No mundo, mais de 4,8 milhões de pessoas de 43 países já foram vacinadas contra a covid-19. A partir desta terça-feira, 29, dá pra aumentar um pouquinho a conta: 300 mil argentinos começam a ser imunizados com a primeira dose da vacina russa Sputnik V.
É só o começo, claro. Em Puerto Iguazú, serão vacinadas apenas 95 pessoas, todas ligadas ao setor de saúde pública. Ainda em janeiro, a Argentina pretende vacinar pessoas que fazem parte de grupos de risco, com idades entre 18 e 59 anos; e os idosos com mais de 60 anos.
A Sputnik V, fabricada pelo Centro Gamaleya, gera controvérsia porque a única garantia de que é eficaz como os russos dizem (92%) vem… da Rússia. A grande apreensão de especialistas é que ela começou a ser aplicada logo depois dos testes clínicos, que sequer foram registrados ou publicados em qualquer periódico científico, como informa a BBC.
A revista britânica Lancet publicou os resultados das primeiras duas fases de testes da vacina Sputnik V e está aguardando que saiam os da fase 3. Mas isto foi minimizado pela infectóloga argentina Florencia Cahn.
Em entrevista à agência Télam, ela disse que “não é a primeira aprovação que se faz no mundo sem que esteja publicada a fase 3 (o Reino Unido aprovou a da Pfizer antes disso acontecer). Não é um requisito nem uma condição para uma aprovação de emergência”, disse a especialista.
E completou: “É preciso levar em conta que nenhuma das vacinas candidatas finalizou a fase 3, porque esta fase requer uma continuidade de médio e longo prazo; o que se está publicando são resultados interinos em todos os casos que têm uma sustentação suficiente para permitir o uso de emergência”.
O Brasil vem conversando com os russos sobre a Spunik, mas sem nenhuma definição, por enquanto. O governo do Paraná tem um acordo com os russos, mas também não se sabe da possibilidade de a vacina vir pra cá.
A negociação mais avançada, no Brasil, é com a Fundação Oswaldo Cruz, que planeja pedir na semana que vem o registro da vacina que ela vai fabricar, desenvolvida pela universidade de Oxford e grupo AstraZeneca. O laboratório garante que a vacina terá eficácia superior a 90%, depois que sua fórmula foi revista, já que inicialmente não passava de 70%.
Espera-se imunizar mais de 130 milhões de brasileiros com essa vacina. O problema – e sempre tem algum – é que ela não foi aprovada por nenhum órgão regulador do mundo. Nem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
QUATRO EM ANÁLISE NO BRASIL
No site da Anvisa, a informação é de que a agência está analisando quatro vacinas: AstraZeneca/Fiocruz, Janssen, Pfizer e Sinovac/Butantan.
Apenas as fábricas da AstraZeneca/Fiocruz e da Sinovac/Butantan foram inspecionadas pela Anvisa e garantiram a certificação de boas práticas de fabricação. Das quatro fábricas da Pfizer, uma já tinha certificação, duas foram inspecionadas e ganharam o atestado, mas ainda faltam dados de uma delas.
O plano de gerenciamento de risco dessas quatro vacinas já foi apresentado pelos fabricantes e a análise está concluída. O que falta? Nenhum deles fez o pedido de registro na Anvisa. E nem o pedido de uso emergencial.
Aliás, isso foi destacado pelo presidente Jair Bolsonaro no domingo (27), via redes sociais: “Tão logo um laboratório apresente seu pedido de uso emergencial, ou registro junto à Anvisa, e esta proceda a sua análise completa e o acolha, a vacina será ofertada a todos de forma gratuita e não obrigatória”.
Ressalve-se, no entanto, que os produtores da vacina Oxford/AstraZeneca anunciaram, como foi dito acima, que irão pedir o registro na semana que vem.
Veja como está a fase de cada uma das quatro vacinas em análise no Brasil (fonte Anvisa):
Em entrevista ao programa Brasil em Pauta, da TV Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que todos os estados receberão a vacina simultaneamente. “Independentemente da quantidade da vacina, ela será distribuída igualitariamente dentro da proporcionalidade dos estados”.
A previsão do Ministério da Saúde é que 24,7 milhões de doses de vacinas estejam disponíveis em janeiro. “O cronograma de distribuição e imunização é um anexo do nosso plano de imunização”, disse Pazuello, ao acrescentar que o cronograma pode sofrer mudanças. “Você faz a previsão quando contrata, mas às vezes adianta, às vezes atrasa, e a gente vai atualizando esse cronograma.”
A expectativa de Pazuello é que alguns grupos prioritários comecem a receber a primeira dose da vacina contra a covid-19 no final de janeiro, como informa a Agência Brasil. A população em geral começará a ser vacinada cerca de quatro meses após o término da imunização dos grupos prioritários.
