Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO
NASCI cinco meses antes do golpe militar de 1964 perpetrado no Brasil! Sim foi um golpe militar! Estudei e me formei em minha primeira graduação, ainda sob o regime ditatorial no Brasil! E sou totalmente contra as chamadas Escolas Cívico-Militares que nos últimos anos foram criadas através de decreto por um governo genocida.
Disciplina militar não é educação! Confundir alhos com bugalhos pode criar uma geração totalmente distante de uma educação emancipadora e libertadora. Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Data Folha e do Centro de Pesquisa da Unicamp, 72% dos brasileiros confiam mais nos professores que nos militares para trabalharem com seus filhos nas escolas.
Nos últimos tempos se fala muito em doutrinação, que muitos professores doutrinam seus alunos, principalmente os chamados professores comunistas e ou de esquerda. Ensinar a ler e escrever vai muito mais além do que ensinar a escrever seu nome e saber ler o que está escrito, passa pela interpretação de um texto e fazer associação de ideias entre o texto lido e muitas outras possibilidades que o referido texto nos mostra, inclusive saber refutar o que está escrito. Há isso eu chamo ensinar a pensar!
E pensar é algo que este país está precisando com muita urgência, pois estamos vivendo em um momento de faz de conta, um momento de “Ctrl+C” e o “Ctrl+V”, ou seja, de copiar e colar, é mais fácil repetir que nem papagaio o que ouviu ser falado pelo ignorante do lado, porque ele é respeitado; é admirado no clube, na igreja, na família, do que parar para estudar, pensar e emitir um juízo crítico, após uma boa reflexão e varias leituras que tenham fundamento.
Disciplina, respeito, vem de berço. Eu escutava muito essa frase quando criança. Na escola havia a disciplina de Educação Moral e Cívica, enquanto éramos doutrinados por essa disciplina, estudantes eram assassinados no Brasil por discordar de um golpe militar que retirava a democracia da vida dos brasileiros. Quem doutrinou ontem não foram os professores e sim um governo ilegitimamente no poder, talvez aí resida o medo de que os alunos de hoje sejam ensinados a pensar.
“Há soldados armados, amados ou não. Quase todos perdidos de armas na mão.” (Geraldo Vandré)
O relato dos anos de chumbo está escrito no livro “Brasil Nunca Mais”. Um livro escrito através de um projeto que envolveu o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o Rabino Henry Sobel, o Pastor Presbiteriano Jaime Wright e uma grande equipe, documento necessário a ser ensinado nas escolas e universidades brasileiras para que todos saibam, para que nunca mais aconteça. Mas, infelizmente as forças sombrias que ainda atuam em solo brasileiro fazem de tudo para que as novas gerações não estudem a fundo o país em que vivem. Paralelo a isso, na semana que passou tive a oportunidade de ler na revista “Isto É Dinheiro” a opinião de seu Redator chefe, Edson Rossi escreve o seguinte:
“Saber que as Forças Armadas brasileiras se incluem na rara categoria global de ter matado mais patriotas que estrangeiros mostra a sua gênese. Em Seus 200 anos, o Exército lista mais batalhas contra brasileiros. Doideira né? Matou nas revoltas todas. Sul. Maranhão. Bahia. Pernambuco. Matou em Canudos. Matou em 1932. Matou na ditadura. Matou em Volta Redonda. Metralhou no Rio. Matar brasileiros parece ser a sina dessa instituição”.
Chamo atenção para que leiam na íntegra sua coluna e comungo com sua fala também quando ele diz que está na hora desse país trocar militares por professores comprometidos com um ensino de qualidade e que realmente ensinem muito além do que aprender a ler e sim interpretar e ter opiniões que avancem além das “fake news” que assolam o país.
Investir nos professores lhes proporcionando salários dignos, acesso aos melhores livros e materiais atualizados para que possam estarem sempre atualizados com os melhores métodos de ensino técnico e científico do planeta. É urgente a valorização do professor lhes devolvendo o respeito por parte do governo, pois são os únicos capazes de nos ensinar e nos direcionar na construção de um mundo melhor. Vejam que falei em direcionar e não em “doutrinar”.
Direcionar pressupõe apontar caminhos e deixar por conta do aluno, do aprendiz escolher o caminho que lhe convier. Quem é de humanas seguirá nessa direção; aos que preferem as exatas outros que sejam exatos em suas escolhas; aos artistas as artes. E assim lembro de uma frase que proferi em meu discurso de formatura ainda no século passado:
“Sou um técnico, mas somente usarei a técnica dentro da técnica, fora dela, sou uma pessoa culta e tenho necessidade em ser”.
Não somos máquinas programadas para dizer sim senhor, não senhor. Somos seres humanos, aprendemos uns com os outros na troca, na permuta de conhecimentos e não recebendo uma disciplina rígida que destrói a criatividade, que deteriora os sentimentos, que fuzila o humano que ainda existe em nós.
O governo federal está colocando um ponto final neste programa de escolas cívico militares. Mas a hidra possui algumas cabeças que resistem, se debatem para se manter vivas. Paraná e Rio Grande do Sul são exemplos de cabeças da hidra que querem manter este nefasto programa. É preciso que lhes mostrem que o mundo mudou, que as relações sociais mudaram.
As forças que nos trouxeram até esse momento já fizeram muito estrago nas pessoas e são as pessoas que fazem o país, portanto, está na hora de cada um cumprir o papel para que foram criados, ou seja: lugar de militar é na caserna sendo treinados para manter a ordem pública e zelar pelos cidadãos. Lugar de professor é em sala de aula, ensinando com qualidade, para que tenhamos cada vez mais um povo culto e educado, a ponto de em um futuro não muito distante possamos fechar as prisões e em seus lugares abrirmos cada vez mais bibliotecas.
Não as escolas cívico-militares! Esse Brasil, nunca mais!
Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.
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Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Não as escolas Cívico Militares!!! Esse Brasil nunca mais…. Gratidão pelas palavras!! Como brasileira e professora te agradeço por relatar de forma tão própria o que somos e o que qremos e devemos fazer.