Por Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO
BARBIE: O FILME! Eu assisti! Sim! Eu fui ao cinema assistir ao filme da Barbie! Não! Eu não fui vestido de rosa! Até porque a doida da goiabeira havia dito que meninos vestem azul. Ignorância advinda da idade média que quase destruiu nosso país. Mas deixei para as mulheres usarem rosa e tirarem fotos na caixa ao mesmo tempo que inundaram os cinemas de todo o mundo. Pagaram mico!? Pagaram mico, na acepção correta da frase, ou seja, passaram vexame por estarem mal informadas, uma vez que a Barbie saiu da caixa, se negou a retornar à caixa, deixou de vestir rosa e seguindo a modernidade trocou de nome e passou a se chamar Bárbara! Melhor ainda teria sido se tivesse se registrado no urologista com um nome social, Bruno ou Breno, quem sabe?
Spoiler? Não era para ter começado pelo fim do filme? Desculpem, isso é uma crônica crítica e não um programinha de fofoca. O filme definitivamente não é para crianças! Ou melhor, é sim um filme para crianças! Para as crianças de ontem, hoje mulheres, que cresceram em um mundo onde brincaram de Barbie ou morreram de inveja das meninas que tinham Barbie, enquanto elas tinham que se contentar com as bonecas de pano ou de sabugo de milho. Mundo injusto esse fora da Barbieland, não é mesmo?
“Sou um homem sem poder! Isso me faz ser uma mulher?”
(Ken)
Sou cinéfilo! Calma! Apenas significa que gosto de filmes e cinema. E para tanto tenho acompanhado a diretora e roteirista do filme da Barbie, Greta Gerwig, em outros filmes que ela tem dirigido e ou roteirizados. Acompanhei o suficiente para saber que ela não viria trazer a telona um filminho água com açúcar e cor de rosa choque. Choque na verdade é o que ela queria e conseguiu dar na plateia que ainda no século XXI teima em viver na Barbieland, ser de extrema direita e chamar o “Valdemort” de mito! Conseguiu? Sim! E merece no 9.5! Nota 10, apenas oferto aos mestres!
Mas, contudo, todavia, entretanto, mesmo dizendo a que veio, o filme ainda está distante de colocar a Mattel no seu devido lugar. Mattel é a fábrica que produziu a boneca Barbie. Boneca criada por Ruth Handler, esposa do dono da Mattel, Elliot Handler no ano de 1959. Precisamente o nascimento/lançamento da boneca Barbie foi no dia 9 de março de 1959.
A sessentona Boneca Bárbara, sim eu falei Bárbara, pois Barbie é o apelido de Bárbara, filha de Ruth Handler, que tinha ainda mais dois filhos, Ken e Skipper. Família unida ganha dinheiro unida. Tudo de caso pensado e muito bem estudado a ponto da boneca e sua família atravessarem mais de meio século se adaptando ao Zeitgeist, ou seja, ao espírito do tempo: o capitalismo e sua maneira de agir!
Barbie, nasceu top model, bela, loura, jovem, magra e com um corpo de manequim, longas pernas e sempre se vestindo dentro da moda ou ditando moda. Soube se adaptar ao tempo sem perder a juventude e a beleza, ou seja, de 1959 até sair da ficção para encarar a vida real nos dias atuais, ela imitou em suas roupas, de Jacqueline Kennedy a Madona. Dirigiu Ferrari e se candidatou a presidência dos Estados Unidos. Tenho certeza que ao presidir a Barbieland se saiu melhor que Trump e o Valdemort juntos.
Falo isso porque soube se adaptar também a política estadunidense e mundial, pois menos de um ano após a morte do líder negro estadunidense Martin Luther King, tempos em que a comunidade negra norte americana fechava as ruas lutando por direitos civis, Barbie ganhou uma amiga, Christie, a primeira boneca negra, que foi lançada em 1969.
O filme dirigido por Greta Gerwig começa estilo “2001 Uma Odisseia no Espaço”, onde a aurora do homem é substituída pela aurora da boneca. O macaco é substituído por meninas, até esse ponto tudo igual, evolução natural da espécie, ou quase. E o osso usado pelos macacos em uma odisseia no espaço, cedem lugar as bonecas que facilmente são destruídas pelas meninas até se depararem com a perfeição: Barbie.
Bonecas de importância maior foram esquecidas nessa cena inicial, tal qual as “Abayomi”, as bonecas negras de precioso encontro, que traziam esperança as crianças negras nos navios negreiros. Mas isso é uma história que não rende a bilheteria que o filme da Barbie já rendeu desde sua estreia, no 20 de julho de 2023, ou seja, U$ 337 milhões de dólares!
Restituída a aurora da boneca, Barbie: o filme, visita o momento atual em que vivemos e nesse ponto acerta em cheio ao colocar a mulher de hoje em evidência, pois ao sair de seu mundo, o mundo da “Barbieland, onde todos os problemas do feminismo e da igualdade podem ser resolvidos”, ela percebe o estrago que fez no transcorrer de sua juventude de sessentona, pois muitas são as reportagens que ligam a boneca Barbie a anorexia de jovens que queriam ter o corpo da boneca e posteriormente homens que se tornaram os Ken, humanos.
O documentário “The Karen Carpenter Story”, de 1987, dirigido por Todd Haynes e Cynthia Scheneider mostram os últimos 17 anos de vida da famosa cantora Karen do grupo Carpenter e sua luta com a anorexia. O documentário utiliza as Bonecas Barbies para contar a história. É mostrada a fragilidade emocional e física da artista. O documentário foi proibido pela justiça estadunidense. Qualquer comparação não se trata de mera especulação. Não vamos brigar com os fatos.
