Adão caminha sobre as pedras e restos de lixo em busca de chumbada. Em épocas de seca essa é uma das poucas atividades que restam aos pescadores. A categoria passa dificuldades com mais uma queda drástica no nível do Rio Paraná, na região de Foz do Iguaçu. De acordo com a Itaipu Binacional, nas proximidades da Ponte da Amizade, o Paranazão, como é conhecido, está nove metros abaixo da marca normal registrada nos últimos cinco anos.
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Pescador há mais de 17 anos, Adão Valenzuela, 56 anos, conhece bem as entranhas do rio. Pegou o gosto pela pesca aos 6 anos, quando acompanhava o pai e o tio até a barranca em busca de peixe. Da época de infância ele preserva boas memórias que contrastam com a atual realidade. “Nós não estamos passando fome porque a Marinha doou cesta básica para a Colônia de Pescadores. Até a conta de luz a gente tá devendo”, diz.
A realidade vivida por Adão reflete a de 180 profissionais ligados à Colônia de Pescadores de Foz do Iguaçu. Flávio Kabroski, presidente da colônia, afirma que a pesca no Rio Paraná se tornou difícil em razão da seca. Com o nível da água muito baixo, os pescadores não conseguem jogar redes e espinhéis nas margens do rio. “O pescador pesca mais na margem do rio e não está conseguindo pesca há mais de um mês”, informa.
Para não ficar sem renda, alguns pescadores habituados a trabalhar no Rio Paraná procuram o Lago de Itaipu. No entanto, eles encontram dificuldades porque o tipo de rede usada para pescar no rio é diferente do utilizado no lago. Para Kabroski, o impacto da seca na pesca é grande e deve refletir-se em longo prazo porque, com falta de água, muitas espécies não estão reproduzindo-se.
Os pescadores comentam que alguns peixes de grande porte foram encontrados presos na mata, às margens do rio, em razão da escassez de água. Alguns estavam mortos.
Nem mesmo para os pescadores amadores a maré está boa. Empresário, Sandro Ferreira, 46, frequenta o Rio Paraná desde pequeno. Pescador amador, pegou gosto ao pescar com o pai quando era criança.
Ele frequenta o rio há quase 40 anos e revela ser a primeira vez que vê o Paranazão assim, tão seco. “Foi a primeira vez que eu vi o rio no ponto que ele está”, conta. Sandro chegou a pescar até um jaú de 8,5 quilos no Paraná em épocas melhores, mas hoje na seca é difícil “pegar” qualquer tipo de peixe.
Com a seca, o cenário fica um tanto diferente, sobressaindo-se as pedras. Na região da Ilha Acaray, próximo à Ponte da Amizade, a imagem é quase inédita para um rio acostumado com o grande volume de água. Na área do Iate Clube é possível perceber escadarias e a mata que ficava coberta pela água.
Este é o segundo ano consecutivo que o Rio Paraná passa por uma seca drástica. No ano passado, o nível da água baixou a um nível similar ao de agora, prejudicando a pesca e os peixes e deixando à mostra muito lixo, restos de objetos, carros, barcos e jet skis.
A seca é provocada pela falta de chuvas na região da bacia do Rio Paraná, que nasce na divisa entre Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, a partir da junção dos rios Grande e Paranaíba. Oitavo do mundo em extensão, o Rio Paraná (“como o mar” ou “parecido com o mar” em tupi) tem 4.480 quilômetros. A perspectiva é a de que a estiagem continue até setembro.
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