Cegos e Doentes

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre a quantidade de óticas e farmácias em Foz do Iguaçu.

 Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO

A CIDADE de Foz do Iguaçu está repleta de problemas, basta caminhar em suas ruas e avenidas sem o conforto do ar-condicionado dos automóveis que vamos percebendo os problemas de ordem estrutural, social, ambiental etc.

           

Não que a pessoa que está no conforto de seus automóveis não perceba, pelo contrário, pode muito bem acrescentar a lista já extensa. Mas, é ano de eleições e com ele, o ano, além da “la niña” que pode chegar nos próximos meses modificando o clima de forno ligado no máximo, temos os candidatos, candidatas e candidxs chegando com seus “blá,blá,blá,blá”, previamente decorado prometendo de tudo um pouco, de colocar uma redoma na cidade com ar-condicionado central ao transformar o rio Iguaçu em mar, quem duvidar é porque nãos os conhece!

           

Mas ao andar por nossa cidade cheguei à conclusão de que todos nós e eu me incluo junto, somos habitantes de uma cidade de cegos e doentes! Eu que sempre admirei e continuo admirando o escritor português José Saramago e que já li mais de uma vez e logo vou retornar a ler seu valioso livro “Ensaio sobre a Cegueira”, se vivo fosse teria em nosso solo material de sobra para fazer a continuação de seu premiado livro, em todos os sentidos. Concordam comigo?

           

Então vou explicar. Os prédios comerciais existentes em nossa cidade e os que estão sendo construídos em cem por cento (100%), abrigam estabelecimentos de ÓTICAS ou de FÁRMACIAS! Diante do que vejo, chego à conclusão que somos uma população com a visão prejudicada, quase cegos, míopes ou cegos que não vem que as farmácias chegam estar uma do lado da outra, nomes diferentes, mas com os mesmos remédios que os médicos estão a nos receitar para ou tratarmos nossa visão ou nossa capacidade de gastar dinheiro a mais quando entramos nas farmácias, pois somente falta elas venderem carne e ovos.

           

Recentemente vi uma frase, cujo autor desconheço, mas de antemão já o parabenizo por sintetizar em sua frase o nosso gigante problema real, ou seja: “Uma farmácia em cada esquina não é capaz de curar uma sociedade doente”. Aí! Essa frase doeu aqui no meu interior. Uma pequena pausar, por favor… vou tomar um remedinho para vergonha, sem contraindicações.

“Se queres ser cego, sê-lo-ás.”

                           (José Saramago)

           

Refeito, continuo a escrita, mas já solicitando a compreensão de todos vocês caso algum erro ortográfico passe despercebido, pois meus óculos estão vencidos e como estou com pouco no bolso estou esperando eles oferecerem de graça para adquirir um. Sim de graça, pois as óticas agora inovaram em seus nomes. Tem a tudo por R$ 99,00, tem outra por R$ 59,00 e assim vai, acredito que logo este objeto que nos ajuda a ver, mas não nos permite enxergar o que vemos sairá totalmente de graça e pelo simples fato que com ou sem óculos não estamos enxergando um palmo a nossa frente… veja os moradores de rua, mas isso é assunto para próxima semana.

           

Estudo recente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou que existe no Brasil cinco farmácias para cada dez mil habitantes. Perfazendo um total de quase cem mil estabelecimentos. É o país ainda está doente e cego, isso se percebe quando alguns deputados, por não estarem bem de visão, apertaram o botão errado e deram votos para libertar o mandante do assassinato de Marielle e Anderson. Gente, só pode ter sido visão subnormal, vocês concordam comigo? O que mais poderia ser…

           

O que mais me assustou nesse estudo é que a região sul, onde estamos inseridos o gasto mensal em farmácias é de R$ 427,00 por habitante. Isso aqueles que possuem este valor para pagar, ou em espécie, cartão ou pix. Uma cidade doente, um país doente enriquece alguns muitos. O paliativo para o corpo é comprado pela população, mas em se tratando de sociedade continuamos doente.

