Livros, leitura e literatura

O servidor Waldson de Almeida Dias fala sobre livros.

Waldson de Almeida Dias  – OPINIÃO

Existe um ditado popular que diz: “Santo de Casa não faz milagres”; escuto esse ditado desde o ventre de minha mãe e talvez antes até. Quem vai saber? O significado do ditado é que sempre a opinião de quem é de fora vale mais que a opinião de quem é de casa, neste caso específico, a opinião dos habitantes da aldeia em que vivemos não tem sido escutada, não tem validade alguma! Foz do Iguaçu precisa urgentemente escutar as vozes e as escritas de sua população, as vozes escritas!  

No sábado, dia 22 de julho de 2023, convidado que fui, participei de um evento denominado: “I Café & Letras”. Evento que reuniu autores, escritores, grafiteiros, poetas, livreiros e a população amante da cultura do Livro, Leitura e a Literatura da tríplice fronteira. E afirmo que se trata de uma tríplice fronteira, pois haviam escritores de várias cidades da região, hermanos do Paraguai e Argentina. 

 O evento nasceu da cabeça de pessoas que estão preocupadas como a cultura do Livro, Leitura e Literatura estão sendo tratadas na cidade. Pessoas que resolveram promover um ato de amor aos livros e levá-los ao encontro da população. Pessoas que possuem originais de livros guardados na gaveta e não sabem como publicá-los; pessoas que comungam da mesma paixão e que se sentem a margem, se sentem desprestigiados, se sentem sem saber como começar a praticar e fomentar a arte da escrita, divulgar e partilhar o prazer da leitura e da literatura. 

O evento aconteceu na rua Rio Branco, no antigo e oxalá futuro, Calçadão da Rio Branco, bem no centro da cidade, no coração cultural da cidade, bem à frente do sebo Amadeus. A jovem escritora de Foz do Iguaçu Suelen Pessatto, criadora do Clube dos Escritores, e o amigo Mariano Amadeus foram os articuladores desse evento em que os escritores, pensadores, expoentes das artes escritas e grafitadas foram para rua e receberam o público. Um público havido não somente em adquirir os trabalhos expostos, mas sim por interagir com seus autores. Conhecê-los melhor, quem são? De onde vem? Como começaram a escrever, grafitar…? Qual o tema de seus trabalhos? Como nasceu as paixões de cada um pelos livros, pela leitura e claro por uma literatura emancipadora, evolvente, apaixonante, emocionante e de ótima qualidade. 

“Pessoas vem e vão, olhares curiosos, o que chama atenção? Os trabalhos que estão expostos! Vivências diferentes unidas por uma paixão, ao pegar um livro ou lápis na mão! Sentimentos no papel, saindo ao escrever histórias, vida, cordel. Que a gente vê nascer!”   (Elisia Buche) 

Eu era mais um entre tantos!  

Mas, “eis que de repente, não mais que de repente”, tal qual nos falava o grande poetinha Vinicius de Moraes, olhei aquele pedaço de rua, em um sábado à tarde de inverno, cuja a temperatura estava ótima e convidativa a sentar na calçada, na rua sem trânsito algum, a carrocinha de pipoca a oferece a doce e a salgada explosão de milho, comes e bebes no interior do sebo Amadeus e as estrelas da festa expostas ao alcance das mãos de todos: eles, os livros! 

Diante de tão bela e cultural imagem viajei no tempo! Há precisos dezoito anos, quando juntamente com um grupo de amigos tivemos a feliz e maravilhosa ideia de criar a “Primeira Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu”. Parceria entre o Centro de Altos Estudos da Consciência – CEAEC e da Prefeitura Municipal / Fundação Cultural a feira do livro de Foz nasceu! E nasceu em praça pública, no centro da cidade, ao alcance de toda população angariando um gigantesco sucesso! 

Tive a honra e o privilégio de ser um dos coordenadores da “I Feira Internacional do Livro de Foz” e depois de muito estudo e pesquisa séria decidimos que o local seria na praça das nações no centro da cidade. Todo artista tem que ir onde o povo está e nada melhor que a feira ser feita em praça pública, na rua, ao alcance de toda população. 

 A praça das nações é muito mais conhecida pelo seu apelido que pelo nome oficial, ou seja, praça do colégio Bartolomeu Mitre, ou simplesmente praça do Mitre, que teve a honra de abrigar edições históricas da Feira, sucesso total de público, critica e comercialização de livros, além de receber personalidades ilustres. 

Em dado momento, depois de várias e exitosas edições a praça, casa da feira morreu! Sim, mataram a praça colocando um chafariz deleite dos mosquitos da dengue e umas madeiras que decretaram a expulsão da feira do livro daquele local democraticamente ideal para o encontro entre população e os livros. 

