No mês passado, um homem foi preso em Foz do Iguaçu acusado de estupro de 300 crianças, utilizando jogos on-line como meio. Campo amplo, a internet une possibilidades e riscos e, tratando-se de crianças e adolescentes na rede virtual, exige entendimento e atenção de pais, mães e responsáveis.
Psicóloga há quase 30 anos e doutora em Psicologia Clínica, Cynthia Moura abordou segurança do público infantojuvenil na internet, durante entrevista ao programa Marco Zero. Idade para usar celular, tempo de utilização, bloqueio de aplicativos e orientações aos pais foram detalhados pela profissional.
Assista à entrevista na íntegra:
Segurança na internet
Sua paixão profissional, explicou, é atender crianças e adolescentes, o que inclui a família, compreendendo a casa e as relações entre os parentes como rede e ambiente de apoio. Quando iniciou seu trabalho, resgatou, os desafios eram a tevê e videogame, ante a internet, que considera “muito mais viciante”.
Mas, afinal, é possível manter crianças e adolescentes seguros na internet? Em geral, os pais devem monitorar o que é consumido na rede virtual e enfrentar com firmeza os casos em que os filhos reclamam desse acompanhamento. A orientação muda com a idade, conforme a diretora do Instituto de Terapia Criativa.
É preciso evitar dar o celular ao bebês até pelo menos os 2 anos, recomendou. Nessa fase da vida, “existe um mecanismo cerebral que é automático, em que só isso é estimulado [pelo celular]. O bebê não tem que pensar nem raciocinar, não há nada que estimule uma integração sensorial e cerebral”, expôs Cynthia.
Com o avançar da idade, decidido pela liberação dos conteúdos visuais eletrônicos, quanto maior a tela, melhor, completou. A tela da tevê, pelo formato e por ficar mais longe da criança, é mais indicada, até para os pais verem o que o filho está assistindo. Os tablets também são opção.
Adolescência on-line
O adolescente deve saber que pais e responsáveis têm conhecimento sobre o que ele está acessando de forma on-line. Isso remete ao autocontrole, problematizou Cynthia Moura, algo que não é fácil nem mesmo aos adultos – senão, emagrecer seria simples, comparou.
A adolescência é uma fase permeada pela impulsividade, o que é o contrário de controle pessoal. “Autocontrole é uma resposta positiva a um controle externo, em que há alguém monitorando, e a pessoa precisa responder a isso. É por isso que os pais devem controlar”, asseverou.
Ela citou um caso que atendeu. O pai vinculou seu celular ao da filha, que protestou, sem o familiar recuar. O resultado foi excelente. “Ela saiu da crise depreciva, melhorou notas e relacionamentos sociais, porque não pôde mais acessar conversas estranhas”, contou a psicóloga.
Com efeito, a questão caminha para a privacidade, a individualidade e o espaço para os jovens. “É preciso de privacidade em outras situações, mas na internet isso é muito perigoso para crianças e adolescentes. Precisa fazer uma negociação, mas sendo firme.”
Ainda segundo a profissional, “a mensagem do limite é uma mensagem de amor, de proteção, de ‘eu me importo com você’. Isso deve ser conversado caso a caso, que cada família deve ver”, enfatizou. Há casos em que os pais vitoriam os celulares esporadicamente, outros estabelecem horários, exemplificou.
Vasta experiência
Cynthia Moura é formada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (1994). Possui mestrado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2000) e doutorado na Universidade de São Paulo (2007), ambas pós-graduações em Psicologia Clínica.
Trabalha na área de intervenção clínica há quase três décadas. É docente na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, no campus de Foz do Iguaçu, tendo já lecionado na UEL. É autora de livros, entre eles “Orientação profissional sob o enfoque da análise do comportamento” e “O monstro do problema: ajudando as crianças a entender a psicoterapia”.
É empresária, proprietária da marca Terapia Criativa, na qual é autora e curadora de materiais e jogos terapêuticos para intervenção com crianças, adolescentes e pais. Saiba mais em @dracynthimoura.
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