Moradora do Itaipu C, a dona de casa Ana Paula Bordinhon, 42 anos, raramente consegue ter uma noite tranquila de sono. Com um mioma no útero e problemas na vesícula, ela é uma das mais de cinco mil pessoas que estão na fila para fazer cirurgia eletiva em Foz do Iguaçu. O problema da saúde não se restringe ao drama de Ana Paula. Outros 35 mil pacientes aguardam consultas com especialistas na cidade, segundo o Conselho Municipal de Saúde (Comus).
Ana Paula aguarda, há mais de um ano, cirurgia de vesícula e útero. Os exames para a operação no útero já estão prontos. Da vesícula, ainda é preciso um raio X, que até agora não foi feito. E assim ela segue a vida, entre dores e medicamentos para controlar as comorbidades enquanto o dia das cirurgias não chega.
Conforme relatório fornecido pelo Comus, em dezembro 5.364 pessoas estavam na fila para cirurgia eletiva na cidade, em 22 especialidades, incluindo cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia. Os procedimentos eletivos são aqueles que não têm caráter de urgência, porém o adiamento por muito tempo pode comprometer a saúde do paciente.
O presidente do Comus, André Buriasco, diz que o problema das cirurgias eletivas é antigo e se agravou diante do quadro da covid-19. Ele reforça que algumas das UTIs que hoje são usadas na ala destinada à covid anteriormente recebiam pacientes com outras doenças.
Outro problema que dificulta as cirurgias é o aumento do número de traumas na cidade, causado por acidentes de moto porque esses veículos passaram a circular mais fazendo entregas, fato que ocupa os centros cirúrgicos. “Há uma série de fatores que culminaram com essa situação”, afirma.
A Resolução 1.412/2020 da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) determinou a interrupção dos procedimentos dia 1º de dezembro em razão da escalada dos casos de covid-19 no estado e da alta na taxa de ocupação dos leitos de UTI. No entanto, a mesma resolução não impede cirurgias nas especialidades de cardiologia, oncologia e nefrologia.
Apesar de reconhecer as dificuldades enfrentadas pelo município, Buriasco informa que o Comus está cobrando um planejamento da prefeitura para a retomada das cirurgias assim que a situação da covid-19 estabilizar-se. Para isso foi feito um manifesto dirigido ao Ministério Público e enviada uma resolução à Secretaria de Saúde. Após esse movimento, o município retomou os procedimentos no Poliambulatório, revela (ver nota da prefeitura).
Em relação às consultas, o Ministério Público também foi notificado, segundo Buriasco. Ele ainda considera que a fila para as consultas não se justifica porque os pacientes podem usar máscaras. A espera gera reclamações nas redes sociais. Há pacientes que estão aguardando consulta com especialistas há mais de sete meses.
O que diz o município
“A Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu esclarece que está em vigor um decreto do Governo do Estado que suspende por tempo indeterminado a realização de cirurgias eletivas em todo o Paraná. A determinação é justificada em virtude do crescimento de casos confirmados de Covid-19 no Estado e a elevada ocupação dos leitos de UTI e enfermaria.
No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde informa que já está pronto um espaço no Poliambulatório para as cirurgias de pequeno porte e que está em andamento o planejamento para a ampliação das cirurgias de médio porte.
Em relação às filas para consultas médicas, no início de janeiro os dados da Secretaria Municipal apontam cerca de 28 mil pacientes na espera. A Prefeitura vem trabalhando em medidas para a diminuição das filas nos próximos meses. Entre elas, serão organizados mutirões de consultas com especialistas em áreas como urologia e psiquiatria, que possuem alta demanda.”
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