H2FOZ – Denise Paro
Fotos e vídeo: Marcos Labanca
Qual olhar você tem quando circula pelas ruas e bairros de Foz do Iguaçu? No vácuo da falta de placas de identificação e sinalização adequadas há muitas histórias retratadas nos nomes das vias. Algumas são verdadeiro palco para aulas a céu aberto de história, literatura, geografia, biologia e política. Como a cidade não tem uma Casa de Memória ou museu, o exercício de observar o nome de ruas permite degustar um pouco da história local.
A reportagem do H2FOZ, com apoio do ambientalista Francisco Amarilla, percorreu alguns bairros para descobrir curiosidades e desvendar o que os nomes dizem além do que está nas placas.
REPORTAGEM VÍDEO
Qual olhar você tem quando circula pelas ruas e bairros de Foz do Iguaçu? No vácuo da falta de placas de identificação e sinalização adequadas há muitas histórias retratadas nos nomes das vias. A reportagem do H2FOZ, com apoio do ambientalista Francisco Amarilla, percorreu alguns bairros para descobrir curiosidades e desvendar o que os nomes dizem além do que está nas placas. #planetafoz #história
Posted by H2FOZ on Friday, January 25, 2019
Vila Paraguaia, a tradição guarani em Foz do Iguaçu
Um dos primeiros bairros de Foz do Iguaçu, a Vila Paraguaia começou a se desenvolver na década de 1950 impulsionada pela construção da Ponte da Amizade.
O bairro leva o nome por ter atraído uma legião de paraguaios para este lado da fronteira. A maioria chegou ao lado de cá para fugir da ditadura de Alfredo Stroessner, a partir de 1954, ou buscar trabalho.
Por isso, muitas das ruas levam nomes que têm relação com a cultura paraguaia, a exemplo das seguintes:
Rua Mariscal Francisco Solano López – Solano López (1827-1870) foi um governante paraguaio que comandou o país entre 1862 e 1870. Educado na França de Napoleão III, onde recebeu uma educação militar, ele comandava o Paraguai quando o país saiu derrotado da Guerra da Tríplice Aliança, um dos conflitos mais sangrentos da América Latina que resultou em mais de 300 mil mortes. No Paraguai, é visto como herói nacional.
Rua 14 de Maio – Independência do Paraguai do domínio espanhol em 1811. Também se refere a uma organização guerrilheira que insurgiu contra a ditadura de Stroessner (Movimento 14 de Maio).
Rua Nossa Senhora de Caacupé – Padroeira do Paraguai.
Rua Ramon Santacruz Aguayo – Pioneiro da vila.
Beco Acaray – Nome de uma tribo indígena exterminada pelo homem branco. Aca (cabeça) e Y (água). Cabeça de água. O beco é local usado para a festa junina dos moradores.
Beco Caaguazú – Significa grande floresta, em guarani. Também é nome de um departamento (estado) paraguaio.
Rua Ypacaraí – Lago do Senhor, em guarani. Ypacaraí é um lago próximo a Assunção, capital do Paraguai.
Os próprios moradores têm orgulho do bairro e da vila. Mauro Aguilera teve a iniciativa de colocar na própria casa uma placa com o nome da rua e do bairro porque muitas esquinas não têm sequer placas. “Tem pouca sinalização, por isso resolvi colocar”, conta.
Com ações deste tipo, a Vila Paraguaia tenta manter a própria identidade além do nome de algumas ruas. O bairro também possui uma equipe de futebol no campeonato amador e que faz a alegria dos moradores. O uniforme leva as cores da bandeira paraguaia.
Vila Portes: entre poetas, políticos e artistas
A Vila Portes surgiu a partir do colonizador Júlio Carneiro Portes. A família Portes exportava madeira para a Argentina até a atividade ser proibida pelo governo brasileiro. Com o fim das exportações, Júlio começou a lotear o bairro e iniciou a demarcação do que hoje é a Vila Portes, lembra o ex-presidente do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Foz do Iguaçu (Sindhotéis) Esoani Portes, 75 anos.
O empresário chegou a Foz quando tinha 3 anos e acompanhou todo o crescimento da cidade. “A região da Ponte da Amizade não tinha nada. Nós nos obrigávamos a passar para Porto Franco [Paraguai] de bote”, lembra.
O que chama a atenção na região da Vila Portes é o número expressivo de ruas em homenagem a escritores, poetas e artistas brasileiros, um verdadeiro palco para uma aula de literatura e história.
A origem dos atuais nomes das ruas da Vila Portes é desconhecida pela família Portes. Boa parte homenageia poetas, escritores e artistas brasileiros. Entre os moradores e comerciantes, a maioria desconhece quem são as personalidades retratadas nas placas.
Avenida Carlos Gomes – Compositor brasileiro.
Rua Cassiano Ricardo – Jornalista e poeta brasileiro.
Rua Cândido Portinari – Artista plástico brasileiro.
Rua Guimarães Rosa – Escritor, médico, diplomata e contista.
Rua Cruz e Sousa – João da Cruz e Souza foi um poeta brasileiro e um dos precursores do simbolismo.
Rua José de Alencar – Escritor e político brasileiro.
Rua Olavo Bilac – Jornalista, contista e poeta brasileiro. Representante do parnasianismo.
Rua Ariano Suassuna – Dramaturgo, romancista, poeta e professor brasileiro.
Rua Cecilia Meireles – Jornalista, pintora, poetisa e professora brasileira.
Rua Vinícius de Morais – Poeta, dramaturgo, jornalista e diplomata.
Rua José Maria de Brito – Piauiense que foi membro da Comissão Militar que liderou uma expedição para Foz do Iguaçu. Autor do livro A Descoberta de Foz do Iguaçu e a Fundação da Colônia Militar.
