Primeiro farmacêutico do Morumbi, Dr. Chiquinho deixou lembranças positivas para Foz

Filha do Dr. Chiquinho, Selma se lembra da época em que se fazia parto, sutura e soro; quando se pegava um caso, era preciso resolver, porque não tinha para onde correr

Era 1976. Doutor Chiquinho acabara de chegar a Foz do Iguaçu e organizava a farmácia no Campos do Iguaçu. As instalações nem estavam prontas quando um temporal se abateu sobre a cidade, e os remédios da prateleira se perderam pelo chão.

Assim começou a história de Gercino Rocha em Foz do Iguaçu, mais conhecido por senhor ou doutor Chiquinho. Primeiro farmacêutico da região do Morumbi, ele salvou vidas, distribuiu comida para quem precisava e até hoje é lembrado por lá.

Quem conta a história dele é a filha, a farmacêutica Maria Selma Rocha, 68 anos, que atualmente trabalha no Hospital Municipal.

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Selma Rocha
Farmacêutica lembra feitos do pai. Foto: Marcos Labanca

Antes de chegar a Foz, a família morava em Matelândia. Após o episódio do temporal, o pai resolveu abrir a farmácia no Rincão São Francisco, onde havia apenas umas 50 casinhas, revela.

Para chegar lá, não era nada fácil. Era preciso subir a República Argentina e pegar um ônibus próximo de onde é o Muffato hoje e vencer o tamanho atoleiro que obrigava os pedestres a colocar sacolas nos pés.

A primeira farmácia de nome São Francisco foi erguida na Rua Canindé, ao lado de um mercado conhecido por Tambosi, em 1976, após o episódio do temporal no Campos do Iguaçu.

Assista a entrevista gravada no Jardim da Oma.

O estabelecimento atendia toda região do Rincão e trabalhadores da Itaipu, em fase de construção. Apesar de existir uma farmácia na Vila C, os operários que viviam no São Francisco buscavam o estabelecimento do Dr. Chiquinho pela facilidade.

Segundo Selma, no bairro não havia nem luz naquela época, e foi graças à amizade do pai com políticos que eletricidade, água e calçamento foram chegando aos poucos ao Rincão. Dr. Chiquinho fez uma horta para dar verduras às crianças.

Rincão São Francisco nos primórdios
À época, estrutura no bairro era precária. Foto: Arquivo Nosso Tempo

A Danceteria do Valdir

A Farmácia São Francisco foi providencial para muita gente. Ela funcionava em uma época na qual o hospital da Itaipu só atendia funcionários, e a Santa Casa era lotada de pacientes. “Quando não tinha hospital, as pessoas ficavam em casa. Era gente deitada tomando soro. Na época, eram poucos médicos na cidade”, relata Selma.

A farmácia salvou, inclusive, muita gente que curtia a boêmia do Rincão. Um dos pontos mais badalados era a Danceteria do Valdir, que ficava a duas quadras do estabelecimento. De lá saíam muitos clientes.

“A farmácia fazia parto, sutura, soro… porque não tinha quem fizesse. Pegava um caso e tinha que resolver, porque não tinha para onde correr. Por isso, eles chamavam Dr. Chiquinho. Quando ninguém dava jeito, corriam para o Dr. Chiquinho.”

Gercino Rocha morreu aos 68 anos, vítima de um infarto, e viveu no Morumbi até 1983.

Rincão São Francisco
Casas construídas no bairro. Foto: Arquivo Nosso Tempo

No caminho, um parto

Selma conta que nasceu “dentro de uma farmácia”, tamanha a familiaridade com esse tipo de ambiente. Aprendeu a manipular remédios com o pai antes mesmo de cursar a graduação e tornar-se farmacêutica.

Outro episódio do qual ela lembra daquela época é o parto que precisou fazer. Acostumada a acompanhar o pai nesses procedimentos, ela acabou fazendo um curso de parteira. Um dia, bem na hora do almoço, recebeu em casa uma mulher pedindo auxílio para uma menina que estava dando à luz.

Ela saiu e, ao chegar ao lugar, viu que a menina tinha 16 anos e iria ter o primeiro filho. Estava havia dois dias com outra parteira. Selma ajudou a criança a nascer. A mãe deu o nome de Vitória à bebê e queria pagar o serviço para Selma, que recusou.

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