Perimetral Leste divide bairros e causa impacto ambiental em Foz

Apreensivos, moradores reclamam da falta de trincheiras no projeto original; obra avança em nascentes de água

Com um traçado em diagonal que divide bairros de Foz do Iguaçu e atinge nascentes e banhados, a obra da Perimetral Leste causa indignação e questionamento por parte de moradores.

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Aguardada há décadas, a rodovia que ligará a Ponte da Integração à BR-277 foi planejada sem características de perimetral (que indica circulação externa), em certos trechos, pelo fato de invadir bairros com densidade populacional.

A reclamação quanto ao trajeto da via é generalizada em alguns bairros da Região Leste, incluindo Mata Verde, Dona Amanda, Jardim Vitória, São Roque e Cognópolis. Os problemas começam principalmente a partir do cruzamento com a Rodovia das Cataratas.

No Jardim Vitória, bairro vizinho ao São Roque, os moradores reivindicam a construção de trincheira na Avenida Francisco Fogaça do Nascimento, via rápida pela qual passam muitos turistas que vão em direção ao aeroporto, hotéis e atrativos situados na Rodovia das Cataratas.

Morador do Jardim Vitória
Comerciante no Jardim Vitória, Xirú teme pelo futuro do bairro. Foto: Denise Paro

Conhecido por Xiru, o comerciante Antônio Lima de Campos diz que a Perimetral Leste vai cortar a avenida e causar um caos no bairro, por isso os moradores lutam para que seja feita uma elevação ou trincheira, o que não está previsto no projeto.

A consequência do planejamento malfeito é o impacto no trânsito e no comércio local. Para os moradores, a obra vai tornar problemático o fluxo de veículos na avenida, afastando consumidores e turistas que costumam passar pelo bairro para frequentar o comércio.  

Segundo Xiru, alguns comerciantes já sentem dificuldades. Algumas salas recém-construídas e disponibilizadas para aluguel não têm tanta procura. Proprietário de uma panificadora que gera emprego para 15 funcionários, ele também teme que haja queda no movimento se o acesso à avenida não for feito.

O comerciante ainda frisa que em nenhum momento os moradores foram consultados para discutir sobre o trajeto da rodovia. “Os engenheiros não pensam na cidade. Eles chegam e vão fazendo”, lamenta.

Morador do bairro Mata Verde, o agricultor Vilmar Kreling afirma que os moradores solicitam, inicialmente, o direito de ir e vir, assegurado na Constituição. Ele argumenta que a construção dos trevos na Avenida das Cataratas e no cruzamento da Avenida Felipe Wandscheer com a Maria Bubiak, decorrentes da obra, vai causar congestionamentos na região e prejudicar o comércio.

Conforme Kreling, na região há vários moradores que ainda usam transporte com cavalo, bicicletas, tratores e até mesmo andam a pé, e serão prejudicados. “Nesta situação vão dar um jeito de atravessar de qualquer jeito. Vai ocasionar mortes e desconforto”, acredita.

Obras no viaduto da Felipe Wandscheer. Foto: Divulgação DER

Para os moradores, a ausência de acessos ou trincheiras deverá gerar congestionamento no trânsito da Avenida Maria Bubiak.

O agricultor informa que, durante a pandemia, participou, com cerca de 20 pessoas, de reunião com o Consórcio JL, responsável pela obra, mas os moradores não foram ouvidos. Quando os problemas começaram a aparecer, ele e Sebastião Quadros procuraram o prefeito Chico Brasileiro, porém não foram recebidos.

Audiência Pública

Com a preocupação latente, a mais recente iniciativa das autoridades partiu do vereador Dr. Freitas (PSD), que teve requerimento aprovado pelo plenário da Câmara para realização de audiência pública. A data ainda não foi definida.

No início de março, o vereador Kalito Stoeckl (PSD) fez um requerimento solicitando ao prefeito Chico Brasileiro (PSD) informações sobre o impacto ambiental relativo à construção da rodovia. Ele recebeu denúncias de que nascentes próximas à Avenida Maria Bubiak estariam sendo prejudicadas.

Em março, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pela administração da obra, informou que o cronograma da perimetral chegou a 24,64% de execução, representando um investimento de R$ 33,7 milhões até o momento.

