Desemprego acelera abertura de MEIs na cidade. Cenário se repete em todo o país
Em tempos de pandemia, o número de microempresas disparou em Foz do Iguaçu. São os chamados MEIs – microempreendedores individuais. Conforme dados do Sebrae, em 2019, 3.952 pessoas se tornaram MEIs na cidade. Já em 2020, o total chegou a 5.432, um aumento de aproximadamente 37%.
As microempresas individuais correspondem ao modelo jurídico de empresa mais procurado nos últimos anos quando se trata de iniciar um novo empreendimento. Em 2020, do total de 7.318 negócios abertos em Foz, 75% foram via MEIs. E o ritmo vem crescendo. Neste ano, até julho, surgiram dois mil MEIs na cidade, de um total de 2.579 empresas de todas as modalidades.
No ano passado, a maior parte das microempresas individuais foi aberta para atuar no setor de transporte terrestre, promoção de vendas e comércio de vestuário e acessórios. Em 2021, o segmento mais procurado por quem abriu esse tipo de empresa foi promoção de vendas, atividades de transporte terrestre e obras de alvenaria.
O crescimento do número de MEIs nos últimos anos tem uma explicação que foge ao senso comum de aquecimento da economia. Consultor do Sebrae e doutorando na área de administração, Marcelo Padilha diz que o aumento na quantidade de empresas é uma realidade em todo o país, algo comum quando há momentos de crise como o atual. “Quando aumenta o desemprego, aumenta o número de empresas formalizadas”, afirma. Para Padilha, os números dão sensação de que o mercado está aquecido, no entanto representam a fatia de pessoas que está desempregada e acaba optando por abrir o próprio negócio para sobreviver.
As microempresas individuais atuam em um regime jurídico no qual o proprietário pode movimentar até R$ 6.750 ao mês, totalizando R$ 81 mil em um ano. Os microempreendedores têm cobertura do INSS, e o imposto máximo pago mensalmente é de R$ 60. Por isso, formalizar-se como MEI é ideal para autônomos e pequenas empresas.
Muitos autônomos, a exemplo de manicures, pintores, pedreiros, ubers e taxistas, trabalham em regime de MEI. E boa fatia dos que abriram esse tipo de empresa faz parte do rol de quem perdeu o emprego com carteira assinada nos últimos anos ou decidiu mudar de vida.
Rafael Oliveira Leite é um desses casos. Em plena pandemia, no ano passado, ele optou por abrir uma lanchonete após quase 15 anos de carteira assinada. Como o período era ruim, com frequentes decretos limitando o funcionamento do setor, escolheu ser MEI. “Era tudo meio incerto, não sabíamos o que iria acontecer”, conta. Segundo ele, o fato de o MEI não ter custo alto pesou na decisão.
Como a economia não tem apenas portas abertas, diversas empresas encerraram as atividades no ano passado e neste ano. Em 2020, a maioria das microempresas individuais que deixaram de funcionar era da área de comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios. Em seguida aparecem os estabelecimentos de promoções de venda, lanchonetes, casas de chá, sucos e similares.
Empresas se adaptam na pandemia
Algumas das empresas que conseguiram manter-se durante a pandemia precisaram ajustar-se e usar estratégia criativa. Um dos exemplos é do Tretis Container Hostel.
Antes da disseminação do novo coronavírus, pelo menos 80% dos clientes do hostel eram estrangeiros; e 20%, brasileiros. Como os estrangeiros não estão vindo em razão das restrições de viagem, a empresa passou a mirar turistas brasileiros e o público regional. Também começou a atender mensalistas, abriu o bar para os moradores de Foz e está fazendo empanadas argentinas para entrega, informa o gerente, Ricardo Nisiide.
A procura pelo hostel também aumentou por parte dos nômades digitais, pessoas que ao mesmo tempo viajam e trabalham a distância. Eles costumam ficar no local por meio período, manhã ou tarde, e passear em outros horários. Para isso, o estabelecimento oferece internet de alta conexão sem cobrar.
No setor de confecções, algumas empresas passaram a permitir ao cliente levar roupas para provar em casa, evitando a exposição nas lojas.
Na área de gastronomia, alguns restaurantes fecharam, enquanto outros remodelaram o serviço e se adaptaram criando pratos próprios para delivery. Alguns comerciantes até passaram a lucrar mais, revela Padilha.
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