H2FOZ – Paulo Bogler. Fotos e vídeo: Marcos Labanca
Ter um “cantinho” próprio para viver é o sonho de Dóris Dias e Robson Lopes. Devido ao alto custo das construções de madeira e alvenaria, o casal decidiu erguer uma casa de garrafas de vidro, feita por eles mesmos, na Vila C, Região Norte de Foz do Iguaçu.
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E não foi só o lado financeiro que pesou na decisão. Os idealizadores da casa de vidro a consideram uma obra sustentável e são conscientes da contribuição para o meio ambiente ao empregar garrafas que em geral não teriam a destinação correta.
A casa de 70 metros quadrados começou a ser construída em abril deste ano. Já são 11 mil garrafas utilizadas, doadas pela comunidade ou retirada das ruas pelo casal. Quando a moradia ficar pronta, serão 20 mil garrafas de vidro.
Dóris é educadora social em uma organização da sociedade civil e está afastada do trabalho por problemas de saúde. Robson, o Lopes, como mais gosta de ser chamado, é repositor, mas está desempregado há mais de um ano.
Sob a sombra de uma mangueira para escapar do calorão, Dóris explicou ao H2FOZ como surgiu a ideia de construir a casa de garrafas. Enquanto relatava, mirava fixamente a obra como quem conta as horas para mudar-se à nova moradia.
“Eu via as garrafas na rua poluindo a natureza. Então, depois da cerimônia de nosso casamento, ano passado, usei muitas garrafas na decoração, que eu mesma criei”, revela. “Foi quando surgiu a ideia de usar esse material na construção da casa”, expõe.
Nesse período, relembra Dóris, a proprietária do imóvel alugado onde ela e o marido moravam decidiu aumentar o valor cobrado mensalmente. “Isso pesou na nossa decisão de buscar um jeito de sair do aluguel.”
Mãos à obra
Deixando a ideia e partindo para a pesquisa, Dóris Dias usou a internet para ver outras experiências, assistir a vídeos e estudar tutoriais. “No Brasil, há poucas casas de garrafas de vidro. Em outros países é mais comum, inclusive grandes obras como templos”, explica.
Devido aos problemas de saúde, que a fazem “não ter força nas mãos”, Dóris não pode ajudar no trabalho direto de construção, concentrando para si as tarefas de pesquisa e busca de doações. Enquanto isso, aguarda aflita resposta da perícia do INSS sobre seu benefício, já que não terá salários.
A casa de garrafas de vidro é erguida na parte da frente do terreno em que está a casa dos pais de Dóris. É nessa residência que ela e o marido moram, de forma improvisada, até o final da obra. “Dormimos na sala, em um colchão. Às 5h30 meu pai levanta para tomar seu chimarrão e nos acorda”, conta, sem perder o riso.
Enquanto isso, roupas, cobertores e outros pertences do casal ficam em um contêiner fora da casa, que foi locado e será devolvido. Os móveis não resistiram, mesmo protegidos, à chuva e ao sol. “Perdemos todas as nossas coisas”, revela Dóris.
Projeto nobre
O objetivo do casal, ainda, é construir um deque e um reservatório para captar água da chuva, a ser usada na limpeza e para irrigar a horta. Uma área anexada à casa dos pais, que são idosos, também está nos planos. Tudo de garrafas.
Conforme Dóris Dias, os fundos da casa serão para ela fazer artesanato e trabalhos manuais. “É para reaproveitar materiais, tirá-los das ruas e transformá-los. O lixo para mim é luxo, pois eu tenho muitas ideias criativas. Poderei dar cursos grátis a outras pessoas”, projeta.
População pode ajudar
Levantadas as paredes com garrafas de vidro, as próximas etapas da casa exigem mais materiais de construção, como janelas, portas, fios elétricos, tomadas, canos de água, cal, cimento, areia, ferro e telhado. Sem recursos, Dóris e Lopes apelam para a ajuda da comunidade.
“Às pessoas que puderem ajudar e fazer parte dessa nossa história, ficaremos muito agradecidos”, enfatiza Dóris. “Para nós, toda a ajuda é válida. Às vezes sobram materiais como meio saco de cimento, uma porta ou janelas, por exemplo. Tudo nos serve, em qualquer quantidade”, diz.
Para doar materiais de construção à casa de garrafas de vidro, ou mesmo mão de obra, basta fazer contato pelo telefone e WhatsApp (45) 99964-9786.
Como é a construção
As paredes da casa são de garrafas de 600 ml, fixadas com cimento. As divisões são de recipientes menores, do tipo long neck, para não ocupar tanto espaço. Na parte interna, é realizado o preenchimento com isopor, seguido de revestimento.
Colunas de ferro dão sustentação à estrutura. Na parte de fora, é realizado o rejuntamento das paredes, ficando visível o fundo das garrafas. Para o telhado, caso ocorram doações ou seja viabilizado o custo, a proposta é usar telhas sanduíche de zinco, térmicas.
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