Ao sair de seu mundo cor de rosa e encontrar o mundo colorido com tons escuros em que vivemos, Barbie percebe que sua juventude, tal qual falou um dia a grande atriz Bibi Ferreira, ou seja, “Minha velhice é permanente, mas não esqueça que sua juventude é transitória”, a boneca aprendiz de ser humano se percebe também que é transitória e que a muito mais beleza na vida do que o mundo cor de rosa em que ela vivia.
A maravilhosa cena, de Barbie descobrindo a beleza na velhice: “você é tão linda!” diz a boneca a uma senhora com as marcas do tempo na face, sentada em um banco. “Eu sei!”, responde a senhora, como a dizer, deixa de ser boneca e vem ser gente de verdade. Uma cena que humaniza o filme, humaniza a boneca e nos faz pensar no nosso papel enquanto críticos de um mundo caótico, mas ainda com belezas mil a serem apreciadas.
Muitas são as cenas que me fizerem aplaudir o filme, destaco duas: quando a menina Sasha, interpretada pela atriz Ariana Greenblatt, coloca Barbie no seu devido lugar mais uma vez e a chama de Fascista! Juro que vi um monte de Barbies e Kens seguidores do “Valdemort” saindo da sala de exibição xingando a atriz e a chamando de comunista e petista… fazer o que, não é?
A outra cena que merece destaque é a que Glória, interpretada pela atriz America Ferrera, efetua um monólogo magnífico sobre a sociedade machista ainda vigente em nosso século XXI, um câncer a ser extirpado de nossa sociedade. E ela diz:
“É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda, tão inteligente, e me mata ver que não se acha boa, o suficiente. Tipo, temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre agindo errado. Você tem que ser magra, mas não muito magra. Você nunca pode dizer que quer ser magra. Você tem que dizer que quer ser saudável, mas também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não peça dinheiro que isso é grosseiro. Você tem que ser uma chefa, mas não pode ser má. Você tem que liderar, mas não pode esmagar as ideias de outras pessoas. Você deveria amar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo todo. Você tem que ser uma mulher de carreira, mas também estar sempre cuidando de outras pessoas. Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, o que é insano, mas se você apontar isso, você é acusada de reclamar. Você deveria ficar bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de tentá-los demais ou ameaçar outras mulheres, porque deveria fazer parte da sororidade. Mas sempre se destaque e sempre seja grata. Mas nunca se esqueça de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca deve envelhecer, nunca ser rude, nunca se exibir, nunca ser egoísta, nunca cair, nunca falhar, nunca demonstrar medo, nunca sair da linha. É muito difícil! É muito contraditório e ninguém te dá uma medalha por isso ou agradece! E acontece que na verdade não só você está fazendo tudo errado, mas também tudo é culpa sua. Estou cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se amarrando para que as pessoas gostem de nós. E se tudo isso também é verdade para uma boneca que representa apenas mulheres, então eu nem sei.”.
O diálogo é lindo, mas peca no final, pois a boneca, embora seja a boneca mais famosa do mundo e a que mais arrecada dinheiro para seus criadores, trata-se de uma boneca! Enquanto estivermos ainda brincando de boneca o mundo real está criando pobres e miseráveis em uma velocidade alucinante.
O filme é muito bem produzido e tem cenas muito bem pensadas. A luta dos Ken entre si. Ken travestido de Menelau lutando por sua Helena, gregos e troianos modernos disputando Helena/ Barbie em um balé muito bem conduzido que mostra toda fragilidade do homem/machista moderno, aquele que ao receber um não da mulher, que até então considerava sua propriedade, vai lá e espanca, agride, mata!
Necessito de outra crônica para falar de nós os Ken/machistas de hoje!
Gostei do filme e o recomendo a quem ainda não assistiu. Mas devemos ser críticos e não esquecer que as mulheres lutaram por um mundo onde elas possam ser respeitadas. As mulheres se emanciparam e criaram o feminismo. A Barbie somente veio junto, pegou carona na luta das mulheres. Ou a Barbie se modifica e se apresenta tal qual uma nova gama de meninas/mulheres que estão modificando a sociedade para melhor ou a Mattel deixa de faturar muito dinheiro.
Barbie se reinventa e assume seu verdadeiro nome Bárbara, uma mulher tal “como todas as mulheres do mundo” para homenagear a saudosa Rita Lee. Bárbara é minha mãe, minha avó, minhas tias, minhas irmãs e primas que nunca tiveram uma Barbie para brincar, ou seja, uma menina mulher de verdade que criam novos mundos e não vivem em caixas cor de rosa.
Uma crítica social no tempo certo. Ótimo filme, vale o ingresso. Se faltou falar dos “Kens”, me perdoem, o espaço é curto, quem sabe o machismo “Kentiano” mereça uma crônica toda sua, certo? Nada prometo, mas vou pensar…
De mais a mais, eu “sou um homem sem poder, isso me faz ser uma mulher?”, divido com vocês a dúvida do Ken, que nos faz pensar. Essa é tão somente uma crônica escrita pela minha ótica do filme. Eu, um homem hétero e medito a besta.
Em tempo, não podia me esquecer de mencionar, ao se tornar Bárbara, sair da caixa e ir procurar a ginecologista, perceberam as cores da roupa que a ex Barbie, ex patricinha e talvez ex fascista estava usando?
Então, como esperei para dizer isso: Chupa Damares!
Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.
Olha isso. Já não vou mais resistir, então. kkkk
Obrigada pela brilhante crítica e oportunidade e saber mais Waldson Almeida.
Parabéns ao Jornal igualmente. <3
F.