização criminosa.
O deputado Juan Carlos Ozorio, do Partido Colorado, anunciou sua renúncia ao cargo. Ele alegou “estresse” depois de ter seu nome envolvido com uma suposta rede de tráfico de drogas.
Os áudios foram divulgados pelo jornalista Alfredo Guachiré, que denunciou a ligação do deputado com o chefe de uma organização criminosa que produzia cocaína e maconha para vendê-las ao Comando Vermelho.
Segundo o relato do jornalista, o deputado começou no negócio em 2019, montando um laboratório em Alto Paraná, cuja capital é Ciudad del Este.
O jornal Última Hora publicou algumas das conversas gravadas – que despertam muitas suspeitas – com supostos traficantes bolivianos, paraguaios e brasileiros.
Entre os contatos, estavam Óscar Agustin Sanabria, detido por agentes da Senad em abril do ano passado, durante buscas em Pedro Juan Caballero que culminaram com a apreensão de 10 quilos de cocaína e pacotes de maconha.
Outro seria o brasileiro Carlos Alberto de Lima da Silva, um dos supostos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que foi preso no Paraguai e entregue às autoridades brasileiras na Ponte da Amizade.
Há outro nome importante nas ligações de Ozorio: o pastor José Insfrán, acusado de ser um dos líderes de uma quadrilha que traficava cocaína para a Europa.
Insfrán teve prisão decretada, mas está foragido. Ele mantinha no Paraguai uma sede da igreja evangélica Avivamento, criada na Colômbia.
Sobre suas constantes viagens à Colômbia, muitas delas junto com Insfrán, o deputado alegou nesta quarta-feira que eram para “regozijar-nos nos braços do Altíssimo”, já que ele também pertence à igreja Avivamento.
Ele disse desconhecer o paradeiro do pastor Insfrán, agora com prisão decretada após as investigações feitas pela operação “A Ultranza Py”, desenvolvida pela Senad com apoio da agência americana DEA e da polícia uruguaia.
O deputado garantiu, também, que o pastor não contribuiu com dinheiro para sua campanha política, apenas com “oração e muita força”.
FORAGIDOS
Além do pastor Insfrán, a juíza Rosarito Montanía ordenou a captura internacional de outros seis processados por narcotráfico, lavagem de dinheiro e associação criminosa, com base nas investigações da megaoperação “A ultranza Py”.
Os outros seis são o uruguaio Sebastián Marset Cabrera, Gianina García Troche, Diego Marset Alba, José Insfrán Galeano, Gilberto Sandoval Giménez e Marta Noguera Gauto.
Enquanto isso, a Senad continuou na terça-feira a fazer novas buscas, agora concentradas nos bens do pastor Insfrán.
Uma delas foi no Igreja Centro de Avivamento, filial de Mariano Roque Alonso, onde também o luxo é uma das características. Os agentes encontraram, detrás de uma parede, um esconderijo, que se suspeitava estava sendo preparado para ocultar objetos de valor.
Outra foi numa propriedade rural de 8 hectares, que funcionava como retiro espiritual. Ali havia uma mansão principal, casas de serviço, 30 cabanas, um salão de eventos, canchas esportivas, uma piscina e cantina.
De acordo com a Senad, as caríssimas construções e os grandes eventos religiosos serviam para injetar o dinheiro obtido ilegalmente no circuito financeiro local.
ASSASSINATO
Ainda na terça-feira, mais um estranho crime. A ex-cozinheira do clã Insfrán, Fátima Liliana Rejala Cabrera, de 39 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça, em Mariano Roque Alonso.
A vítima foi abordada em sua casa por dois homens, que alegaram ser cobradores de uma financeira, onde ela teria uma dívida. Eles pediram que ela mostrasse sua identidade e, logo a seguir, deram um tiro em sua cabeça.
O chefe do Departamento de Homicídios da Polícia Nacional, Hugo Grance, explicou nesta quarta que Fátima trabalhou com o clã Insfrán até o dia das buscas feitas pela Senad, dentro da operação “A Ultranza Py”.
Ela era cozinheira de Miguel Insfrán, irmão do pastor José Insfrán. Ambos estão foragidos, sob suspeita de lavar o dinheiro do narcotráfico por meio da Igreja Centro de Avivamento de Curuguaty e de sua filial de Marin Roque Alonso.
De acordo com o delegado, conforme matéria publicada pelo La Nación, como toda empregada Fátima deveria ter conhecimento de algumas situações suspeitas.
FERRARI NA ARGENTINA
Na província de Buenos Aires, a polícia abordou um caminhão e descobriu que ele transportava uma Ferrari com placas paraguaias.
Sobre esse caso, foi levantada a suspeita de que o carro pertenceria a um dos investigados na operação “A Ultranza Py”. Não havia nenhum documento do destinatário argentino da Ferrari.
A Ferrari custa, na Europa, em torno de 250 mil euros (mais de R$ 1,4 milhão), conforme informou o jornal Última Hora.
OSTENTAÇÃO
Em artigo no Última Hora, o jornalista Alfredo Boccia Paz comenta a vida de luxo levada pelos integrantes da organização criminosa.
“A alta exposição social que os deslumbra nos mostra um universo fashion, divertido, cheio de festas em locais formosos e fantasticamente caros”, disse, e arrematou: “O Paraguai é um país pobre em que estes eleitos vivem como cheques árabes”.
“Compram carros luxuosos, incompatíveis com pavimentos de pedra, iates de valor inverossímil e viajam de maneira compulsiva. O estranho é que este extravante movimento financeiro não deserta o mínimo interesse investigativode nenhum órgão do Estado”.
Entre os acusados pela operação da Senad, não aparecem políticos. “Mas nenhum deles, ainda que se dedique a outro ramo, deixa de estar relacionado, ou ser sócio, parente ou amigo próximo de um político, com preferência do Partido Colorado. Isto tem uma lógica: se o narco o que busca em política é proteção, é natural que a encontra no partido do governo e não nos de oposição”, conclui o jornalista.
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