Cerca de 300 lideranças reuniram-se em Guaíra para uma grande assembleia do povo Avá-Guarani entre os dias 7 e 12 de agosto.
A região Oeste do Paraná sediou uma das mais importantes mobilizações do povo Avá-Guarani nesta semana. A segunda edição da aty guasu, grande assembleia, reuniu cerca de 300 lideranças no tekoha Jevy, na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira, em Guaíra (PR).
Participaram representantes das 24 aldeias da região Oeste do Paraná e delegações guarani vindas do Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraguai, Argentina e de outras regiões do Paraná, entre os dias 7 e 12 de agosto.
Iniciada por falas dos anciãos Avá-Guarani – chamados em guarani de ñaneramõikuera –, momentos de diálogo entre as lideranças e de cantos-rezas coletivos marcaram o evento. A pauta prioritária foi a luta pela demarcação de suas terras, contra o avanço do agronegócio de soja e de megaempreendimentos na região.
“A gente sabe do tamanho da nossa luta, mas também sabe do tamanho da nossa força”, destacou Juliana Kerexu, uma das coordenadoras tenondé da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização indígena responsável pela realização da assembleia.
Kerexu também compartilhou parte do sentimento dela e do seu povo, sempre em alerta, que poucas pessoas brancas alcançam. “A gente dorme, mas ao mesmo tempo tem a sensação de que não. A gente fica de resguardo, todos os dias e todas as noites”, expressou.
Com uma população de mais de 8 mil indígenas, a região Oeste do Paraná é marcada por um contexto de graves violações de direitos humanos contra o povo Avá-Guarani, revelado pela CGY em um relatório de 2017.
A paralisação dos processos de reconhecimento das Terras Indígenas (TIs) Tekoha Guasu Guavira e Tekoha Guasu Oko’y Jakutinga é um agravante dessa situação – assim como a ausência de reparação às comunidades pelos impactos sofridos com a construção da UHE Itaipu, nos anos 1970. “Devolvam o que é nosso para que possamos voltar a viver nossa cultura guarani” é o que pedem as lideranças.
O agronegócio avança, e os megaempreendimentos também
As comunidades Avá-Guarani do Oeste do Paraná estão cercadas pelo cultivo transgênico de soja e milho, com uso intensivo de agrotóxicos. Segundo estudos da CGY, cerca de 80% do território indígena está invadido pelo agronegócio. Agora, caminha a passos largos o projeto da Nova Ferroeste, cujo objetivo é instalar uma linha ferroviária que ligará o Porto de Paranaguá até Maracaju no Mato Grosso do Sul. O objetivo é o escoamento dos produtos e mercadorias da agricultura industrial do Oeste do Paraná, Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Os estudos de impacto já realizados até o momento pela Ferroeste, empresa responsável pelo megaempreendimento e que tem como principal acionista o estado do Paraná, não reconhecem os territórios indígenas da região. De acordo com Paulina Martines, do Tekoha Y’Hovy, em Guaíra, as comunidades que devem ser atingidas pela instalação da nova ferrovia não estão sendo ouvidas. “Infelizmente, a própria Funai não está mais trabalhando em prol dos povos indígenas, mas sim pelos interesses daqueles que mandam, que se dizem superiores”, denunciou.
Enquanto Paulina fazia a denúncia das ameaças sofridas em seu território, na manhã de quinta-feira (11), Norivaldo Kaiowá, liderança do Mato Grosso do Sul, recebia mensagens no celular de suas e seus parentes indígenas que estavam novamente sendo ameaçadas e ameaçados com a presença de fazendeiras e fazendeiros no município de Coronel Sapucaia, mesmo território onde o jovem indígena de 18 anos, Alex Recarte Vasques Lopes, foi assassinado em maio.
Articulação para resistência e luta
Na avaliação da CGY, a assembleia fortalece a articulação com outras organizações indígenas de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – como a Aty Guasu, grande assembleia do povo Guarani Kaiowá, e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul).
Apoiaram o encontro outras organizações parceiras, como Fundação Luterana de Diaconia – Conselho de Missão Entre Povos Indígenas – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (FLD – COMIN – CAPA), Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (RAIS).
(Por Diangela Menegazzi/CAPA e Comunicação/CGY)
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