Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO
A VELHA MENINA, estava drogada! Ou melhor, vamos usar o tempo correto do verbo, a velha menina está drogada! Ela e mais alguns andam normalmente pelas ruas de nossa cidade tal qual personagens da série “The Walking Dead”, verdadeiros Zumbis a caminhar para lugar nenhum. A diferença entre todos é que uns consomem drogas ilícitas e outros as drogas lícitas, ambos habitam na mesma cidade, no mesmo país e cada vez mais diminui a sanidade entre uns e outros.
Vários fatos me levam a pensar assim, nas últimas duas semanas presenciei a comunidade internacional ficar em reboliço devido ao naufrágio dos milionários que foram na sepultura cutucar os mortos e de uma certa maneira se uniram, no fundo do mar, aqueles que morreram sem querer, estes pelo menos pagaram uma fortuna que ajudaria há muitos seres humanos a continuar vivendo. Chamei há isso de piada pronta, ou seja, o Titanic é um cemitério e como tal deveriam ter respeitado. Os passageiros do Titan, certamente tomaram uma droga chamada soberba, que o dinheiro tudo pode, tudo compra. Esqueceram que as moedas servem para pagar Caronte, o barqueiro de Hades, mas não compram sua chefe: a morte!
Mas na semana que passou um fato especial me chamou muito a atenção. Logo a frente do meu local de trabalho há um estacionamento que está um tanto “jogado as traças”, fazendo valer o significado do ditado popular, ou seja, esquecido, atirado, desprezado. Constantemente se percebe em suas cercanias e até mesmo em seu interior moradores de rua e usuários das chamadas “drogas ilícitas” no local.
Pois uma jovem menina, maltrapilha e bastante envelhecida pelas condições do uso de drogas e pelo tratamento que a vida tem lhe dispensado, visivelmente alterada agrediu verbalmente uma colega de trabalho enquanto a mesma estacionava seu carro no local. Não contente com a agressão verbal jogou um caixote de madeira pequeno no carro da colega. Danos materiais pequenos se comparado ao susto que a colega levou logo cedo, em uma linda manhã ensolarada na terra das águas.
O fato chamou atenção de todos que estavam chegando para mais um dia de rotina, bem como assustou alguns passantes a caminho do coração da cidade. Minutos depois acompanhei a colega que com receio que o carro fosse danificado, resolveu retirar o mesmo do local. A velha menina, já estava mais calma, conversei com ela e lhe perguntei se estava com fome e se queria comer algo:
– Um pastel na pastelaria próxima?
– “Não”! Respondeu ela! “Tenho minha marmita”! E se deslocou até umas pedras e retirou de entre elas uma pequena marmita de isopor e se pôs a comer calmamente o que estava em seu interior. Fiquei a imaginar o gosto da iguaria que certamente estava fria e guardada entre as pedras e pedregulhos que a vida lhe oferece. A vida como ela é, diria Nelson Rodrigues!
“É uma droga, não é? O momento em que você percebe que não sabe nada!” (Negan – The Walking Dead)
É claro que o fato repercutiu nas dependências de meu trabalho! E as opiniões foram muitas, cada qual se achando no direito a ter a solução para resolver o problema: “que horror!”; “tem que chamar a polícia”; “onde já se viu um absurdo destes”; “o dono do estacionamento tem que colocar guarda”; etc.
De repente, não mais que de repente, eis que surge a cereja do bolo: “Vai piorar!”; “a culpa é deste governo que agora vai liberar as drogas no país!”. Já conheço a opinião política de quem pronunciou a frase e do alto de minha pseudo inteligência me perguntei: que droga que essa pessoa fumou ou tomou? Qual a diferença entre a maltrapilha velha menina esquecida e mal tratada pela sociedade e a bem vestida, jovem velha e retrógada consciência que ainda acredita em “kit gay” e “mamadeira de piroca”?
Estou ficando velho e nessa minha trajetória de vida já tenho visto e ouvido muitos absurdos, asneiras mil, mas onde foi que nossa sociedade, resolveu abandonar o século XXI e retornar à idade das trevas? Onde foi que permitimos que a barbárie, o fascismo, nazismo e a ignorância se apossassem de cérebros que tiveram as melhores oportunidades de estudo e vida? Estas pessoas consumiram uma droga que extirpou todos seus neurônios e com isso as sinapses que ligavam o “tico” e o “teco” simplesmente não existem mais.
Fiquei pensando qual a diferença entre uma e outra pessoa. Não prefiro nenhuma! Pois ninguém deveria andar pelas ruas das cidades vestida de andrajos, comendo resto dos lixos e com a mente entorpecida por drogas que assolam nossa sociedade há muito tempo. Mas, contudo, todavia, entretanto, ofereci uma comida decente a velha menina por achar que ela ainda pode ser ajudada pela sociedade a ser uma pessoa melhor a ela mesma. Sim, a ela mesma, pois mesmo proferindo xingamentos e jogando caixotes em carros ela faz menos dano a sociedade do que pessoas fascistas, nazistas, racistas e capitalistas que preferem gastar milhões e milhões de dólares em aventuras, “ferrovia norte sul”, ou seja, liga o nada a lugar algum.
Não estou com isso defendendo os moradores de ruas, ou os drogados que estão na rua que devem atacar as pessoas e os carros. O que afirmo é que os milhões que foram morar junto ao Titanic se bem usados retirariam milhares de “velhas meninas” drogadas das ruas de nossas cidades.
Já o outro tipo, digamos, de ser, bem, diz o ditado que é “melhor escutar que ser surdo”, não concordo com essa frase idiota, mas concordo que essa pessoa tem razão em parte, pois, se algo não for feito, essa massa humana impensante vai tomar conta de tudo, tal qual os zumbis de “The Walking Dead” e nos levar todos a caminhar pelas ruas, praças e avenidas das grandes cidades com o olhar perdido no nada, nos alimentando de frases feitas, quixotes as avessas, lutando para destruir os moinhos de “kit gays” e as “mamadeiras de piroca”. E nem o Chapolin Colorado poderá nos salvar e sua frase, sim será verdadeira: “Vai piorar!”
O grande dramaturgo e escritor brasileiro, Nelson Rodrigues, além de nos apresentar a vida com ela é, tinha razão ao escrever que: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos!”, e costumam dizer: “vai piorar! Vai piorar…! Vai piorar”.
Minha esperança é que o segundo tipo de drogados, antes do final, se dê conta que a “marmita” fascista que tem consumido, trata-se de uma droga e assim percebam que não sabem nada!
Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.
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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Grande Waldson, excelente exposição!
Uau, me deixou sem palavras