           

Mas não paramos por aí, somos sedentários, não queremos caminhar. O estudo afirma que a concentração de várias farmácias e quem sabe as óticas seguem a mesma orientação, umas ao lado das outras tem muito a ver com o fato de o cliente sempre ir à que está mais próxima. Ou seja, daqui a pouco vai ter uma farmácia ao lado da casa de cada cidadão, não precisando mais da tele entrega.

           

Mas, não se iludam caros leitores, praticamente todas as marcas de farmácias possuem suas razões sociais na bolsa de valores, ou seja, comercializam ações tendo marcas que faturam mais de R$ 50 bilhões de reais por ano! Escrevi certo o valor…já volto vou tomar um calmante!

           

Desculpe a demora, não tinha calmante em casa e tive que ir à farmácia mais próxima comprar e chegando lá percebi que havia esquecido meus óculos “hahaha”, mas desta vez não gastei com ótica, tinha óculos para vender na farmácia.

           

Não podemos esquecer que a lei nº 13.021 de setembro de 2014 transformou as farmácias e drogarias em unidade de assistência à saúde. Lei que alterou a denominação anterior que limitava as farmácias a serem tão somente estabelecimentos comerciais.

           

Estava me preparando para finalizar está crônica lembrando dos tempos passado, quando escrevíamos farmácia com “PH”, não havia uma farmácia em cada esquina e os preços dos medicamentos eram mais em conta, mas resolvi deixar o passado em seu devido lugar e lembrar do presente.

           

Recentemente nos meses de janeiro e fevereiros de 2024 estive em Cuba, onde a medicina é bastante avançada, com um número bastante considerável de médicos por habitante, mas faltam remédios. As farmácias ainda com aqueles vidros de remédios grandes, sem a concorrência de três quatro a cada quadra, mas nos lugares já há muito tempo definido comercializam o pouco que possuem, mas antes te dizem em uma conversa animada, não de farmacêutico para cliente, ou de caixa registradora para o bolso, mas sim de farmacêuticos para amigos, vizinhos e irmãos, que tal planta, tal chá ainda pode ajudar na desordem do estômago, na dor de cabeça, ou um simples e caloroso abraço que pode curar o problema da tristeza ou até mesmo de um começo de depressão.

           

Claro que esse romantismo que descrevi não basta, tanto que eles precisam de remédios que eles não podem produzir devido à falta de insumos que o embargo estadunidense criminosamente impede de chegar à ilha. Mas, eles continuam vivendo e fazendo uma ciência de alto nível.

           

Em Cuba, senti um desconforto em meu corpo, custei a entender que estava sofrendo de uma dose forte de qualidade de vida. Os sintomas foram andar calmamente sem medo de ser assaltado, mesmo durante a madrugada; água salgada e areia nos pés; ar puro sem poluição; amizades leais e sem interesse; música de boa qualidade e com letras edificantes; livros baratos e alta qualidade e seres humanos nas ruas.

           

Em cuba existem poucas óticas por habitantes. Meu colega comprou óculos, cujos os valores foram infinitamente menores que aqui no Brasil. Comprou porque gostou do preço, pois eu não o vi usar uma vez, não precisou, pois, ele estava enxergando além do olhar. Me disse que estava trazendo para usar aqui no Brasil, aqui precisamos.

           

Eu, apenas comprei uma bengala, não que futuramente precise usar para desviar dos obstáculos à frente, mas sim para me defender de quando quiserem adentrar em minha casa para transformá-la em uma ótica ou em uma farmácia. Vivemos em uma sociedade doente, onde a cegueira de vermos, mas não enxergarmos é a maior das doenças que nos acomete.

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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2 Comentários
  1. Jorge Aureo Diz

    Um texto bastante interessante.
    A contribuição que deixo refere-se a comentar que Farmácia, hoje, não é só venda de medicamento. Tem uma área importante de produtos de beleza, de higiene, de suplementos, enfim uma infinidade de outros itens não vinculados à saúde biologica. Nãoas vejo como um sintoma de doença. .

  2. Deolinda Diz

    Muito bom texto ???

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