Há 12 anos, o Foz Cataratas, time feminino de Foz do Iguaçu, celebrava a conquista da Copa do Brasil, marcando um momento histórico para o futebol feminino e o esporte da cidade. Naquele sábado ensolarado (26 de novembro de 2011), no Estádio Pedro Basso (Flamenguinho), derrotou o Vitória, de Santo Antão (PE), por 3 a 0, sagrando-se campeão do único torneio nacional da época.
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Aquele elenco tinha atletas como a atacante Andressa Alves e a goleira Bárbara, figuras da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo deste ano na França.
Após vencer o time pernambucano fora de casa, as “Poderosas do Foz” voltaram a brilhar naquela decisão em solo iguaçuense, com três gols marcados no segundo tempo por Nenê, Daiane Moretti e Andressa. Esse triunfo foi o ápice de um projeto bem-sucedido que, ao longo de mais de uma década, acumulou oito títulos paranaenses, um vice-campeonato da Libertadores da América em 2012, além de inúmeras memórias inesquecíveis. Entretanto, em janeiro de 2021, encerrou suas atividades, deixando uma lacuna no cenário esportivo local. A última competição disputada foi o Campeonato Brasileiro Sub-20, em Sorocaba (SP).
Autora do primeiro gol da história do time, Bia Vaz, recorda o ambiente criado na cidade, com aquela campanha vitoriosa: “A gente criou um ambiente extremamente positivo na cidade. Lembro do estádio do Flamenguinho completamente lotado, todo cercado de gente. Lembro da minha família por lá e da família de outras atletas também. O título foi muito especial, mas esse contexto, esse ambiente que foi criado, acho que precisa ser muito valorizado”, destacou ao jornalista Bruno Zanette, autor do livro “O Ano em que o Foz Cataratas Conquistou o Brasil”, lançado em 2021.
Para Daiane Moretti, artilheira da Copa do Brasil de 2011, com oito gols, definiu o título como indescritível. “E isso vale para qualquer modalidade. É uma sensação única”, comentou na publicação de Zanette. “Todos os jogos foram difíceis. Em minha opinião, a gente tinha um time muito bom, mas não era favorito ao título. Então, todos os jogos a gente precisou demonstrar muito para vencer”, avalia a atacante Andressa.
Gezi Damasceno, que foi técnico e desempenhou diversas funções no clube entre 2010 e 2020, lamenta o fim do time: “Hoje, o Foz Cataratas se encontra inativo e sem perspectiva de retorno. É uma pena. Eu sinto muito isso, porque foi algo que ajudei a construir e que tenho muito amor. Os clubes de destaque da nossa época não conseguiram se manter.”
Apesar do apoio de empresários locais e instituições nacionais, como Coca-Cola e Caixa Econômica Federal, o Foz não conseguiu acompanhar os investimentos dos clubes mais tradicionais, que passaram a ter elencos obrigatórios no futebol feminino. “Isso deixou a situação mais difícil para nós, mas ao mesmo tempo beneficiou as atletas, com o investimento de equipes maiores. Não tivemos como acompanhar isso e passamos a ter equipes nos padrões intermediários, mesmo assim conquistando bons resultados.”
A pandemia de covid-19 agravou ainda mais a situação. “Tivemos que liberar todas as atletas. Quando retornou, algumas voltaram, e outras não. Se tornou muito difícil em virtude da pandemia. Em 2020, ninguém patrocinou nada e nem tinha como patrocinar.”
Desafio
Para Gezi, o 26 de novembro de 2011 é uma data inesquecível, marcada como o fruto de um trabalho eficiente que, até então, contava com apenas dois anos de existência. O profissional já atuava no esporte da cidade desde 1988, colaborando com seu pai nas categorias de base do município. Em 2010, aceitou a proposta de tornar-se supervisor do Foz Cataratas como um novo desafio, ainda mais significativo após o desligamento de outros profissionais do clube. “O início foi bastante desafiador por se tratar de futebol feminino, sendo a dinâmica com as mulheres muito diferente. As coisas foram acontecendo aos poucos.”
Logo no primeiro ano do projeto, veio o título estadual e, consequentemente, a vaga para a Copa do Brasil de 2010, culminando com o vice-campeonato depois da derrota para o Duque de Caxias (RJ).
Da campanha de 2011, ele também se recorda de outros desafios marcantes, como as semifinais contra o Viana (MA). “Nos surpreendemos com a equipe. Empatamos lá e em Foz, no jogo de volta, enfrentamos uma partida dificílima. No final, eles marcaram um gol que foi corretamente anulado. Se não fosse por isso, todo o trabalho teria sido perdido ali.”
Já na final, o desafio foi encarar o Vitória, de Santo Antão (PE), que tinha ninguém menos que o técnico da seleção brasileira, Kleiton Lima, no comando. “Fomos para Pernambuco enfrentar um time muito bem montado por Kleiton e superamos por 2 a 0. No jogo de volta, recordo do estádio lotado, com o público incentivando e um primeiro tempo muito equilibrado. No segundo tempo, o Foz brilhou. Quem esteve presente testemunhou um futebol de primeira classe. As meninas deram um show, foram aguerridas e fantásticas”, relata.
Por outro lado, a maior dor para Gezi foi o vice-campeonato da Taça Libertadores da América de 2012, perdida para o Colo Colo, do Chile. “O título escapou por muito pouco. Até hoje, não me conformo com o gol anulado da Hilany, pois, na minha opinião, foi um gol legítimo. No entanto, não sou dono da verdade. Nas penalidades, infelizmente, perdemos”, lamenta.
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