Tal qual todo expropriado, a feira ficou sem moradia fixa, andou por onde lhe dessem guarita, inicialmente foi habitar à Frente da Fundação Cultural, entidade que passou a ser a responsável por sua existência, crescimento e “talvez funeral”. Não pode ficar habitando à frente da Fundação Cultural e então foi aprisionada dentro de um shopping center da cidade, onde atrás das grades, luzes frias e vitrinas de todos os tipos, menos livros, pensou que iria morrer sem voltar a ver a luz do dia e a população nas ruas a aplaudir o livros, os escritores e os amantes dos livros, da leitura e da literatura. A época escrevi uma carta aberta pedindo que não matassem a feira, tal qual essa crônica que também é uma visão minha de que ela, nesse momento se encontra na UTI! 

A Feira resistiu ao shopping e hoje agoniza dentro do Gresfi! Em minha, nada modesta, opinião, o Gresfi não é lugar para a Feira do Livro de Foz do Iguaçu e posso escrever uma crônica somente mencionando o porquê o local é ruim, aja visto que desde que foi residir a força nesse local, a feira vem perdendo prestígio e público e consequentemente a admiração dos grandes escritores brasileiros. Já tivemos tempos melhores! E não se trata de uma crítica a pessoas e sim ao contexto geral de como as coisas são decididas e implantadas, ou seja, precisamos pensar grande, pois já fomos a melhor feira de livros do Paraná e respeitados e admirados por grandes escritores! 

Retorno ao momento presente e vejo que o “I Café & Letras” de uma certa maneira é um apelo dos livros através de seus agentes solicitando que a cidade os adote novamente, tal qual nos diz a poetiza Elisia Buche, presente no evento: “É tão gratificante ver nosso trabalho encantando, visto a cada instante, pessoas se admirando! É isto, estou muito grata, por essa oportunidade. Espero mais momentos como esse, no meio de tantas idades”.  

No meio de tantas idades, sim, tinha de crianças de colo a senhores e senhoras de oitenta anos presentes no evento, se isso não quer dizer nada, se esse fato não faz despertar a atenção de todos nós moradores e apreciadores da educação e da cultura na cidade, algo está errado! 

A rua Rio Branco no centro da cidade é o local ideal para uma nova e decisiva morada da Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu. Tudo em seu entorno respira a cultura popular da cidade. Querem humanizar o centro de Foz? Tragam os livros para rua, retirem a feira do livro da prisão e a deixem crescer e se apossar do centro da cidade e das mentes e corações dos iguaçuenses e seus visitantes, pois “com a liberdade, livros, flores e a lua, quem poderia não ser feliz?”, nos pergunta Oscar Wilde e eu acrescentaria e o sol da cidade das águas. 

O evento nasceu da cabeça de pessoas que estão preocupadas como a cultura do livro, leitura e literatura estão sendo tratadas na cidade. Foto: Divulgação.

O Brasil vive um dos seus melhores momentos em se tratando de possuir grandes autores e autoras, de uma produção de livro fantástica sem falar na comercialização dos mesmos que somente no ano de 2022 vendeu mais de 55 milhões de livros, tendo o autor baiano Itamar Vieira Junior como o grande vencedor de prêmios literários no Brasil e exterior. A maior e mais festejada feira de livro a céu aberto no Brasil, a FLIP – Feira Literária de Parati, não somente atrai turistas e amantes da literatura do Brasil todo e do mundo, como a cidade e a população ganham acesso a programas culturais e educacionais.  

Com isso não quero dizer que somente as pessoas a frente da cultura da cidade tem que repensar e sim as pessoas a frente da educação também. Como está o fomento a leitura de nossas crianças e jovens? Onde estão os novos Itamar Vieira Junior que podem levar o nome da cidade ao Brasil e ao Mundo? Nossos professores possuem acesso aos livros? Estão lendo? 

A feira do livro de Foz do Iguaçu tem uma característica de homenagear a cada edição um grande expoente da literatura, dos livros, sempre um grande e importante autor, seja ele vivo ou morto! 

Proponho que se crie paralelo a homenagem de um grande autor nacional e ou internacional, sempre a homenagem a um autor local, um autor que resida ou tenha residido na cidade de Foz do Iguaçu. Uma pequena gigante homenagem a esse pessoal que luta para que os livros sobrevivam e possam nos trazer em suas folhas, ou até mesmo no formato digital os diferentes sentimentos que eles, os livros nos proporcionam. 

Será uma grande homenagem aos amigos do clube dos escritores, ao pessoal do espaço cultural “Quixote”, ao pessoal que mensalmente nos brinda com “O Foguete”, que também nesse sábado fizeram mais um grande e concorrido lançamento de suas escritas e a todos os escritores de Foz do Iguaçu, verdadeiros heróis da resistência. 

Em tempo, nessa terça-feira, dia 25 de julho comemoramos o dia do escritor! Feliz dia a todos nós, pois quem nos lê, também nos ajuda a escrever! 

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu. 

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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ. 

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2 Comentários
  1. Rafael Sanches Diz

    Parabéns Waldson, excelente abordagem e sensibilidade para tocar no assunto.

  2. Antonio Carlito de Oliveira Leitor Diz

    Quem ler vai mais longe e seguro.

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