Porto Meira, reino dos peixes, flores e minerais
Por ser uma região portuária, o bairro Porto Meira tem um bloco de ruas com nomes de peixes, principalmente entre as avenidas Morenitas e General Meira, nas proximidades do Rio Iguaçu. O próprio nome da Avenida Morenitas remete à isca de peixe. Em outra região, há ruas com nomes de minerais e outras com denominação de flores.
Veja o nome de ruas que lembram peixes ou remetem a água e mar.
Avenida Morenitas – Morenitas são pequenos peixes que servem como isca para pescaria. Eram encontrados em abundância nos banhados do Porto Meira.
Rua Cascudo
Rua Siri
Rua Marisco
Rua Carpa
Rua Água-Marinha
Rua Golfinho
Rua das Orcas
Rua Salmão
Avenida Surubi
Rua Dourado
Rua Caranguejo
Rua Tucunaré
Rua Bacalhau
Travessa Bagre
FLORES
Rua dos Jasmins
Rua das Rosas
Rua das Dálias
Rua das Orquídeas
MINERAIS
Avenida Safira
Rua Quartzo
Rua Ouro
Rua Níquel
Rua Cobre
Rua Ônix
Jardim Central, mundo árabe e de artistas brasileiros
Região habitada por muitos moradores de origem árabe, o Jardim Central tem ruas que remetem à cultura do Oriente, além de mesquita, doceria e restaurantes típicos.
A via onde fica a Mesquita Omar Ibn Al-Khatab é a Rua Meca. O bairro também tem nos logradouros nomes de artistas brasileiros.
Rua Meca – Cidade sagrada para os muçulmanos localizada na Arábia Saudita.
Rua Palestina – Estado cuja independência foi proclamada em 1988 pela Organização para Libertação da Palestina (OLP).
Rua Nelson Rodrigues – Teatrólogo, jornalista, dramaturgo e romancista brasileiro.
Rua Jardel Filho – Um ator brasileiro.
Rua Clara Nunes – Uma cantora brasileira.
Rua Alceu Amoroso de Lima – Escritor, crítico literário e professor brasileiro.
No Morumbi, a bola está em campo
Na região do Morumbi, um bloco de ruas remete a estádios de futebol. Veja alguns:
Rua Moisés Lucarelli – Estádio da Ponte Preta (SP).
Rua Durival Britto e Silva – Estádio do Paraná Clube, também conhecido por Vila Capanema.
Rua Couto Pereira – Estádio da equipe do Coritiba.
Rua Laranjeiras – Estádio do Fluminense (RJ).
Rua Canindé – Estádio da Portuguesa de Desportos (SP).
Rua Serra Dourada – Estádio do Goiás (GO).
Avenida Mario Filho – Estádio do Maracanã (RJ).
Na região das vilas A e C, a fauna e as cidades estão em alta
Na região Vila A e C, dois conjuntos de ruas chamam a atenção.
Ruas com nomes de animais e de cidades.
ANIMAIS
Travessa Graxaim
Travessa Tuco-Tuco
Rua Onça
Rua Mico-Leão
Rua Cotia
Rua Queixada
CIDADES
Avenida Andradina – Município do estado de São Paulo.
Rua Araçatuba – Município do estado de São Paulo.
Rua Anápolis – Município de Goiás.
Travessa Cascavel
Av. Maceió – capital de Alagoas.
Rua Rio de Janeiro
Rua Porto Alegre
Rua Brasília
Rua Assunção – Capital do Paraguai.
Bairro Cognópolis, no caminho do conhecimento
No bairro Cognópolis, que significa Cidade do Conhecimento, existe a Rua da Cosmoética, denominada por voluntários que atuam em trabalhados da Conscienciologia. Mas o que é Cosmoética?
Cosmoética é um neologismo (palavra nova) criado a partir dos estudos da Conscienciologia para designar o estudo da ética, além da moral social.
O bairro também tem as seguintes ruas:
Rua da Assistencialidade
Rua da Convivência
Alameda do Universalismo
Rua do Equilíbrio
Rua da Generosidade
Rua da Harmonia
Toponímia
Existe uma disciplina dedicada a estudar o nome de lugares, a toponímia. O estudo do nome de ruas gera interesse em pesquisadores de inúmeras áreas, tais como historiadores, antropólogos e linguistas, porque reflete valores e visão de mundo de quem dá o nome e de certa forma expressa o pensamento coletivo. Com o tempo, a via serve enquanto fixador da memória do lugar.
Legislação estabelece regras
A Lei Municipal nº 2.997, de 6 de dezembro de 2004, dispõe sobre os nomes de ruas da cidade.
Alguns pontos da lei:
1. A alteração dos nomes de ruas é proibida, exceto diante das seguintes condições:
. Ruas com nomes iguais ou com similaridades fonéticas ou gráficas.
. Ruas que expõem ao ridículo moradores.
. Quando for homenagem a pessoa falecida reconhecida por ter prestado serviço relevante à cidade, país ou a humanidade.
2. Critérios a serem observados
. São vedados nomes de natureza depreciativa ou que produzem cacofonia.
. Devem ser respeitadas normas ortográficas.
. É vedado grafar nome de ruas em línguas diferentes da nacional, exceto quando dizem respeito a nomes próprios de brasileiros de origem estrangeira.
3. Para alteração do nome de ruas é necessária a anuência de no mínimo 80% dos moradores e proprietários de estabelecimentos comerciais residentes na referida rua.
Você conhece a história da rua do seu bairro, mora em uma rua de nome curioso ou gostaria que alguma via da cidade tivesse um nome diferente? Conte para nós.
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