Em tratamento pelo sistema público de saúde, o aposentado Gualberto Cuenca, de 72 anos, precisa enfrentar outro obstáculo além do procedimento terapêutico para rim e próstata: a demora dos atendimentos em Foz do Iguaçu. Ele relata ter de esperar mais de um mês por exames laboratoriais básicos, requeridos por uma médica nefrologista, que estão agendados para 24 de fevereiro.
LEIA TAMBÉM: Câmara cobra informações de contratos que podem chegar a R$ 24 milhões entre clínica e Fundação de Saúde
O idoso, que tem o direito à prioridade prevista em lei, também afirma que aguarda, desde maio de 2021, para realizar uma cirurgia de postite crônica, agravada pelo diabetes. Ainda, somente no fim do mês passado, quando completou um ano da espera iniciada em janeiro de 2022, ele conseguiu ser atendido por um profissional urologista, enquanto esta matéria passava por apuração.
A leniência no fluxo de exames laboratoriais na saúde iguaçuense retarda o tratamento e pode ter implicações na condição do paciente, inclusive com evolução da doença. “A demora implica impossibilidade de retornar a consultar no prazo indicado pela médica, com a insegurança no ajuste de tratamento adequado”, enfatiza.
Por não ter feito a cirurgia de postite até o momento, sente desconforto e tem dificuldades na higienização. “E tem o perigo de foco infeccioso. O procedimento foi indicado oportunamente pelo médico. Mas, de acordo com a última informação, ainda estou no número 262 da fila de espera, apesar da prioridade de idoso”, expõe Gualberto.
O aposentado, que é comunicador nas Três Fronteiras, mostra-se preocupado com a lentidão no tratamento urológico. “O aumento da próstata é um mal que pode se transformar em algo muito grave se não for tratado rapidamente, com o tratamento certo”, reporta o paciente, a partir de informações que obtém dos profissionais médicos que o atendem.
Em sua peregrinação para cuidar da saúde, conta o que ouve de diferentes servidores das unidades de saúde. A justificativa é a falta de médicos especialistas. “Nos contam que há muita pressão do prefeito para diminuir filas, mas não são dadas as condições necessárias. Querem velocidade de Mercedes, mas dão capacidade de uma bicicleta”, reproduz a comparação que escuta.
O que diz a prefeitura
A Secretaria Municipal de Saúde respondeu às perguntas da reportagem por meio da assessoria da prefeitura. Veja o que afirma a pasta na íntegra das respostas:
Mais de 30 dias para realização do exame está dentro da média?
O prazo da realização de um exame laboratorial para fins de acompanhamento de alguma condição clínica possui diversas variantes, não sendo adequado fazer esta avaliação a partir de um tempo médio de realização em todo município.
Contrato para exames
Atualmente, a Secretaria de Saúde possui contrato em vigência com a BioLabor para a realização dos exames básicos requeridos nas unidades básicas de saúde.
Demora na consulta com urologista
A Secretaria de Saúde possui dois médicos credenciados que fazem o atendimento de Urologia. Eles atendem, em média, 600 pacientes por mês. Ainda assim, mensalmente, entram, em média, 400 novos pacientes na fila.
Atendimento para Gualberto Cuenca
O paciente passou por Consulta Urológica no Centro de Especialidades Médicas (CEM) na data de 25/01/2023, às 18h, Dr. Reynaldo Cesar de Vasconcelos Franco.
Demora na cirurgia de postite
Além da demanda que já existia em andamento na época, ainda houve a pandemia da covid-19, que suspendeu as cirurgias eletivas, ocasionando o aumento de demanda represada.
Previsão de cirurgia de Gualberto Cuenca
O paciente passou por avaliação pré-operatória em 27/01/2023, às 07h30, com Dr Gustavo Zepka. Ele irá realizar os exames e posteriormente retornará para análise. Se confirmada a necessidade, será agendada a cirurgia.
Está sendo garantido o direito a atendimento prioritário?
Sim. A Central de Agendamento da Diretoria de Assistência Especializada aplica a norma legal da prioridade para paciente idoso conforme o Estatuto da Pessoa Idosa, descrito na Lei 10.741/2003. A norma é aplicada no agendamento das consultas, exames e cirurgias.
Exames submetidos a “regulação”
O H2FOZ questionou a prefeitura se a demora na realização de exames laboratoriais tem a ver com “regulação”, uma espécie de controle da gestão municipal na liberação dos procedimentos. Segundo a assessoria, o tempo de um mês de espera relatado por Gualberto Cuenca não tem a ver com esse mecanismo implementado na saúde.
“No caso do paciente citado, nenhum exame laboratorial solicitado no último mês está elencado para passar por processo de regulação”, diz a nota. “Porém, vale ressaltar que hoje os exames laboratoriais que passam por regulação são avaliados em até 24 horas”, completa.
Questionado sobre quais análises passam por regulação, o município elencou nove exames laboratoriais: vitamina D, vitamina B12, TSH, T4 livre, TGO, TGP, ureia, ácido úrico e potássio. “Nenhum destes exames atualmente possui indicação de rastreamento, ou seja, são exames que são realizados em uma população aparentemente sadia para descobrir doenças em estágio precoce”, sustenta a gestão.
Ainda conforme a resposta da prefeitura, “basta o profissional solicitante escrever a justificativa do exame que este será liberado pelo regulador. Todos os exames são avaliados pela regulação no período máximo de 24 horas”, lê-se da nota. Com feito, “não atrasa a execução”, propõe.
Comentários estão fechados.