PRA TODO MUNDO, MAS SEM OBRIGATORIEDADE
A secretária de Governo da Província de Buenos Aires, informou na segunda-feira que a vacinação começaria nesta terça, tendo como público inicial o pessoal de saúde.
Todos terão acesso à vacina, disse, mas “ninguém é obrigado (a se vacinar); é vacinação com consentimento confirmado”.
Como a disponibilidade das vacinas será gradual, o governo argentino estabeleceu um plano de vacinação com base no “marco bioético fundamentado nos princípios de igualdade e dignidade de direitos, equidade, benefício social e reciprocidade”.
O plano de imunização estabelece que a prioridade serão os grandes aglomerados urbanos, onde ocorrem mais casos, com transmissão comunitária sustentável e as maiores taxas brutas de mortalidade.
Em relação aos grupos populacionais, serão atendidos prioritariamente os adultos com 70 anos ou mais, seguidos elas pessoas com 60 a 69 anos e os adultos de 18 a 59 anos que fazem parte dos grupos de risco.
A província que mais recebeu vacinas, do lote de 300 mil enviadas pela Rússia, foi Buenos Aires (123 mil); a que menos ganhou foi Tierra del Fuego (1.300). Para Misiones, onde fica Puerto Iguazú, vieram 5.200.
PARAGUAI ESTÁ EM “CONVERSAÇÕES AVANÇADAS”
Dos três vizinhos, aparentemente o Paraguai está mais atrasado nas negociações com laboratórios para estabelecer um plano de imunização, embora o ministro de Saúde Pública, Julio Mazzoleni, tenha assegurado, há uma semana, que haveria “conversações avançadas” com dois dos cinco principais fabricantes de vacina.
“Cremos que em março pode desembarcar no país o primeiro lote de vacinas”, disse o vice-ministro de Saúde, Julio Rolón, em entrevista à rádio Monumental 1080 AM. Ele informou, também, que o governo paraguaio entrou em contato com a Rússia para adquirir a vacina Sputnik V.
SITUAÇÃO EM CADA UM
O Brasil é o 3º país no mundo em número absoluto de casos e o 2º em mortes. Mesmo desconsiderando a questão proporcional, os números são assustadores. E justificam, claro, que haja pressa em dar resposta com uma vacina.
A Argentina está em 12º lugar no ranking mundial, em casos, e em 11º em mortes pela doença. São também números elevados. Mas, percentualmente, a situação é ainda mais grave: é um dos países em que a mortalidade pela covid-19 é mais elevada, superior à brasileira (veja quadro).
O que significa a mortalidade. O dado refere-se a quantas pessoas a doença mata, em relação a cada 1 milhão de habitantes do país. No Paraguai, a mortalidade é baixa. A da Argentina é mais alta que a brasileira, mas o índice aqui também vem aumentando muito, nas últimas semanas.
Já o Paraguai, embora em situação melhor por qualquer ponto de vista, está entre aqueles países que terão maior dificuldade para obter a vacina, já encomendada, antecipadamente, pelas maiores economias mundiais. Calcula-se que só a Pfizer tenha encomendas de 2,2 bilhões de doses. Os países ricos adquirem ou encomendam dos vários laboratórios e deixam a periferia à míngua.
Não é o caso do Brasil, devido ao tamanho de sua população e às negociações antecipadas feitas por estados onde há laboratórios importantes, como o da Fiocruz (Rio de Janeiro) e do Butantan (São Paulo). Haverá vacinas, por certo. E experiência em vacinação o País já acumulou ao longo de décadas.
VACINAS APROVADAS NO MUNDO
Entre os países que já iniciaram seus programas de imunização, segundo a BBC, aparecem México, Costa Rica, Chile, China, Emirados Árabes Unidos e os 27 membros da União Europeia.
A ampla maioria distribui a vacina criada em parceria entre a alemã BioNTech e a americana Pfizer. Os Estados Unidos inclusive, mas lá foi também aprovada e distribuída a vacina da americana Moderna.
A Rússia e a China usam vacinas autorizadas apenas por seus próprios governos. Na Rússia, é a Sputnik V, feita com os imunizantes criados pelo Instituto Vector e pelo Instituto Gamaleya. Na Rússia, a imunização é feita com as vacinas de três fabricantes: Sinopharm, CanSino e Sinovac (parceira do Instituto Butantan, em São Paulo).
Nenhuma das vacinas chinesas concluiu as três fases de estudos de segurança e eficácia que antecedem a aprovação por órgãos reguladores de outros países. Mas parece que, em emergência, isso não é tão relevante. Desde que os efeitos colaterais não sejam perigosos e que a eficácia se comprove na prática.
Em resumo, 2020 foi o ano da covid-19. 2021 será o ano da imunização, de um jeito ou de outro.
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