Por Waldson de Almeida Dias | OPINIÃO
Hoje me chamaram de Macaco! No dia de ontem também me chamaram de macaco, na verdade todos os dias desde que me conheço por gente tenho sido chamado de Macaco.
O drible, segundo o dicionário, é o ato ou efeito de gingar o corpo controlando a bola com o pé; finta.
O jogador brasileiro de futebol Vinicius Junior, que atua no futebol espanhol pelo Real Madrid, tem sido vítima de racismo. Os torcedores adversários o chamam de “mono”, macaco em espanhol. Na última semana, diante de mais um episódio de racismo, em um jogo de futebol disputado pela “La Liga”, que equivale a primeira divisão do futebol espanhol, na cidade de Valencia, o jogo foi paralisado por vários minutos devido a torcida do Valencia em uníssono chamar Vinicius Júnior de “mono”.
O caso teve repercussão mundial. Muitas pessoas e governos se manifestaram em solidariedade ao atleta brasileiro. Atletas do Real Madrid em partida seguinte entram em campo, todos vestindo a camisa de número 20 em solidariedade ao atleta Vinicius Júnior.
Na oitava rodada do campeonato brasileiro, atletas de todas as equipes e os árbitros entraram com camisas pretas onde estava escrita a frase: “Com Racismo não tem jogo” e após o apito inicial, todos sentaram no gramado por 30 segundos. O protesto foi também em solidariedade ao racismo sofrido por Vinicius Junior.
“O conhecimento da alma humana passa por um campo de futebol.”
Albert Camus
Recebi através das redes sociais, várias cópias de um vídeo que tenta explicar o motivo do racismo contra “Vini Jr.”. O vídeo mostra várias jogadas do atleta sobre seus adversários com dribles simplesmente geniais. Assisti ao vídeo várias vezes e não achei motivo algum para que ele seja o motivo do racismo para com “Vini Jr.”, pelo contrário, é motivo para todos que assistem e inclusive os atletas que foram driblados, para que de pé aplaudam a genialidade do menino homem, do garoto negro brasileiro que é simplesmente genial.
Meu pai me falava que racismo é burrice e que diante da burrice e da ignorância temos que usar a inteligência em um primeiro momento. Era isso que o Dr. Martin Luther King Jr. também pregava. Concordo com ambos, mas lembrei que tanto minha avó paterna e o líder negro estadunidense Malcolm X, também eram defensores do “olho por olho e dente por dente”, ou seja, vamos colocar os racistas nos seus devidos lugares, nos dias de hoje, diante da justiça para que sejam processados, julgados e se condenados cumprir pena.
Diante do vídeo que assisti cheguei a seguinte conclusão: Vinicius Júnior é gênio!
Sim eu sei o que diz o dicionário, que o drible é o ato de gingar o corpo controlando a bola com o pé. Errou o dicionário em sua definição, o drible, em minha, nada modesta opinião, é a genialidade do cérebro comandando o corpo a se manifestar em forma de arte que possa modificar o mundo em que vivemos.
Vini Júnior recebeu uma bola quadrada advinda da ignorância dos racistas. Matou no peito, rolou na grama e fez um gol de placa que abalou o mundo. A genialidade do negro moleque de sorriso aberto e lindo não está nos passos de bailarino espanhol capaz de provocar irá nos melhores bailarinos de Flamenco.
A genialidade de Vini Jr. está no cérebro de um menino homem negro brasileiro que sabe o que é nascer na periferia e agarrar com unhas e dentes a chance que a vida lhe deu de ascender socialmente. Vini Jr. já tem uma fundação que traz educação de qualidade para muitas crianças de periferia no Rio de Janeiro. Eis um drible de craque!
Ele ginga seu corpo, não o faz para se livrar dos racistas ao contrário, ele ginga para cima dos racistas e os enfrenta tal qual Rosa Parks ao dizer “NÃO” aos racistas que a impediam de viajar sentada em lugares que negros não podiam sentar. Gira o corpo e investe em educação para crianças de periferia tal qual Maria Firmina dos Reis, mulher negra que mesmo durante a escravidão aprende a ler e funda uma escola multiétnica para meninos e meninas serem educados; pisa o pé na bola que lhe atende e tal qual Carolina Maria de Jesus que disse ao mundo que a fome tinha cor e que essa cor é amarela, o gênio avisa ao mundo que seu corpo tem cor sim e que essa cor é preta e deve ser respeitada, admirada e amada!
A bola lhe atende em tudo que sua genialidade solicita, e avança colada ao seu pé em meio aos adversários mostrando tal qual Conceição Evaristo sua escrevivência e para isso se utiliza de “canetas” maravilhosamente colocadas entre as pernas dos racistas e ao chutar a bola em gol, não vibra, por que o momento não é de comemorar um gol de placa, simplesmente corre em direção aos torcedores racistas e os identifica, com a coragem de Luther King, com a força de Malcolm X, tipo Pantera Negra e estremece o planeta.
O drible de Vinicius Junior é Drible de gênio e está entre os melhores e maiores expoentes humanos que ganharam o Prêmio Nobre da Paz! Sim é isso mesmo que vocês estão lendo, Vini Jr. ao enfrentar os racistas é alçado à categoria de um dos maiores expoentes da luta pelos direitos humanos no planeta e tenho a nada modesta opinião de lançar seu nome ao prêmio Nobel da Paz de 2023, pois ele acaba de protagonizar o mais belo drible que um atleta já efetuou e esse drible resultou no maior, mais belo e solidário gooolll de placa do planeta.
O drible de Vinicius Júnior contra o racismo é genialidade em forma de amor a humanidade!
Hoje me chamaram de macaco! Mas, agora não estou mais sozinho nessa luta!
Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.
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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Vini Jr está sendo o bode expiatório do expurgo nojento de um povo bem atrasado consciencialmente. Talvez ele seja nesse momento o arquétipo do herói, que tem a representatividade da força que sustenta um mal presente na humanidade através do racismo. Só põe banca quem tem competência. E nada justifica a maldade e nem a negligência por parte das autoridades responsáveis.