Por Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO
INSENSÍVEL! Não sou! Sou um escritor, um pensador e procuro ver, pensar e contar histórias tal qual elas acontecem! Sou gaúcho, assim chamado porque nasci no estado do Rio Grande do Sul, estado que está no centro dos ciclones extratropicais, que causaram morte e devastação, trazendo ao estado a maior tragédia natural das últimas quatro décadas.
Assisto a tudo no conforto de minha casa pela tela da televisão. Pessoas choram a perda de seus móveis, de suas casas, de seus familiares. As imagens são tristes e ao mesmo tempo espantosas. Uma vaca foi parar em cima de uma casa; uma ovelha pendurada nos fios da rede elétrica, lama por toda parte, pontes desabando e a força da correnteza destruindo e matando quase tudo que esteja no seu caminho de deslocamento.
A violência do rio agindo sobre as cidades é diretamente proporcional a força com que as chuvas provocadas pelo ciclone extratropical chegaram no estado gaúcho que por sua vez também é diretamente proporcional a rapidez e ignorância que nós, seres ditos humanos, poluímos o planeta, deterioramos a mãe natureza e assolamos as margens que aprisionam os rios a tal ponto delas não cumprirem seu papel de serem apenas margens de um rio. Elas se tornam depósito de lixo, de entulho que em certos pontos o rio se torna apenas um fiapo de água a escorrer em meio ao lixo que nós seres humanos jogamos dentro da água. Nós somos os geradores dessa tragédia anunciada que nos destrói e nos mata!
“Todo mundo chama de violento a um rio turbulento, mas ninguém se lembra de chamar de violentas as margens que o aprisionam.” (Bertolt Brecht)
As lágrimas que vejo pela televisão, choradas pelos seres humanos que tudo perderam, choradas pelos seres humanos que ainda possuem consciência e sentimentos, são águas que emanam dos olhos de quem até ontem talvez nem se preocupasse com o aumento da temperatura do planeta, com a poluição dos rios e as hidroelétricas que foram construídas para represar as águas e gerar eletricidade e que são abertas quando a vasão de água é maior que a sua capacidade de retê-las.
Mãe terra chora se defendendo; mãe terra brada e derrama copiosamente suas lágrimas em um apelo alucinante de maneira a encher os lagos, mares e rios e assim fazer se ver e ouvir: vocês estão acabando com toda a vida! Nós estamos acabando com nossa casa maior que é o planeta terra, pois ao permitirmos que o processo de degradação do planeta aconteça, agimos como se fossemos suicidas.
Tal como diz a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, “Todo o Problema dos outros é um problema nosso e todo problema nosso é um problema dos outros”. Assim deveria ser, penso eu e complementaria, que estes outros englobam os habitantes dos reinos mineral, animal e vegetal, pois o planeta pertence a todos.
Os meses de junho, julho e agosto de 2023, foram os meses mais quentes desde que a espécie homo sapiens surgiu neste planeta chamado terra. Um recorde pelo qual nós membros dessa espécie que destrói com sua “inteligência” a própria casa em que vive, não devemos nos orgulhar nem um pouco.
A Organização das Nações Unidas – ONU – através de seu Secretário Geral, António Guterres, neste mês de setembro de 2023, afirmou que o Colapso Climático, já começou! O calor extremo nos Estados Unidos e Europa tem causado mortes, devastações através de incêndios em certos locais e chuvas torrenciais em outras localidades. No hemisfério norte, onde neste momento é verão, o risco de insolação e desidratação é o maior de todos os tempos colocando em alerta todo um sistema de saúde pública. No Marrocos a terra treme, os prédios são destruídos e os mortos são muitos…muitos…muitos!
O relatório das Nações Unidas que apontou o começo do Colapso Climático, afirma que ainda temos chances de salvar o planeta, mas somente se medidas radicais e urgentes forem colocadas em prática pelas autoridades mundiais. O relatório da ONU mostra o problema e também aponta a saída. Os governantes mundiais tem que se livrar dos combustíveis fósseis, acabar com os desmatamentos, principalmente aqui em nosso quintal: Amazônia!
O planeta terra não pode aquecer acima de 1,5° graus até o final do século, para que isso aconteça as emissões globais de carbono devem cair pela metade até o ano de 2030 e um índice de 99% até o ano de 2050.
Temos que diminuir as emissões de gases que causam o efeito estufa, inclusive na produção de alimentos, pois são eles que estão causando o crescimento do aquecimento global que por sua vez traz um aumento significativo nos efeitos climáticos extremos.
As estações do ano não são mais as mesmas de anos anteriores onde tínhamos delimitados o tempo em que cada uma imperava. Primavera, verão, outono e inverno, nos dias atuais passaram a ser uma incógnita, pois a mudança climática que tem gerado o aumento da temperatura do planeta está criando uma estação única: estação do caos!
O que acontece com a Amazônia repercute em todo o planeta, pois ela é o pulmão do mundo. Seus efeitos nocivos começam em casa mesmo, pois segundo a fala da Ministra Marina Silva, “…nenhum fenômeno acontece de mão única! Amazônia sozinha é responsável por 75% do PIB (Produto Interno Bruto) da América do Sul, simplesmente pela sua produção de chuva. A Amazônia é inteiramente generosa e presta um serviço para todos, pois ela tem sua responsabilidade para com o equilíbrio do planeta. A Amazônia é responsável por 20% da água doce que vai para os oceanos, uma produção na ordem de vinte bilhões de toneladas de água por dia”. Recomendo que escutem a brilhante fala da Ministra no Podcast Mano-a-Mano que está na plataforma de áudio Spotify.
A demarcação das terras indígenas está diretamente ligada a preservação da floresta, pois eles, os reais donos da terra Brasilis, sabem conservar a floresta e tem a receita para salvar este corpo doente que se chama terra.
Insensível! Eu? Não! Apenas percebo que tudo está interligado. O efeito borboleta existe, ou seja, o simples bater de asas de uma borboleta antes de morrer nas queimadas na Amazônia, no Pantanal, pode ocasionar um ciclone extratropical no Rio Grande do Sul ou a terra tremer no Marrocos. O efeito borboleta é a interpretação através de uma metáfora para o estudo de comportamento de sistemas caóticos, tal qual foi exposto pelo meteorologista, matemático e filósofo estadunidense, Edward Norton, em 1969 no encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
O The Day After, o dia seguinte, narrado no filme estadunidense de 1983 que mostra o planeta terra após uma guerra nuclear impactou sobre maneira a sociedade mundial no sentido de mostrar a devastação da vida humana. Agora estamos a um passo de um “The Day After” em sequências, ou seja, não sabemos como será o dia de amanhã e depois de amanhã e se teremos o depois de amanhã, pois o comportamento do tempo e temperatura no planeta já saiu do controle.
Hoje somos solidários com aqueles que perderam tudo que tinham, com aqueles que perderam familiares. Amanhã talvez a solidariedade venha em nosso socorro, em meu socorro. Está na hora de todos, sem exceção sermos egoístas, ou seja, é a hora de sermos solidários para com o planeta, de pensarmos em salvar o planeta e assim salvarmos a todos nós. Um egoísmo que será bem-vindo! Pois pensando em nós, em nossas vidas, saberemos como salvar o planeta!
Minha solidariedade ao meu estado natal! “Levanta gaúcho, todos precisam andar, o minuano está chamando e o Rio Grande precisa escutar”.
Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Adelar Guilherme Matté, adelarguilhermematte@gmail.com
O autor do texto, se fixa na deterioração do planeta e não leva em conta o crescimento populacional e as necessidades desta mesma população para concluir o seu ciclo de vida.