Glocal: Ensino, Mulheres… Paz!

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre Narges Mohammadi e o Prêmio Nobel da Paz.

 Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO

SEMANA de ensino e aprendizagem! Não que eu tenha ensinado, mas sim, fiquei aberto para aprender cada vez mais. E aprendi que é na luta que realmente nos encontramos todos. Uma luta que nem sempre é justa, uma luta que nem sempre os que até ontem estavam do nosso lado e tinham os mesmos pensamentos tem a coragem de continuar a defender a mesma causa e se vendem por trinta moedas. Uma luta que nem sempre vence que é o ‘mocinho’, pois muitas o ‘vilão’, tem mais adeptos, dinheiro e capacidade nociva.

GLOCAL” é um neologismo formado a partir das palavras “Global” e “Local”. Glocalização nos apresenta a dimensão local na produção de um mundo global. Mesmo que ao chegarmos em casa, depois de um dia estafante de lutas, achando que de nada adiantou ficarmos em frente a prefeitura de nossa cidade lutando por direitos já adquiridos pela categoria e que nos tem sido negado há tempos, lutando por respeito e dignidade e não sermos atendidos. Mesmo que tenhamos perdido a esperança na luta, nossas ações já repercutiram de maneira global, pois ousamos agir localmente. E é essa ação que faz a diferença, primeiro em nosso interior, em nosso ser, posteriormente gera uma energia que somada a mais uma energia e a mais uma…que em determinado momento faz a diferença e cria a mudança que todos necessitamos, que todos esperamos.

Manuel Castells, sociólogo e professor espanhol definiu o ‘local’, como todos “nós” que contribuímos acrescentando ao fluxo, seja ele econômico, social e de vida, valores que podem fazer uma diferença para melhor, do presente para o futuro. Já a formação do ‘glocal’, segundo o sociólogo Roland Robertson tem o mérito de restituir a globalização sua realidade multidimensional.

Aqui na província, agindo localmente eu vi uma categoria de trabalhadores, a mesma que ao longo do tempo precisa se humilhar perante os donos do poder, para exercer com o mínimo de qualidade e dignidade o ofício de ensinar as novas gerações a história do passado, a sociologia do  presente e os elementos que podem nos ajudar a efetuar um futuro melhor.

Os professores de minha comunidade, em sua maioria mulheres efetuaram uma paralização em busca de qualidade de vida, de melhores condições de trabalho e principalmente de serem tratadas com dignidade para que também possam ensinar seus discípulos a criarem um futuro digno para todos. Elas as mulheres se fizeram escutar, uma ação local cuja a repercussão nem mesmo elas sabem onde pode chegar diante da energia gerada por consciências em busca do melhor para o futuro através de si, sem medo de consequências.

Enquanto isso, do outro lado do planeta, em uma cela de prisão, outra mulher, Narges Mohammadi, que agindo localmente, soprou um ventinho que foi ganhando ares de vendaval e precisamente no dia 6 de outubro de 2023 se transformou em um tsunami global, quando o Comitê Norueguês do Nobel, lhe conferiu o prêmio Nobel da Paz de 2023!

Narges Mohammadi, jornalista, ativista dos direitos humanos no Irã, foi condenada a 16 anos de prisão no ano de 2016, pelo fato de lutar contra a opressão imposta pelo regime do Irã ao modo de como as mulheres são oprimidas e pôr dirigir um movimento de direitos humanos que faz campanha  pela abolição  da pena de morte no Irã. Meu pai costumava dizer que a fruta nunca cai longe do pé, um ditado, que significa dizer que o ótimo mestre faz discípulos ainda melhores. Mohammadi é discipula da também laureada com o Prêmio Nobel da Paz, a iraniana Shirin Ebadi. Grandes mestres ensinam seus discípulos a serem ainda melhores, sem medo das consequências que pode advir da luta pela dignidade da pessoa humana.

“Pensamentos e sonhos não morrem. A crença na liberdade e na justiça não perece com a prisão, a tortura ou mesmo a morte. A tirania não prevalece sobre a liberdade.”                                          (Narges Mohammadi)

Essa não é a primeira vez que uma mulher ganha o prêmio Nobel da Paz estando privada de sua liberdade. A birmanesa Aung San Suu Kyi, foi ganhadora do prêmio Nobel da Paz no ano de 1991 e não pode comparecer na entrega por estar encarcerada na Birmânia, devido a sua luta pelos direitos humanos.

Katalin Karikó, bioquímica húngara especialista em mecanismo mediado por ‘RNA’ – (Ácido Ribonucleico), acreditou profundamente que sua pesquisa estava no caminho certo, mesmo diante de todos os maiores cientistas mundiais dizerem que estava errada, sendo rebaixada do cargo que ocupava devido ao fato de sua pesquisa ser desacreditada por seus pares. Recebeu o diagnóstico de câncer, que começou a tratar sem desistir de sua pesquisa.

O trabalho de Karikó, através da pesquisa mediada por RNA lhes permitiram efetuar patentes para aplicação de RNA não imunológico. Ela não desistiu de suas pesquisas e ao conhecer por “acaso” o cientista Drew Weissman, começaram a desenvolver as referidas pesquisas de Karikó de maneira conjunta. O resultado foi que ambos ganharam o prêmio Nobel de Medicina de 2023, simplesmente devido ao fato que as pesquisas de Karikó com o ‘RNA’, segundo o Comitê Norueguês do Nobel “foram vitais para o desenvolvimento da tecnologia que culminou nas vacinas contra a covid-19 das farmacêuticas Pfizer e Moderna”. Ou seja, ela venceu a Covid!

De um simples olhar em um grupo de professoras acampadas na frente de uma Prefeitura em uma rua aqui no quintal de casa, a uma prisão no Irã ou um laboratório de pesquisa os ensinamentos, a luta e a força de vontade delas se faz presente.

Elas são mães, namoradas, noivas, esposas, professoras, ativistas, cientistas e mesmo assim, sendo múltiplas ainda são discriminadas, mal interpretadas e não levadas a sério. Mas são elas que cada vez mais tem feito a diferença no local, na escola de nossas crianças, na preparação de nossos jovens, que daqui a pouco vão estar agindo no global.

Semana em que elas continuam cada vez mais nos ensinando e nos mostrando o caminho para termos um mundo melhor. De uma maneira ou de outra elas nos ensinam, com suas posturas em lutar pela valorização do ensino, em lutar pela vida contra a pena de morte, pelas lágrimas derramadas ao terem optado pela decisão correta diante das incoerências.

Semana em que a voz, o sorriso e as lágrimas nos ensinam muito, principalmente a pensar no que devemos valorizar. Enquanto Rebeca Andrade e Flávia Saraiva sobem ao podium e são só sorrisos diante da dobradinha brasileira, as mães israelenses e palestinas vertem lágrimas pela morte de seus filhos…e o planeta segue girando no universo sem fim…

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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1 comentário
  1. Herika Quinaglia Diz

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