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Na região próxima à Avenida Maria Bubiak, algumas nascentes de água teriam sido prejudicadas pela obra. O agricultor Gelson Turetta disse que também foram cortadas árvores nas proximidades. Ele conversou com um encarregado do trabalho e foi informado de que os trabalhadores não sabiam da existência da nascente no local. Como providência, a construtora iria fazer drenagem com pedra e manta bidim.

Professora de Urbanismo da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e moradora do bairro Mata Verde, Patrícia Zandonadi realça que a obra tem o impacto dobrado quando cruza com a quadruplicação da Rodovia das Cataratas, também problemática do ponto de vista ambiental.

Perimetral Leste
A terraplenagem avança na Região Leste. Foto: DER PR

“Talvez para poupar hotéis e turistas da presença de caminhões em um trecho de aproximadamente dois quilômetros, com mais ou menos meia dúzia de estabelecimentos, temos a execução simultânea de duas grandes obras que poderiam ser apenas uma, se fosse estudado adequações para compatibilizar com segurança diferentes tipos de trânsito, reduzindo gasto público e evitando segregações de bairro inteiros e minimizando o impacto em banhados e nascentes do Rio Carimã”, analisa.

Para ela, apesar de levar o nome perimetral, o trecho em diagonal da via que passa pela Região Leste não é perimetral à cidade, pois segmenta bairros e segrega porções urbanas, trazendo insegurança para moradores e animais. “Com este traçado, estamos plantando mais um problema funcional na cidade, além dos impactos ambientais”, ressalta.

Patrícia elenca alguns dos impactos da obra:

  • 1. A região de Três Lagoas perdeu a última lagoa (originária de banhados e conjuntos de nascentes) para ligar a perimetral à BR-277.
  • 2. No início do trecho em diagonal, no cruzamento das avenidas Maria Bubiak e Felipe Wandscheer, há uma área de banhados e nascentes com muito afloramento de água. Para que a obra possa ser executada, a característica de nascentes e banhados será intensamente alterada.
  • 3. Na região dos bairros Mata Verde e Dona Amanda, alguns remanescentes de mata – classificados no Plano Municipal da Mata Atlântica como áreas prioritárias de preservação – foram rasgados pelo traçado diagonal da via com uma grande faixa de desmatamento. Ali havia biodiversidade, banhados e nascentes do Rio Carimã. Agora só restam dois pequenos fragmentos. Em alguns pontos, é possível ver água minando.

O outro lado

A reportagem do H2FOZ procurou a prefeitura e o DER, responsável pela obra, para levar o questionamento dos moradores.

Sobre o impacto ambiental, o DER informou, por nota, que o “empreendimento possui Licença de Instalação expedida pelo IBAMA, além das demais autorizações para execução de atividades de fauna e flora”.

Em relação às nascentes registradas nos locais de implantação das obras, “estão previstos métodos construtivos que visam a proteção dessas, garantindo que a execução atenda a legislação vigente”.

O órgão não respondeu ao questionamento dos moradores em relação à reivindicação de trincheiras e acessos.

Procurada, a prefeitura comunicou que, por tratar-se de uma obra federal e estadual, as informações sobre a Perimetral Leste “devem ser consultadas com o DER e o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte”.

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5 Comentários
  1. Ale Diz

    Só falta quererem atrapalhar as obras agora que finalmente ela estão andando.

  2. Jfs Diz

    È um projeto do governo anterior . Ninguém respeitava meio ambiente. A visão deles é somente fazer sem analisar os periféricos.

  3. Morador Foz Diz

    Deveriam trocar o nome, perimetral que corta bairros inteiros ao meio prejudicando os moradores e comércio?

    E o viaduto que foi prometido na obra? Vão tirar também?

  4. Juliana Diz

    Mais uma obra em Foz do Iguaçu feita sem um planejamento pensando no contexto do entorno e dos residentes. Esse descaso é historico, desde as primeiras obras publicas na cidade. Até quando? Chegando novos empreendimentos na cidade e esse sofrimento da população por falta de infraestrutura e planejamento.

  5. Adriano Diz

    Acha que o governo vão tomar alguma atitude o povo vive desse jeito mesmo eles chegam estragando tudo daqui uns dias eles controi dentro de nosso terreno o povo tem que entender que são esses políticos que mandam não adianta reclamar e só npis aceitar

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